O beiradão é mais do que um ritmo musical genuinamente amazonense. É um movimento existente nos interiores do Estado, nos beiradões, que acontece, geralmente, durante as festividades religiosas, com torneios de futebol, missa na igrejinha seguida de procissão, e as festas, antigamente bailes, que têm hora apenas para começar, mas não para acabar, festas com músicas dançantes e contagiantes, que já tiveram todo tipo de instrumentos, banjo, pandeiro, violino, percussão, acordeon, mas o que não pode faltar, e que caracteriza o ritmo, o saxofone, ou sax.
Quem não se lembra do sax de Teixeira de Manaus que, a partir de 1980, popularizou o beiradão, em Manaus? Antes dele, porém, na década de 1970, Chico Caju, Magalhães da Guitarra, Chiquinho Davi, Sargento Rafí, Antônio do Norte, entre outros, eram sucesso garantido onde chegavam, alguns deles, guitarristas.
Para mostrar que o ritmo está cada vez mais presente, e com uma nova geração de ‘beiradeiros’, o saxofonista Jonaci de Araújo Barros, o Jonaci do Sax, realizará na segunda-feira, 31, às 19h, a live ‘Encontro Beiradão’, no seu canal no YouTube.
A apresentação de Jonaci do Sax vai misturar um repertório que inclui suas próprias composições e de amigos, além de homenagear os precursores do beiradão, como Teixeira de Manaus, Chico Caju, Aguinaldo do Amazonas, Chiquinho Davi, Antonio Cearense, e Carlinhos Ferreira. Nos intervalos das músicas, o público irá ouvir histórias sobre esse ‘estilo’, que é uma das referências musicais do Amazonas, ainda pouco estudado, e poderá interagir por meio de mensagens nos comentários.
Só foi possível concretizar o projeto que originou a live após ter sido contemplado no Prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Aldir Blanc.
Começou no Cacetinho
A relação de Jonaci do Sax com o beiradão começou na infância. Seu pai, o sargento PM Jonas, era um ‘beiradeiro’, sendo que tocava trombone nas festas nos interiores, nos finais de semana, quando estava de folga, nas décadas de 1970 a 90.
“Com ele aprendi teoria musical, ainda menino. Adolescente, passei a acompanhá-lo nas festas. Foi estudando na banda de música da ETFA (Escola Técnica Federal do Amazonas), que me aprimorei, porém, no clarinete. Um dia precisaram de um saxofonista para acompanhar a famosa dança do Cacetinho da ETFA e quase me obrigaram a ser esse saxofonista. Toquei na dança por 15 anos, e até hoje toco em outros Cacetinhos espalhados pela cidade, ao menos uns oito, nos festivais folclóricos”, lembrou.
Com 19 anos, Jonaci começou a ‘voar sozinho’, com seu sax, se apresentando junto com várias bandas, Blue Birds, Expressom, Capim Canela, Contatos Imediatos, Tara, DX, e diversos artistas locais, tocando qualquer tipo de ritmo.
Nesse mesmo período foi servir na Aeronáutica e, lógico, acabou integrando a banda de música da Força.
“Como meu pai, que era militar PM, eu me apresentava em shows nas minhas folgas do quartel. Ainda na Aeronáutica, fui transferido para Fortaleza, e lá mantive o ritmo, porém, tocando forró em bandas como a Zanzibar e Qraques do Forró”, contou.
A família de saxofones possui sete tipos de instrumentos, cada um com uma sonoridade própria. Jonaci toca cinco deles, usando mais o alto, parecido com o do Teixeira de Manaus. Já fez shows em quase todos os municípios do Amazonas e até em outros estados como Pará, Tocantins, Roraima e Rondônia.
Sua experiência também inclui festivais como Fecani, Festival Universitário e projetos do Sesc: ‘Canto da mata’, ‘Amazônia das artes’ e ‘Sonora Brasil’.
Precursor do novo momento
Jonaci lembrou que não se sabe onde ou quando o beiradão iniciou. O ritmo dançante e contagiante se originou, com certeza, nos interiores mais longínquos do Amazonas, como forma de diversão. Os poucos instrumentistas que existiam eram considerados e respeitados. Eram os ‘senhores da diversão’. Os instrumentos mudaram ao longo do tempo. Pandeiro e até violino eram usados, e sabe-se de um banjo feito de lata de goiabada apelidado de laca paca. Fez música, servia. Só não podia faltar a percussão e o sax.
Com a chegada da eletricidade, foram incorporados a guitarra, o baixo e o teclado.
“Dos quase anônimos ‘beiradeiros’ da década de 1970 à explosão de Teixeira de Manaus na década seguinte, na década de 1990 o ritmo praticamente sumiu. Está voltando agora e eu me considero um dos precursores desse novo momento. Gravei o CD ‘Na arte no beiradão’, em 2014; e este ano lancei ‘O beiradão é nosso’, e tem gente nova tocando e cantando o ritmo”, falou. Os CDs de Jonaci podem ser ouvidos no Youtube, Spotfy e Deezer.
Na live de segunda-feira, Jonaci do Sax vai apresentar uma banda completa: bateria, percussão, guitarra, baixo, teclado e vocal, e terá ao seu lado alguns convidados, entre eles os saxofonistas Ítalo Jimenez e Chicão do Sax.
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