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Novo decreto frustra bares e restaurantes do Amazonas

O anúncio das medidas definidas pelo Comitê Enfrentamento à Covid-19 no Amazonas, nesta sexta (28), frustrou o segmento de alimentação fora do lar. A expectativa era que o horário de fechamento de bares e restaurantes fosse estendido das atuais 23h para 1h. O governo estadual, contudo, manteve o toque de recolher de 0h às 6h e definiu apenas novas três flexibilizações para serviços não essenciais: aulas presenciais na rede estadual de Manaus, lojas de acessórios e zoológicos. O decreto passa a vigorar a partir desta segunda (31), até 14 de junho.

A notícia coincide com a divulgação da mais recente pesquisa da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), realizada com mais de 1.600 estabelecimentos em todos o país. Em torno de 77% fecharam abril no prejuízo e 72% têm dificuldades para pagar impostos, aluguel, contas de água, luz, gás e débitos com fornecedores. Pagar o salário vencido em 5 de maio é um desafio para 49% delas. Na análise da entidade, as empresas acumulam dívidas difíceis de serem quitadas pelo movimento reduzido da reabertura gradual, em um cenário em que as “MPs trabalhistas” “chegaram tarde” e é imperativo “destravar o crédito”.

A sondagem da Abrasel não traz dados desagregados por Estado, mas a seção regional da entidade para o Amazonas aponta que a situação não é muito diferente para as empresas amazonenses. Os números mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), contudo, informam que o segmento de alimentação apresentou criou 76 vagas formais, entre março e abril, graças ao predomínio das contratações (+649) sobre os desligamentos (-573). Foi o primeiro saldo positivo de 2021, mas ainda insuficiente para salvar o acumulado do ano do vermelho (-42) – em virtude da segunda onda e das restrições, nos dois primeiros meses do ano.

Terceira onda

Mas, segundo o presidente da Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seção Amazonas), Fabio Cunha, a situação do segmento segue delicada em âmbito local e motiva uma nova rodada de flexibilizações, sob pena de novas baixas entre as empresas – a estimativa da entidade é que 50% já fecharam de vez. O dirigente reforça que os estabelecimentos permanecem “meio abertos e quebrados por inteiro”, em cenário de retomada lenta, mas sempre priorizando o pagamento da folha salarial, entre as dívidas.

Fabio Cunha diz que não vê motivos para restrições de circulação de pessoas e que vê na medida apenas uma forma de organização e fiscalização. Argumenta também que o fator RT – que mede a taxa de contaminação – e demais indicadores não  justificam a permanência de restrições, e que.um horário mais estendido poderia diluir as taxas de ocupação nos estabelecimentos, reduzindo chances de contágio.

“Apesar da falácia da terceira onda, buscamos junto ao governo estadual uma maior flexibilização pelo menos no horário de atendimento, já que as empresas seguem com capacidade limitada a 50%. Mas, nossa proposta não foi aceita, sob o argumento de que temos de ser cautelosos com a cepa indiana. Ao mesmo tempo, temos uma das menores RTs do país e o governo fecha leitos de covid: foram 19, entre abril e maio, e mais 15, só nesta semana. Aí, a taxa de ocupação sobe, é claro. Se os leitos estão sendo fechados, é porque não precisamos deles e, se não precisamos, a situação está melhor”, argumentou

“Sem perspectiva” 

Em sintonia, o proprietário do Salomé Bar, do All Night Pub, Rodrigo Silva, considera que o toque de recolher é inócuo e diz que não vê grandes mudanças no cenário para a empresa, diante das restrições de horários e capacidade de atendimento para o segmento. De acordo com o empresário, a flexibilização mais recente, refletiu em uma alta de 10%, em relação a 2019. Para os demais estabelecimentos do grupo – que incluem um flutuante –, as quedas se situam na casa dos dois dígitos, sendo que a casa noturna All Night Pub já completa mais de um ano sem operações e faturamento zerado. A equipe segue sendo a mesma, sem perspectivas de novas contratações.

“Continuamos com faturamento abaixo do normal, reduzindo muito a lucratividade da empresa. Além disso, agora começam a vencer os diversos financiamentos realizados em 2020 na expectativa de termos os fluxos já normalizados após 14 meses de pandemia. Continuo com uma empresa totalmente paralisada e sem perspectiva. Observando as notícias que mostram o Amazonas se aproximando da fase vermelha, já imaginava que não haveriam flexibilizações, mas é bastante frustrante ver que estamos remando sem sair do lugar”, desabafou.

“Cruz e espada”

Na mesma linha, o sócio proprietário dos restaurantes Mercato Brazil e Expresso 73, Rodrigo Zamperlini, destaca que a retomada vem ocorrendo a passos lentos, com o fluxo de negócios crescendo semanalmente, em ritmo gradual e lento – especialmente após a extensão do horário de domingo. Mas, diante da evolução dos indicadores da pandemia no Estado, o empresário considera que já deveria ter ocorrido uma nova flexibilização, inclusive no horário do toque de recolher.

“A cada flexibilização, sentimos melhorias, mas ainda estamos com muitas restrições de ocupação de 50% dos lugares e sentimos esse impacto. Não acho que haja motivo para ficarmos com restrições de circulação de meia noite às 6h. É como se a gente estivesse no meio de algo alarmante, quando não é isso que os indicadores mostram para gente. A gente acata, porque é uma decisão do governo, mas não era essa a nossa expectativa, de jeito nenhum”, lamentou.

Segundo o empresário, como o governo federal retomou “finalmente” a medida provisória que permite redução e suspensão de contratos, o momento não é mais de demissões, mas de “estabilidade” nos empregos. Ele alerta, contudo, que as contratações dependem de não haver mais restrições ao segmento, por parte do governo estadual. Outro problema vem das dívidas e do fim da carência dos empréstimos concedidos pelo Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). 

“Quando a gente observa que, mesmo com os atuais indicadores, não há flexibilização, você fica receoso em ser surpreendido e ser obrigado a colocar as pessoas na suspensão de contratos ou reduções. Quanto às dívidas, elas pesam muito sobre as nossas costas neste momento. Estamos começando a pagar os financiamentos feitos no ano passado e é muito difícil de encontrar o equilíbrio econômico, ou assumir novos empréstimos, porque você precisa saber como vai ficar seu fluxo de caixa. Estamos entre a cruz e a espada”, arrematou. 

Foto/Destaque: Fred Novaes

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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