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Sem febre aftosa, pecuária do AM ganha estímulo

Um total de 14 municípios amazonenses que contam com pecuária bovina conquistou oficialmente, nesta quinta (27), o reconhecimento internacional como zona livre de febre aftosa sem vacinação. A expectativa do governo estadual e da iniciativa privada é que a conquista anunciada pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) ajude a ampliar a ação dos produtores rurais, fortalecendo a economia do Amazonas e reduzindo sua dependência de importação de carnes, no processo.

A lista de municípios que passaram a usufruir do novo status sanitário inclui Apuí, Boca do Acre, Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã, Pauini, Guajará, Envira, Eirunepé, Ipixuna, Itamarati e parte de Tapauá. A Organização Mundial de Saúde Animal também reconheceu da mesma forma com o mesmo título os Estados do Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul, Paraná e parte do Mato Grosso. A meta do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é que todo o território brasileiro seja publicamente considerado da mesma forma, até 2026.

A conquista do status de zona livre de aftosa sem vacinação é um sonho antigo dos produtores de gado do Amazonas. Pareceu ficar ainda mais próximo de se tornar realidade quando o Estado foi reconhecido pelo Mapa como livre de aftosa com vacina, em dezembro de 2017. A expectativa era que a comenda viesse no primeiro trimestre do ano passado, mas a eclosão da primeira onda da pandemia adiou o sonho para esta quinta (28).

“Conquista histórica”

No entendimento do presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, o reconhecimento internacional é uma “conquista histórica” que coloca a pecuária amazonense em um patamar de destaque nacional e mundial e atesta o “padrão sanitário de excelência” dos municípios do Sul do Amazonas, que respondem por 68% do rebanho do Estado, com 1,2 milhão de cabeças de gado. Ao citar dados da Adaf (Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do estado do Amazonas), o dirigente assegura que, desde o reconhecimento nacional, do status de livre de aftosa com vacina, o rebanho vem crescendo nos municípios do Sul do Amazonas.

O dirigente observa que, já sob o reconhecimento de livre de aftosa sem vacinação, o pecuarista vai poder reduzir custos com a compra de vacinas e investir em melhorias no manejo do rebanho de sua propriedade, abrindo a perspectiva de diferenciação e valorização dos produtos dos municípios, com reflexos diretos no valores recebidos pelos produtores pela arroba do boi e lácteos.

 “Essa conquista primeiramente poderá ampliar a participação da carne bovina da região certificada no atendimento do mercado consumidor do Amazonas, contribuindo para diminuir a compra de carne de outros Estados. A estimativa é que o produto amazonense atenda 20% da demanda do mercado consumidor do Estado. Além disso, a certificação abre possibilidade de exportação, principalmente para países compradores que remuneram melhor o produto mas condicionam que a carne vendida a eles seja originada em áreas livre de aftosa sem vacinação”, informou.

Indagado sobre a possibilidade de que a abertura do caminho para as exportações produza o efeito contrário, diminuindo a oferta local em um cenário de demanda chinesa em alta e real em baixa, Muni Lourenço descarta que isso ocorra no Amazonas – pelo menos no curto prazo. De acordo com o presidente da Faea, o Estado tem atualmente apenas um produtor com certificado com o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) e habilitado para atuar com vendas externas. “O que não impede que os demais busquem a mesma certificação, mas não creio que isso aconteça”, amenizou.

Qualidade e sustentabilidade

Para o titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, a expectativa é “altamente positiva” a partir do reconhecimento internacional dos municípios amazonenses, por parte da OIE, embora a nova fase também recomende aumento de responsabilidade e de autocontrole para manter essa condição e ampliar o mesmo status para o restante do Estado. 

“A abertura do mercado mundial aos nossos produtores vai exigir ainda mais qualidade e sustentabilidade. Isso tudo certamente vai nos levar ao aumento de interessados em investir nessa cadeia produtiva, aumento da produtividade e, consequentemente, o abastecimento interno de carnes, reduzindo a importação. Cabe sempre destacar que é perfeitamente possível fazer pecuária sustentável com respeito ao ambiente. Temos tecnologias comprovadas e vocação natural para produção de alimentos”, frisou.

O secretário estadual acrescentou ainda que a mudança de status para a pecuária de corte e leiteira do Amazonas só foi possível graças ao “apoio incondicional” do governador Wilson Lima à iniciativa, por meio da autorização do cumprimento de todas as “metas e exigências” do planejamento estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Vontade política

O ex-superintendente da Conab, administrador com especialização no agronegócio e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, concorda e observa que o governador chamou concursados da Adaf, colocou internet nos escritórios do interior e investiu em barreiras sanitárias e toda estrutura pública para tornar a certificação uma realidade. O especialista acrescenta ainda que, assim como a vontade do governo estadual, o acesso ao crédito rural e agilidade no licenciamento ambiental são fundamentais para o produtor se adequar e manter as condições para usufruir o atual status.

“No passado, tínhamos 62 municípios livres de aftosa com vacinação e, agora, 14 deles já estão livres sem vacinação. É a primeira vez que acontece isso. Espero que esse reconhecimento internacional mude o pensamento de pessoas que criminalizam de forma geral a pecuária no Amazonas, vinculando a atividade ao desmatamento. O desafio agora é manter esse status e avançar nos outros 48 municípios. Dessa forma, acredito que vamos reduzir a importação de carnes e abastecer o mercado local”, arrematou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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