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Setor imobiliário mantém aquecimento, mas recua 5% se comparado com 2021

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

A indústria imobiliária do Amazonas desacelerou no segundo trimestre, embora tenha permanecido aquecida. As incorporadoras somaram R$ 335 milhões em VGV (valor geral vendido) líquido, de abril a junho de 2022. O resultado configura recuo de 5,37% ante o patamar recorde atingido nos três meses anteriores (R$ 354 milhões). A comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 304 milhões) ainda rendeu acréscimo de 10,20%. Com isso, as vendas do semestre totalizaram R$ 689 milhões e avançaram 47,85% no confronto com o mesmo acumulado de 2021 (R$ 466 milhões).   

A quantidade de unidades líquidas vendidas escalou 52,84% entre o primeiro (774) e o segundo (1.183) trimestres, mas ficou 8,01% abaixo do dado de 12 meses atrás (1.286). Em seis meses (1.957), houve alta de 28,91%. Seis localidades responderam por 81% das vendas: Ponta Negra (381); Parque Mosaico (253); Tarumã (239); Colônia Terra Nova; Novo Aleixo; e Jardim Manaus. Os lançamentos foram mais comuns no segundo trimestre (5) do que no primeiro (3), mas o acumulado do ano aponta um caminho razoável para o setor igualar 2021 (17) e 2020 (14). 

Os números foram extraídos dos Indicadores Imobiliários da Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas), uma sondagem mensal com dados coletados de 34 empresas incorporadoras no Estado. O desempenho das vendas levou a entidade, que até então apostava em um empate com 2021, a rever suas projeções para este ano e estimar um crescimento de 20% a 30% para o setor no final do ano, com até R$ 1,40 bilhão em vendas. 

Parte desse resultado, no entanto, se deveu à gradual mudança de foco dos incorporadores em direção de produtos de maior valor agregado e voltados a um público menos dependente de financiamentos. A quantidade de unidades imobiliárias do padrão econômico vendidas conseguiu avançar 52,42% entre o primeiro (496) e segundo (756) trimestres, mas declinou 14,77%, quando comparado com o segundo trimestre de 2021 (887). As vendas “nos demais padrões” (427) avançaram 53,60% e 7,02%, nas respectivas comparações.

A mudança da bussola do mercado é melhor entendida quando se analisa a evolução dos dados de oferta. Das 1.176 unidades imobiliárias lançadas no Amazonas durante o segundo trimestre, apenas 30,61% eram do “padrão econômico” (360), contra os 69,39% referentes aos “demais padrões” (816). A quantidade de imóveis voltados para públicos de menor renda encolheu 26,83% em relação ao primeiro trimestre deste ano (492) e desabou 74,86% na comparação com o mesmo período de 2021 (1.432). O inverso se deu no segmento de imóveis mais caros, que escalou 59,37% em um ano, após atravessar um primeiro trimestre sem lançamentos.

“Resiliência e profissionalismo”

O diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM, Henrique Medina, considerou que o resultado atingido pelo setor no segundo trimestre foi “muito substancial” e deixou os associados da entidade “muito satisfeitos”. “Crescemos quase 50%, se compararmos com o primeiro semestre de 2021, que já foi um período muito bom, mesmo se você considerar que tivemos segunda onda de pandemia. É importante frisar que tivemos vendas de produtos de nichos de mercado, como condomínios de lotes de R$ 600 mil a R$ 1 milhão, que levaram a esse recorde”, comemorou.

Ele ressalva que o setor também teve recorde de vendas de imóveis verticais – inclusive os financiados pelo Casa Verde e Amarela, que vão até R$ 209 mil. O dirigente avalia que esse é um fator que contribui para aumentar a confiança do investidor para disponibilizar novos produtos no mercado imobiliário amazonense. “O consumidor também precisa ter confiança de adquirir imóveis, acreditando que a economia estará mais fronte mais para a frente. Nesse momento, acredito que o Brasil está em uma condição de crescimento descolado do resto do mundo, o que faz com que a confiança de nossos clientes continue em alta”, frisou.

Medina ressalta que grande parte dos imóveis vendidos na planta atualmente são comercializados por financiamentos, e acrescenta que as instituições financeiras – especialmente a Caixa Econômica Federal – estariam procurando oferecer novas formas de crédito imobiliário. “Isso acontece seja aumentando subsídios para produtos voltados para públicos de renda mais baixa, seja reduzindo a taxa de financiamento para produtos mais caros, ou ainda prorrogando o prazo de pagamento. Tudo isso contribui para mais confiança no mercado”, listou.

Outro fator destacado pelo diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM é “a resiliência e o profissionalismo” das empresas, que contribui para um VSO (velocidade sobre oferta) de quase 20%. “Isso significa que uma a cada cinco unidades oferecidas no mercado estão sendo vendidas no trimestre. É um número muito relevante, porque em cinco trimestres não teremos mais estoque, se não houverem mais lançamentos. Então, os incorporadores estão lançando produtos alinhados com a necessidade dos clientes, em termos de bairros e preços. Estamos no caminho certo”, explanou.

“Momento ímpar”

O presidente da Ademi-AM, Albano Máximo, salienta que, embora o setor viva atualmente um “momento ímpar”, também tem muitos problemas pela frente. Ao citar pesquisa recente da CNI, destaca que a maior parte das empresas coloca a alta dos preços dos materiais registrada nos últimos dois anos como foco de preocupações. Há também o aumento dos juros e o descolamento do preço dos imóveis com o bolso do consumidor. Outro ponto listado é a criação de mão de obra especializada, que já começaria a fazer falta nos canteiros de obras. O dirigente ressalva, contudo, que há boas perspectivas para o setor, partindo do setor público. 

“Temos uma expectativa de continuidade de crescimento no futuro, graças às últimas decisões Conselho Curador do FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço]. Isso deve trazer um crescimento maior para o setor, adequando o financiamento ao bolso do cliente, uma vez que não há possibilidade de aumentar a quantidade de recursos para subsídios. Temos também uma perspectiva de R$ 800 bilhões em contratos assinados nas privatizações. Isso ainda não entrou, e deve gerar um crescimento para o próximo ano, somando ao que já está acontecendo no subsetor de construção de edifícios, porque as obras de infraestrutura estão bastante abaixo do esperado”, ponderou.

Segundo Albano Máximo, a entrada do Auxílio Brasil como benefício permanente deve contribuir para maior volume de “pequenas reformas”, o que já havia acontecido no começo da pandemia, além de alavancar indiretamente também o mercado imobiliário. “Estamos muito otimistas e vivendo um momento muito propício para a construção. Temos muitos problemas, mas estamos trabalhando em cima deles”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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