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Namorados em crise? Varejo encolheu 1,8% em junho

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  fACE: @JCOMMERCIO

O varejo amazonense encolheu no mês do Dia dos Namorados. O setor recuou 1,8%, na variação mensal de junho, eliminando todo o ganho de maio – que teve um dia útil a mais. O confronto com o mesmo mês de 2021 mostrou retrocesso de 3,1% no volume de vendas, no quarto resultado negativo seguido nesse tipo de comparação, a despeito da base de comparação mais fraca. O setor ainda conseguiu se segurar no semestre (+4,3%), mas não no acumulado dos últimos 12 meses (-2,3%). O Estado ficou abaixo da média nacional (-1,4%, -0,3%, +1,4% e -0,9%, respectivamente) em todas os comparativos.

Em todo o país, a queda foi puxada pelos segmentos de vestuário e calçados; e de supermercados e alimentos. A única atividade a acelerar foi a de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria. No Amazonas, em sintonia com o aumento dos juros e das taxas de endividamento, subsetores dependentes de crédito, como veículos e material de construção, tiveram desempenho ainda pior. A inflação, por outro lado, segue inflando artificialmente o faturamento das empresas e inibindo vendas. É o que revelam os dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada pelo IBGE, nesta quarta (10).

O varejo só conseguiu crescer em quatro das 27 unidades federativas brasileiras, na passagem de maio para junho: Paraíba (+2,5%), Tocantins (+1%), Maranhão (+0,4%) e Pernambuco (+0,1%). No extremo oposto, Minas Gerais (-7,7%), Roraima, Espírito Santo e São Paulo (os três com -2,5%) tiveram os piores números. O decréscimo de 1,8%, por outro lado, fez o Amazonas despencar da 12ª para a 15ª colocação e empatar com o Rio Grande do Sul.

Com o tombo de 4,4% em relação a junho de 2021, o Estado caiu do 23º para o 24º lugar no ranking nacional do IBGE, em meio a 13 resultados negativos. Só ficou à frente de Bahia (-5,3%), Goiás (-3,8%) e Acre (-3,6%). Em paralelo, Roraima (+13,3%), Alagoas (+11,4%) e Mato Grosso do Sul (9,5%) subiram ao pódio. No acumulado de janeiro a junho (+4,3%), o comércio amazonense subiu da nona para a oitava colocação, em uma lista iniciada também por Roraima (+11,8%) e encerrada por Pernambuco (-5%).

Receita e crédito

Vitaminada novamente pela inflação, a receita nominal do varejo amazonense foi melhor em todas as comparações de longo prazo. A queda foi menor do que a registrada pelo volume comercializado, na variação mensal de junho (-0,8%). Mas a performance foi ainda mais fraca do que a de maio (+0,2%). Em relação ao mesmo mês de 2021, houve elevação de 4,9%, a despeito do recuo efetivo das vendas. Os acumulados do ano (+12,5%) e dos últimos 12 meses (+8%) seguiram no azul e também foram mais generosos. O Amazonas ficou atrás da média nacional (+0,2%, +17,1%, +16,9% e +13,5%) em todas as comparações.  

Em todo o Brasil, o comércio foi depreciado por sete das oito atividades investigadas pelo IBGE, entre maio e junho. As piores influências vieram de tecidos, vestuário e calçados (-5,4%); e de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%). Foram seguidos por livros, jornais, revistas e papelaria (-3,8%); equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,7%); artigos de uso pessoal e doméstico (-1,3%); combustíveis e lubrificantes (-1,1%); e móveis e eletrodomésticos (-0,7%). O único subsetor que cresceu foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+1,3%).

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que o varejo ampliado local, que inclui veículos e material de construção, teve desempenho ainda pior. Houve queda de 1,5% entre maio e junho, no segundo mês consecutivo de involução nas vendas. O tombo ante junho de 2021 (-6%) foi ainda maior, influenciando nos acumulados do ano (+2,3%) e dos 12 meses (-4%). As médias nacionais foram -2,3%, -3,1%, +0,3% e -0,8%, na ordem. 

Inflação e e-commerce

Em texto veiculado pelo site da Agência IBGE de Notícias, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, assinalou que os números nacionais da pesquisa mostram uma influência significativa da inflação na atividade de hiper e supermercados, ao longo do primeiro semestre do ano. O pesquisador salienta também que o recuo de tecidos, vestuário e calçados deixou o subsetor praticamente dez pontos percentuais abaixo do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020. 

“Essa atividade teve uma queda intensa na passagem de maio para junho. Ao longo do ano, houve altas ligadas a uma nova estratégia adotada por essas empresas, de também se lançar no comércio eletrônico. A ideia era fazer vendas virtuais de forma mais forte do que se fazia antigamente, já que, nesse segmento, experimentar um produto antes de comprar é muito importante”, explicou.

Já o crescimento apresentado pela única atividade do varejo que teve desempenho positivo se deveu mais aos efeitos da inflação em produtos essenciais. “No segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, o aumento é ligado aos artigos farmacêuticos e reflete a alta nos preços dos medicamentos. Esse é um tipo de produto que, na maioria das vezes, você não consegue substituir. Isso aumenta o dispêndio de uma família que pode ter que gastar nessa atividade e diminuir o consumo em outras”, frisou.

“Cautelosamente otimistas”

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, salientou à reportagem do Jornal do Commercio que a retração nas vendas do varejo registrada em junho já era aguardada pelos lojistas. “O primeiro semestre é sempre mais fraco do que o segundo. Há o impacto muito forte da guerra na Ucrânia no fornecimento e preços de alimentos, assim como na inflação em geral. Tivemos também os aumentos dos juros, que contribui para maior endividamento e negativações do consumidor, além de dificultar o acesso ao crédito”, listou.

O dirigente assinala também que o pior desempenho do varejo ampliado se deve aos impactos das chuvas nas vendas do material de construção e do aperto do crédito nas vendas de veículos e acessórios. Aderson Frota ressalva, contudo, que o setor espera que os problemas macroeconômicos sejam superados, ou pelo menos amenizados ainda neste ano. Da mesma forma, acrescenta ainda que o calendário de datas comemorativas e a chegada do verão amazônico também contribuem para melhores perspectivas de curto prazo. 

“Nossas expectativas são positivas. Já estamos tendo o Dia dos Pais, que deve dar uma resposta positiva. Há o Dia das Crianças, que é a terceira maior data para o setor. Em seguida, teremos também a Black Friday, que sempre traz boas motivações para as vendas, seguido pelo ápice, que é o Natal. O arrefecimento das chuvas deve acelerar as obras e a construção civil, contribuindo para melhores vendas de material de construção. De uma forma geral, as dificuldades estão sendo superadas pela atividade econômica, o que nos leva a ser cautelosamente otimistas”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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