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Selic saltou para 13,25% ao ano, na tentativa de frear consumo e inflação

O Copom confirmou as expectativas de analistas financeiros e as projeções da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), ao aumentar a Selic, de 12,75% para 13,25% ao ano, nesta quarta (15). A decisão de vitaminar os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual ocorreu em meio às oscilações no mercado global e às incertezas na conjuntura econômica nacional, sendo referendada por todos os integrantes do Comitê de Política Monetária. O 11º reajuste consecutivo elevou a taxa ao maior nível desde janeiro de 2017 (13,75%).

O BC (Banco Central) surpreendeu o mercado e o setor produtivo, no entanto, ao sinalizar que pretende apertar o cinto da política monetária, com novas altas no custo do dinheiro nas próximas reuniões, independentemente dos impactos negativos no PIB. Até então, a expectativa era que este seria o último reajuste do ano. Entidades representativas do comércio e da indústria nacional são unânimes em apontar que as altas já passaram da conta e acendem o sinal amarelo da recessão. Lideranças classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio, por outro lado, se dividem em relação à medida.

Em nota à imprensa, o Copom citou a maior persistência das “pressões inflacionárias globais” e a incerteza sobre o “futuro do arcabouço fiscal do país” para explicar o reajuste.. Mas, lista também fatores que podem contribuir para uma baixa nos preços, advindos de uma “possível” reversão “parcial” nas cotações das commodities “em moeda local”, e uma desaceleração no PIB brasileiro “mais acentuada do que a projetada”. 

Ao justificar novos aumentos futuros, o BC salientou que o cenário econômico global segue volátil. “O Comitê nota que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, explanou.

Vulnerabilidade e estabilidade

A conselheira do Corecon-AM, ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, observa que o Fed (o banco central americano) também aumentou os juros, em um movimento antecipado pelo mercado e considerado tardio. A economista lembra que a decisão da autoridade monetária dos EUA também afeta o Brasil – ao reduzir o fluxo de capital de curto prazo para as economias emergente e impactar no câmbio. Mas ressalva que a inflação é um fenômeno mundial e precisa ser combatida.

“O Banco Central está de parabéns, pois está elevando os juros para frear o consumo e segurar a inflação. Apesar de sinalizar altas nas próximas reuniões, imaginamos que estas serão mais brandas e acredito que já poderemos ver resultados positivos nos próximos meses, com uma desaceleração nos preços. A inflação afeta diretamente os mais vulneráveis, mas não acredito em recessão. Devemos ter uma economia estável, mas com patamares de crescimento bem distantes do cenário anterior à pandemia e às últimas crises. Vai demorar para podermos respirar aliviados”, analisou.

Inflação alta tem sido constatada diariamente pelos consumidores

“Momento inoportuno”

O consultor empresarial, e também conselheiro do Corecon-AM e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, considerou que o aumento veio em um momento “inoportuno” e deve prejudicar investimentos e exportações. “Estamos com uma conjuntura de desemprego alto e economia fraca. Mas, os pensadores do Copom resolvem, além de conceder o reajuste, prever que a taxa vai subir mais ainda. Devemos ter um PIB negativo no segundo trimestre embora eu acredite que ainda é cedo para falar de recessão”, frisou. 

Para o economista, a nova alta da Selic, em paralelo com os cortes de alíquotas de Imposto de Importação e de IPI, deve valorizar o real e desindustrializar ainda mais o país. Mourão Júnior avalia que nem mesmo a elevação dos juros nos EUA – considerado um porto seguro para os investimentos estrangeiros –compromete essa tendência. “A inflação por lá continua muito alta e isso não é um bom atrativo para o mercado de capitais. Para isso acontecer, só se os juros baixassem por aqui, o que não é o caso”, justificou. 

“Cenário preocupante”

O presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, assinalou à reportagem do Jornal do Commercio a que a decisão do Copom, apesar de esperada, é “altamente prejudicial” para o segmento produtivo e deve implicar em redução do consumo e da produção, em uma conjuntura já desfavorável para a economia nacional.

“A taxa já se encontrava em um patamar que inibe a atividade econômica, e o novo aumento cria um cenário ainda mais preocupante. O próprio IPCA de maio já denotava que a inflação de bens industriais apresentava tendência de queda. A elevação promovida encarece sobremaneira o custo de investimentos futuros e deve ter impacto direto sobre a retomada do setor industrial”, alertou.

“Muita instabilidade”.

Na mesma linha, o presidente da Faea, Muni Lourenço, avaliou que a medida do Copom tende a piorar um cenário que já está difícil para o setor primário, que já enfrenta os efeitos da cheia e dos choques das commodities, assim como refluxo das vendas internas. O dirigente ressaltou que o momento econômico mundial é de “muita instabilidade” e de iminente risco de recessão, até mesmo para as maiores economias do globo. 

“Isso traz reflexos para a economia nacional, principalmente no contexto do processo inflacionário. Soma-se a isso o fato de o ano ser de eleições em nosso país, além do impacto econômico da pandemia. Apesar de previsível, diante desse contexto, a trajetória de alta dos juros preocupa nosso setor. Principalmente porque encarece o custo do crédito e também reduz o consumo interno”, lamentou.

Endividamento x sazonalidade

O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, concorda que a Selic “tem sua finalidade”. Mas lembra também que, além de “criar dificuldades para o consumo” e elevar o custo do crédito, a alta também impacta em um maior nível de endividamento e inadimplência das famílias, reduzindo as vendas do varejo. O dirigente avalia, contudo, que a sazonalidade pode contribuir para afastar riscos de recessão.

“O ano já começou com todos esses atropelos de crises internacionais e de preços de commodities, com consequências nos aumentos dos preços de combustíveis e fretes, o que cria obstáculos para o comércio voltar à normalidade. Não obstante, o segundo semestre é o melhor período para a economia. Já vencemos algumas dificuldades e voltamos a crescer, ainda que em menor proporção do que gostaríamos Mas, estamos ganhando volume aos poucos”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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