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Salário de admissão é menor no Amazonas

A oferta de empregos voltou a aumentar no Amazonas, em novembro. Mas, o rendimento médio de admissão para trabalhos com carteira assinada seguiu novamente na direção contrária, e com mais força do que o registrado pela média nacional. No penúltimo mês de 2021, os trabalhadores amazonenses começavam ganhando, em média, R$ 1.542,52. O montante ficou 3,95% inferior ao de outubro do mesmo ano (R$ 1.605,96) e 9,74% abaixo do valor de novembro de 2020 (R$ 1.709,08). Os números foram fornecidos à reportagem do Jornal do Commercio pela assessoria de imprensa do Ministério da Economia.

Vale notar que a inflação acumulada no período assinalado aumenta ainda mais o fosso de distância entre as remunerações capturadas ao longo da série histórica. Nos 12 meses acumulados em novembro de 2021 a variação dos preços avançou 10,74%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), calculado pelo mesmo órgão, aponta um percentual ainda maior (+10,96%), assim como outros indicadores de inflação.

Na média nacional, rendimento médio de admissão para trabalhos com carteira assinada caiu 1,20% entre outubro (R$ 1.810,54) e novembro (R$ 1.788,74) e ficou 4,17% aquém do valor de 12 meses atrás (R$ 1.866,43). Apenas sete unidades federativas foram na direção contrária e avançaram na variação mensal: Roraima (+17,53%), Rio Grande do Norte (+3,52%), Piauí (+3%), Amapá (+1,26%), Espírito Santo (+1,18%), Ceará (+1,12%) e Mato Grosso do Sul (+0,15%), na ordem.

A remuneração média no Amazonas ficou novamente aquém da média nacional (R$ 1.778,84), além de ser a 13ª mais baixa do país. São Paulo (R$ 2.060,94), Rio de Janeiro (R$ 1.835,04) e Distrito Federal (R$ 1.790,04) encabeçaram o ranking, enquanto Alagoas (R$ 1.306,79), Sergipe (R$ 1.327,92) e Acre (R$ 1.336,40) figuraram no rodapé. A média da região Norte foi de R$ 1.512,56, sendo que o Amazonas (R$ 1.542,52) apresentou o terceiro maior valor, ficando atrás do Pará (R$ 1.564,54) e de Roraima (R$ 1.708,25). 

Comércio e serviços

A base de dados do “Novo Caged”, por outro lado, informa que o saldo de empregos com carteira assinada subiu 1,08% entre outubro e novembro, gerando um acréscimo de 4.817 vagas formais no Estado. Foi o nono mês consecutivo de alta, sendo que o resultado foi ainda melhor do que o do levantamento anterior (+0,47% e +2.099). Puxado pelos setores de comércio e serviços, o Amazonas registrou 17.825 admissões, contra 13.008 desligamentos. Os saldos dos acumulados do ano (+9,14% e +37.691 vagas) e dos últimos 12 meses (+8,40% e +34.873) seguiram no azul. 

Quatro dos cinco setores econômicos listados no Amazonas pelo “Novo Caged” conseguiram saldos positivos, entre outubro e novembro. No mês da Black Friday, o melhor dado veio do comércio (+2,41% e +2.489). Depois de liderar a lista nos últimos meses, o setor de serviços (+0,63% e +1.256) tendo destaque no segmento de alojamento e alimentação (+2,36% e +419). Na sequência vieram a indústria (+0,96%e +1.097), agropecuária ((+1,64% e +61) e a construção (-0,36% e -86).

No acumulado do ano, o setor de serviços (+15.613) foi o que mais abriu novos postos de trabalho no Amazonas, ao crescer 8,39% sobre o estoque anterior. Na sequência estão a indústria (+9,15% e +9.664) e comércio (+8,73% e +8.486). Embora tenha ficado no quarto lugar do ranking, a atividade de construção (+3.395) também foi a que mais cresceu nesse tipo de comparação (+16,86%). Foi seguida de perto pela agropecuária (+16,46%), que gerou 533 novos empregos, de janeiro a novembro deste ano. 

A média salarial por setores também apresenta pouca correspondência com a oferta de empregos. O valor mais elevado veio da indústria em geral (R$ 1.823,90), enquanto o mais baixo ficou com o grupo que reúne comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas (R$ 1.543,34). Dentro do setor de serviços, algumas atividades alcançaram valores mais elevados, a exemplo de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (R$ 2.039,96), e de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (R$ 1.959,40).

“Chão de fábrica”

Para o presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, o descompasso entre a dinâmica da geração de empregos celetistas e a média salarial inicial é uma “realidade nacional”, principalmente no Amazonas. O economista destaca que os números locais refletem uma reposição de postos de trabalho e o fato de que a economia amazonense depende fundamentalmente do PIM. 

“A grande maioria é ‘chão de fábrica’, com salários mais baixos. Por isso, temos uma geração de empregos com salários mais baixos. As fábricas demitiram bastante no ano passado e estão recontratando. Não é o pessoal mais técnico e de administração que está sendo admitido, mas justamente o pessoal lá de baixo. Acredito que teremos uma terceira onda mais rápida e menos letal e que, durante 2022, o nível de emprego se mantenha. Uma vez resposto todo o patamar de linha de montagem, virão todos os demais cargos, com valores salariais mais altos, também”, ponderou.   

Indagado sobre a discrepância de valores salariais de admissão em empregos com carteira assinada no Amazonas e em Roraima – que obteve o melhor desempenho do ranking –, Marcus Evangelista lembra que a economia do Estado vizinho passa por um boom atual do agronegócio. “Eles estão em franco crescimento nesse setor, que está empregando muitas pessoas. Isso se reflete nos números e a tendência é que cresçam ainda mais ao longo deste ano. A coisa está muito aquecida nessa atividade”, arrematou.

Pandemia e estagnação

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o consultor econômico, coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas e ex-supervisor técnico do antigo escritório regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no Estado, Inaldo Seixas, lembrou que a pandemia ajudou a minar o indicador, inclusive pela possibilidade de as empresas reduzirem salários durante momentos cruciais da crise da covid-19.

O economista concorda que houve aumento significativo nos empregos do Amazonas, em paralelo com a produção industrial, graças à demanda reprimida e aos anseios por distanciamento social – que beneficiaram a demanda por motocicletas. Mas, observa que as negociações coletivas ofereceram mais dificuldades para que os trabalhadores conseguissem aumentos reais, ou mesmo o repasse da inflação “cheia”. 

“A estagnação da renda foi geral. Essa é uma questão que vai perdurar, e existem dificuldades para as empresas pagarem salários mais altos, apesar de que deveriam recompor, porque a inflação está mais alta. Os dados refletem um momento conjuntural cheio de incertezas, pela inflação, dólar e juros subindo. Estamos vendo uma diminuição das expectativas. Não deveria ser assim”, encerrou.  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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