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Safra de grãos com avaliação de queda no Amazonas

Safra de grãos com avaliação de queda no Amazonas

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reforçou, em sua avaliação de novembro, projeção de queda para a safra de grãos 2020/2021 do Amazonas. A estimativa ainda é que o rendimento global das culturas locais de arroz, feijão, milho e soja não passe de 35,9 mil toneladas, o que equivale a um tombo de 13,9% em relação à safra 2019/2020 (41,7 mil toneladas), quando o Estado contabilizou crescimento de 7,8%. 

Assim como o volume de produção, a área de plantio total no Amazonas estimada pela Conab também é menor. O decréscimo esperado é de 14,4% para as culturas, de 18,7 mil hectares (2019/2020) para 16 mil hectares (2020/2021). Em contraste, a produtividade sinaliza alta de 0,6% na relação quilograma/hectare, passando de 2.230 kg/ha para 2.244 kg/ha. Fontes ouvidas pelo Jornal do Commercio se dividem em relação ao resultado, questionando os números, ou apontando leniência na regularização fundiária. 

Três das quatro culturas que compõem a cesta amazonense de grãos aparecem com projeções no vermelho e apenas uma concentra estimativa positiva. O único crescimento aguardado pela Conab para o Amazonas vem da safra de arroz (5.700 toneladas), que sinaliza incremento de 5,6% sobre o período anterior (5.400 toneladas). Como seria de se esperar, a expansão ficou mais modesta do que a registrada neste ano (+100%). 

Em contraste, o milho (23,2 mil toneladas) desponta com o pior índice de desempenho da lista, ao figurar com recuo de 18,3% sobre 2019/2020 (28,4 mil toneladas). Com estimativa de 4.600 toneladas, a soja comparece com o segundo maior percentual de redução (-13,2%) em relação à safra anterior (5.300 toneladas). Já o feijão (2.600) deve emendar o segundo ano seguido com produção menor (-7,7%), com 2.400 (2020/2021) contra 2.600 (2020/2021) toneladas. Os respectivos desempenhos anteriores foram +3,3%, 0% e 18,8%.

Área e produtividade

A estimativa para a área de plantio do arroz (2.500 hectares) é 4,2% maior do que a apresentada um ano antes (2.300 hectares) e a única a ser maior do que a da safra anterior. O milho foi o produto que sofreu o maior tombo entre 2019/2020 (11,2 hectares) e 2020/2021 (8,9 hectares). Na sequência, vieram a soja (2.000 hectares) e feijão (2.600 hectares), cujas áreas devem sofrer 13% e 7,1%, respectivamente em relação ao intervalo anterior (2.300 e 2.800, na ordem). 

O contrário pode ser dito sobre a produtividade, onde nenhuma cultura aparece com desempenho menor. O melhor número de crescimento (+2,8%) aparece no milho (2.607 kg/ha), seguido pelo arroz (+1,3% e 2.269 kg/ha). Na safra de 2019/2020, os índices de crescimento foram +1,4% e -0,5%. Soja (2.300 kg/ha) e feijão (921 kg/ha), por outro lado vez, sinalizam estabilidade, entre uma safra e outra. 

Regulação fundiária

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, lembra que, enquanto o feijão é cultivado principalmente pela agricultura familiar e em áreas de várzea, a produção de milho, soja e arroz está concentrada no Sul do Amazonas e vem de produtores de médio, com experiência anterior na atividade e utilização de mecanização agrícola. Mas, o dirigente lembra que, embora sejam produtores estabelecidos, a maioria ainda não tem a titulação de suas áreas, a cargo principalmente da União.

“Essa expectativa de redução na safra de grãos em nosso Estado mostra a necessidade da continuidade do fortalecimento das políticas públicas para grãos, principalmente para a aceleração da regularização fundiária e simplificação do licenciamento ambiental. Os preços estão favoráveis para grãos, principalmente para soja e milho, demandados pelo mercado internacional. Mas, sem isso, o produtor não tem a segurança necessária para investir”, argumentou.

Fé no ajuste

Já o titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, não descarta a possibilidade de queda na produção do feijão, mas salienta que o governo deve fomentar sementes para os agricultores, no próximo ano. Mas, estranhou os números referentes à soja e ao milho. O secretário ressalta, entretanto, que esta é apenas a segunda entre as dez ou 12 avaliações que a Conab fará para a safra de grãos 2020/2021 e que não tem dúvidas de que esse número deverá ser ajustado pela estatal federal, ao longo dos próximos levantamentos. 

“A própria Conab distribuiu sementes de milho ao Amazonas, por meio da Sepror e do Idam, por isso não vejo razão para recuo. Quanto à soja, só em Humaitá já devemos ter plantado mais de 500 hectares para o ano que vem. Aliás, em outubro, tivemos recorde de exportação. E o arroz, segundo a própria Conab, terá crescimento de 5,6%. Vejo a produção de grãos em uma crescente, no Estado. É perfeitamente possível conciliar produção com o meio ambiente, nos campos naturais e em áreas degradadas do Sul do Estado”, garantiu.

“Números equivocados”

Mais veemente, o ex-superintendente da Conab, administrador com especialização no agronegócio e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, diz não ter dúvidas de que os números da Conab “estão equivocados” e que isso será corrigido, mais adiante. Ele ressalta que o GCEA (Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Amazonas) – que inclui Idam, IBGE e Conab, entre outros – costumava se reunir para analisar esses dados, mas estima que isso deixou de acontecer.

“O GCEA foi criado para evitar erros, mas, pelo visto, não estão se reunindo nem remotamente, e não está havendo diálogo entre os órgãos. Não consigo enxergar redução na produção de soja, pois conheço as pessoas envolvidas e tenho até as imagens de um campo novo, em Humaitá. De onde a Conab tirou a informação de que a safra diminuiu? Veio do Idam? Se estiver recuando mesmo, vamos divulgar. Mas, houve discussão? Isso é muito sério, porque um número negativo divulgado em nível nacional é ruim e pode desestimular investidores”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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