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Veneno da cascavel amazônica pode ser poderoso antibiótico

Veneno da cascavel amazônica pode ser antibiótico, aponta estudo

Ainda que os acidentes causados por serpentes no Amazonas tenha reduzido de 1.906, entre janeiro e outubro do ano passado, para 1.691 no mesmo período deste ano, a FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) alerta que estes animais continuam sendo os principais causadores de acidentes envolvendo animais peçonhentos, à frente de escorpiões, aranhas, abelhas e lagartas. Porém, o veneno das serpentes pode ter um lado benéfico.

Estudo científico publicado na revista ‘Scientia Amazonia’ mostrou que toxinas presentes no veneno da cascavel amazônica, variedade ‘amarela’, são capazes de matar bactérias e linhagens de células cancerígenas de tumores de pele, mama e colorretal. O veneno é uma mistura rica e complexa de proteínas.

“Nosso grupo de pesquisa, liderado pela Profa. Dra. Maria Cristina dos Santos, da Ufam, estuda o veneno da cascavel amazônica (Crotalus durissus ruruima) desde 1990, ela inclusive caracterizou as atividades biológicas do veneno branco e do amarelo e mostrou que o veneno amarelo induzia atividade hemorrágica não descrita para os venenos de cascavéis brasileiras”, explicou a pesquisadora Ilia Santos.

A Crotalus durissus ruruima é uma das cinco subespécies de cascavel existentes no território brasileiro, tendo seu habitat no estado de Roraima. O veneno do animal apresentou atividade antibacteriana contra a bactéria Gram-positiva Staphylococcus aureus, e ação citotóxica contra linhagens de células tumorais.

A pesquisa realizada por Ilia dá continuidade aos estudos realizados pelo grupo de Maria Cristina, feita em parceria com as doutoras Consuelo Latorre Fortes Dias, da Funed-MG (Fundação Ezequiel Dias), e Cecília Verônica, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), e Laboratório de Atividade Biológica da Ufam.

Potencial fármaco

Ilia lembrou que os venenos de serpentes brasileiras têm sido constantemente estudados e os resultados se mostrado satisfatórios como, por exemplo, no desenvolvimento do Captopril (anti-hipertensivo), liberado para uso desde o início da década de 1980 e primeiro fármaco proveniente de veneno de serpente a chegar ao mercado farmacêutico; e do Batroxobin (anti-hemorrágico), cujos efeitos eram pesquisados desde a década de 1970, ambos derivados de uma substância isolada do veneno de jararaca.

Jararaca, veneno produz anti-hipertensivo e anti-hemorrágico

Sobre se a ação do veneno da cascavel poderá, inclusive, substituir antibióticos para os quais bactérias já haviam se tornado resistentes, Ilia informou que estudos continuam sendo realizados para essa comprovação.  

“São necessários mais testes para afirmarmos isso, mas o propósito de estudarmos atividades antimicrobianas nos venenos de serpentes é contribuir para a descoberta de novas moléculas que futuramente poderão ser usadas para o desenvolvimento de fármacos, uma vez que a resistência bacteriana é um problema de saúde pública global, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)”, lembrou.

Os primeiros testes realizados pelo grupo foram com o veneno bruto e mostraram que a capacidade de matar bactérias e linhagens de células cancerígenas de tumores de pele, mama e colorretal podem estar relacionadas a uma toxina presente no veneno, que está sendo isolada e caracterizada bioquimicamente.

“A cascavel amazônica é capaz de produzir as duas variedades de veneno, o branco e o amarelo. Nós testamos os dois venenos, porém somente o amarelo apresentou atividade para a bactéria e linhagens tumorais testadas”, acrescentou.

Carência de laboratórios 

Esses primeiros testes estão sendo realizados em culturas de células. Até o veneno ser transformado em medicamento, há um longo caminho de testes ‘in vitro’ e ‘in vivo’ a ser percorrido para, primeiro em animais de laboratório, avaliar sua eficácia, toxicidade e efeitos colaterais e só depois, então, ser testado em humanos. Ilia aproveitou para lembrar que, apesar do potencial dos venenos das serpentes amazônicas virem a ser transformados em medicamentos, a região carece de laboratórios com maior estrutura para as pesquisas. 

“Precisamos de toda uma estrutura que vai desde um Instituto que mantenha serpentes em cativeiro para extração de venenos, e também na produção de antivenenos, pois os produzidos no Brasil não neutralizam com eficácia os venenos das serpentes amazônicas, além de biotérios para testes em animais e laboratórios para o desenvolvimento de medicamentos”, avisou.

O projeto ‘Potencial antibacteriano e citotóxico dos venenos variedades ‘amarela’ e ‘branca’ da serpente amazônica Crotalus durissus ruruima’ foi desenvolvido na Ufam, em Manaus; e na Funed, em Belo Horizonte, amparado pelo Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados para o Interior do Estado do Amazonas, da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas).

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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