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Victor Fassina e as madeiras com potencial fungicida

Substâncias encontradas em diferentes espécies de madeiras da Amazônia têm potencial uso fungicida contra fungos e cupins, causadores de terríveis danos em madeiras. Com apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), pesquisa realizada em Itacoatiara, sob a coordenação do doutor em Ciências Florestais da UEA, Victor Fassina Brocco, mostra a importância da utilização dessas substâncias, não só no segmento industrial madeireiro e moveleiro, conforme falou ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio: A partir de quando você concluiu que resíduos de madeira poderiam ter potencial fungicida? 

Victor Fassina: Em 2012, durante meu mestrado, comecei a ler alguns artigos científicos sobre a relação da constituição química e a durabilidade natural de certas madeiras. Alguns compostos químicos presentes nelas, chamados de ‘extrativos’, influenciam fortemente na sua durabilidade natural. Existem diversos trabalhos internacionais sobre testes removendo tais extrativos de madeiras de elevada durabilidade natural, aplicados em madeira de baixa durabilidade e alcançando bons resultados contra fungos e cupins. A ideia do uso dos resíduos veio assim como na madeira bruta, pois esse material pode conter uma quantidade considerável desses extrativos. Durante o nosso trabalho utilizamos as serragens de algumas espécies locais, um resíduo gerado em grande quantidade nas serrarias.

JC: Quais são as madeiras pesquisadas por você e o que são exatamente esses extrativos? 

VF: Durante a pesquisa nós estudamos resíduos de espécies vulgarmente conhecidas como angelim, tanimbuca, louro pardo, louro faia, tauari e maçaranduba. Os extrativos podem compreender diversas substâncias extraíveis em água, e alguns solventes orgânicos como o álcool, por exemplo. Os extrativos são compostos naturalmente produzidos pelas plantas através de seu metabolismo secundário e podem conter várias substâncias aromáticas, óleos, ceras, resinas, taninos e corantes, entre outros. Ainda não realizamos a identificação química das substâncias específicas presentes no extrato de cada espécie, mas pretendemos realizar essa análise química em uma continuação da pesquisa, com os extratos que apresentaram maior eficácia.

JC: Outras espécies de árvores poderiam ter tal potencial? 

VF: Geralmente madeiras popularmente conhecidas por sua elevada durabilidade natural ao ataque de fungos e cupins podem conter certos extrativos com efeito inibitório desses organismos, no entanto, é importante a realização de testes biológicos com os extratos obtidos, pois mesmo extratos extraídos de algumas madeiras de elevada durabilidade natural podem não apresentar desempenho satisfatório.

JC: Explique como é o processo utilizado em sua pesquisa para comprovar a eficácia dessas substâncias. 

VF: Nós utilizamos a serragem coletada durante o processamento da madeira e fazemos a extração em álcool. Durante a extração, a serragem fica em contato com o álcool, sob agitação, em um recipiente fechado. A aplicação do extrato em outras madeiras pode ser realizada de várias maneiras, no nosso caso, nós concentramos os extratos obtidos e imergimos uma madeira de baixa durabilidade nesses extratos, para que a madeira pudesse absorver a máxima quantidade dele. Mas a aplicação pode ser realizada de outras maneiras, como pincelamento ou pulverização.

“Acredito que necessitamos de mais pesquisas sobre o tema e trabalhar com outras espécies”

Victor Fassina

JC: Então as árvores que possuem esses componentes químicos não são atacadas por fungos e cupins? 

VF: Podemos dizer que essas árvores possuem alto poder de inibição a fungos e cupins, e são mais resistentes ao ataque de tais organismos.

JC: De que forma o combate a fungos e cupins seria importante para os segmentos da indústria madeireira e moveleira? 

VF: Os fungos e cupins são os organismos causadores dos maiores danos à madeira em serviço, então toda madeira que possui baixa a moderada resistência natural necessita de algum tratamento ou conjunto de medidas para conferir maior proteção durante seu uso, aumentando assim sua vida útil nos diversos meios em que é utilizada. Utilizar esses extrativos seria muito importante economicamente.

JC: O que falta para as substâncias pesquisadas por você serem exploradas e comercializadas? 

VF: Acredito que necessitamos de mais pesquisas sobre o tema e trabalhar com outras espécies. Precisamos também de análises químicas mais detalhadas desses compostos para identificar de fato quais substâncias estão presentes nesses extratos. Processos de extração mais efetivos, de baixo custo e adaptados para serem utilizados em larga escala poderiam atrair o interesse de outras indústrias como as do ramo de cosméticos, farmacêuticas, de proteção e acabamento da madeira e de produtos químicos em geral. É importante lembrar que nesses resíduos podemos encontrar moléculas orgânicas de alto valor agregado e na maioria das vezes, esse material é manejado de forma incorreta, se acumula em grandes pilhas, muitas vezes é queimado e se torna um problema socioambiental.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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