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Região Norte tem a menor renda do País

Região Norte tem a menor renda do País

As populações do Norte do país contam com a menor média de rendimento per capta em todo o país. Como resultado, as despesas pesam mais nos bolsos das famílias. É maior a dependência dos serviços subsidiados pelo Estado brasileiro na saúde e na educação e uma parcela ainda menor do que a da média nacional consegue passar pelo gargalo do acesso a planos de saúde e universidades – onde a maior oferta se concentra na iniciativa privada. Os dados estão na POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) – Perfil das Despesas no Brasil, divulgada na sexta-feira (25), do IBGE.

Entre 2017 e 2018, a média de renda disponível era de R$ 1.650,78, em todo o território brasileiro, e de R$ 938,06, no Norte do país. A região registrou o menor valor do país, ou menos da metade das remunerações do Sudeste (R$ 2.003,22) – o teto da lista. O rendimento per capta familiar variou de R$ 168,96 a R$ 9.607,75, conforme a classe socioeconômica. Em torno de 86,71% (R$ 813,39) da renda nortista foi obtida de forma monetária, 22,53% (R$ 211,34) de maneira não monetária, e 9,24% (R$ 86,68) ficaram em impostos diretos, contribuições e outras deduções. 

“A parcela monetária da renda corresponde a valores que vêm do trabalho ou de transferências, como aposentadorias, pensões e programas sociais. Já a renda não monetária se refere a valores de bens e serviços que as famílias não precisam pagar, o que inclui os providos pelo governo, instituições e outras famílias, como um remédio retirado em um posto de saúde, um presente recebido de alguém ou uma hortaliça retirada da própria horta”, explicou o analista da pesquisa, Leonardo Oliveira, em texto postado na Agência de Notícias IBGE.

As despesas de consumo, por outro lado, totalizaram R$ 1.370,53, sendo a maior parcela com habitação (R$ 466,34), seguida do transporte (R$ 234,08) e da alimentação (R$ 219,44). O estudo não informa os respectivos valores para o Norte. Entre as despesas com moradia contabilizadas na região, 7,96% vinham de aluguel, 88,38% de aluguel estimado, 1,22% de condomínio e 2,44% de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) ou ITR (Imposto Territorial Rural). 

Despesas com serviços de utilidade pública, como energia elétrica, água e esgoto, gás doméstico e comunicação (telefone fixo e celular, TV por assinatura e internet), foram de R$ 114,12 no Brasil, sendo os maiores gastos com serviços de comunicação (R$ 45,16) e energia elétrica (R$ 39,64), seguidos por água e esgoto (R$ 16,60) e gás doméstico (R$ 12,73). Na região Norte, os dispêndios tiveram as respectivas participações: 28,83%, 46,62%, 9,51% e 15,03%. Na média nacional, as famílias proporcionalmente mais pobres gastavam mais com energia e as mais ricas, com serviços de comunicação.

Planos de saúde

A despesa per capita com saúde foi de R$ 133,23, em âmbito nacional. No Norte, 69,36% vieram na forma monetária e 30,64% pelo meio não monetário. Do total de gastos nortistas para esse fim, a maior parte foi para serviços de saúde (57,23%) e o restante foi consumido em medicamentos e produtos farmacêuticos (42,76%) – a média nacional pontuou 64,91% e 35,09%, na ordem.

Pelo menos 26,2% dos brasileiros pertenciam a famílias que tiveram alguma restrição a serviços de saúde e 16,4% a medicamentos. Na região Norte, a falta de dinheiro foi o principal motivo alegado, tanto para o primeiro caso (66,67%), quanto para o segundo (75%). Indisponibilidade (29,17% e 20%) e dificuldade de acesso ao local (12,5% e 10%) também fazem parte da lista.

A pesquisa também mostra que apenas 18,1% dos brasileiros viviam em famílias em que todos possuíam plano saúde e 17,4% em que ao menos uma pessoa tinha o serviço. A maioria, contudo, vivia em famílias em que ninguém tinha plano de saúde (64,4%) e dependia exclusivamente do SUS ou do desembolso direto. Na região Norte, a cobertura total dos planos de saúde atingia apenas 7,5%, enquanto a parcial respondia por aproximadamente 15% e nada menos do que 83,75% não contavam com o benefício. 

Subsídio na educação

A despesa média com educação foi de R$ 120,16 por pessoa, no Brasil. O Sudeste contribui com 52,8% (R$ 63,45) da média, mais que o dobro do Nordeste, a segunda que mais contribui, com 19,8% (R$ 23,74). O Norte contribui para 3,5% (R$ 4,25) da média de gastos com educação por pessoa, no Brasil.

Em torno de 61,65% das despesas nortistas com educação foram originadas de gastos não monetários, ao passo que a despesa monetária respondeu por apenas 38,59% do total – contra os respectivos 56,7% (R$ 68,13). 43,3% (R$ 52,03) da média nacional. O ensino fundamental (37,88%) respondeu pela melhor proporção dos dispêndios totais nos Estados nortistas, seguido pelo superior/pós-graduação (24,70%), médio (14,82%) e a creche/pré-escola (5,18%).

O IBGE salienta que, da creche ao ensino médio, a despesa não monetária supera com folga a monetária, já que a oferta é subsidiada majoritariamente pelo Estado. No Norte, o maior desnível está no ensino médio, onde passivo subsidiado supera o desembolso direto. O oposto ocorre no ensino superior/pós-graduação, dado o papel preponderante das instituições privadas, com os dispêndios monetários superando os não monetários em 62,5%.

“Atrás do Brasil”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, destacou à reportagem do Jornal do Commercio que a região Norte as tem as menores médias de valores de renda disponível familiar per capita. Como consequência, o Índice de Gini da Região é o mais desigual do país. De acordo com o pesquisador, os dados refletem uma população com menos acesso à renda e a melhores condições de vida.

“Os nortistas são os que menos gastam com saúde, tanto nas compras de medicamentos, quanto com serviços de assistência à saúde, sem que isso esteja ligado a uma boa cobertura da saúde pública gratuita. A proporção de pessoas nas famílias onde pelo menos uma possui plano de saúde é a mais baixa do país. Segundo as pessoas, o maior motivo para restrição à saúde é a falta de dinheiro”, apontou.

Adjalma Nogueira Jaques salienta ainda que os moradores do Norte também são aqueles que desprendem os menores valores com a educação, em todos os níveis de ensino, o que não significa uma educação púbica de qualidade em relação às outras regiões. “Em síntese, os dados relativos ao perfil de despesas mostram que seus moradores estão atrás das demais regiões do Brasil. Isso leva a condições mais desfavoráveis na vida das pessoas”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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