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‘Política ainda é um espaço masculinizado’ diz Dora Brasil

‘Política ainda é um espaço masculinizado’ diz Dora Brasil

Candidata a vice-prefeita pela chapa ‘puro-sangue’ do PCdoB, a educadora Dora Brasil conta com expertise na profissão, sensibilidade social e longa vida sindical e militância partidária para convencer o eleitorado manauense a apoiar as propostas do partido. E também para ajudar o titular da dobradinha, o advogado Marcelo Amil, na eventualidade de uma vitória. Formada em Letras e pós-graduada em Educação, a candidata conta com 39 anos na agremiação e já integrou a administração municipal em outras legislaturas. Trabalha atualmente na Seduc, com diversidade e temas transversais da educação, e diz é “professora por formação e feminista por opção”. A sensibilidade às pautas femininas em particular e aos sociais em geral segue em sintonia com seu partido.

Sob o lema “A esperança ainda mais viva”, o PCdoB tem 19 de suas 62 candidaturas oficializadas à Câmara Municipal disputadas por mulheres. Para a educadora, contudo, as mulheres devem lutar para conquistar um espaço público maior e o Estado brasileiro deve contribuir para que isso aconteça. Na conversa com o Jornal do Commercio, Dora Brasil, fala de suas propostas para transporte público, saúde e desburocratização, entre outros temas. E promete que a dobradinha do PCdoB não vai abrir mão da força de sua militância, apesar de assinalar que terá todos os cuidados necessários em tempos de pandemia, e que não vai descuidar da comunicação nas redes sociais. Leia a entrevista, a seguir. 

JC – Neste ano, temos a participação de quatro mulheres concorrendo nas chapas majoritárias, ainda que para cargo de vice-prefeita. Qual sua avaliação desse processo e qual o diferencial que as mulheres oferecem em suas candidaturas? 

DB – Infelizmente, ainda é pouco, já que concorrem apenas como vices. Somos a maioria do eleitorado e o espaço que ocupamos nas funções públicas e de poder não é proporcional. Quando se fala da mulher como minoria é do ponto de vista apenas social. Mesmo assim, acho que está sendo legal essa participação. É claro que precisamos evoluir muito, pois a política ainda é um espaço masculino e masculinizado. Isso acontece também nos espaços extra-parlamento, como na luta sindical, nas associações de moradores, etc. Precisamos triplicar nossa força. Parece que temos que mostrar que somos competentes. O senso comum, inclusive de muitas mulheres, é de dizer “não sou feminista, sou feminina”, quando uma coisa está intimamente relacionada à outra. Feminismo não tem um sentimento de superioridade da mulher, mas de igualdade social. O Estado precisa estabelecer políticas públicas, o que é novo em nosso país. Surgidas recentemente, as cotas de 30% são discriminações positivas que incentivaram os partidos a correr atrás das mulheres para suas chapas. 

JC – Manaus está crescendo muito e tem muitos problemas para um orçamento limitado.  Quais são as três problemas prioritários, na visão de sua chapa, e quais são as respectivas propostas para combatê-los?

DB – Nossa prioridade é trabalhar para que a vida dos manauaras se torne melhor. Essa eleição é aquela que dialoga mais com o eleitor. O município é responsável por questões do dia a dia. Um dos problemas é a demora do transporte coletivo. Temos uma proposta, que inclui a mudança do ônibus pelo VLT [veículo leve sobre trilhos]. Outra coisa é a área social e um exemplo surge quando vemos o aumento da população de rua de Manaus. Não há políticas para essas pessoas. Em 2010, a quantidade era infinitamente menor, mas hoje vemos essa situação em cada esquina. São crianças, jovens, portadores de deficiência. Cuidar da vida das pessoas é nossa prioridade e são as pequenas coisas que fazem a diferença. Temos muitas mulheres vítimas de violência, na cidade. Temos que começar um trabalho de base e articulado com as secretárias. E o espaço privilegiado para isso está na educação, que deve ser cidadã, emancipadora e responsável, eliminando todo tipo de preconceito e melhorando a sociedade. O município cumpre esse papel quando fortalece os centros de referência social, além de construir quadras poliesportivas. É necessário que hajam mais parques do Idoso em Manaus, assim como mais espaços para a juventude, que não tem alternativas ou perspectivas. Ela precisa também de cursos gratuitos de informática e inglês.   

JC – Qual é a estratégia de militância do PCdoB para fortalecer a campanha nas ruas?

DB – Estamos programando várias estratégias. Hoje, as redes sociais cumprem um papel importante, mas temos uma militância, que não é paga e já construiu sua luta nesta cidade e continua nos grêmios estudantis. Além de usar e abusar das redes sociais, vamos também potencializar nossa participação nas ruas, com todos os cuidados, máscaras, álcool em gel, distanciamento… Mas, não vamos nos distanciar das ruas. Nossos candidatos à Câmara Municipal estão nas comunidades e bairros, com orientações permanentemente. Temos cursos de capacitação para orientar nossos candidatos para chegar junto ao eleitorado, com todo o cuidado. Vamos continuar também com nossos mutirões e bandeiraços. O PCdoB vai invadir as ruas de Manaus, apresentando alternativas para melhorar a vida das pessoas.

JC – E quanto à saúde? Temos um repique na pandemia e já se fala em segunda onda. Ao mesmo tempo, a cobertura da saúde básica voltou a centro dos debates. Como aumentar essa rede? 

DB – Primeiro, é necessário ampliar a quantidade de UBS [unidades básicas de saúde] e fortalecer o atendimento à saúde básica. Isso vai ajudar a reduzir as filas na rede de saúde de alta complexidade. Pretendemos também promover concursos públicos e estruturar, não apenas materialmente, para que as pessoas sejam atendidas, inclusive com o medicamento básico. Precisamos fortalecer essa porta de entrada, assim como na prevenção. É necessário que os agentes de saúde sejam valorizados, para que intensifiquem as visitas naquelas residências com condições mais vulneráveis. Tem todo um processo por trás da saúde, que inclui a questão sanitária e de higiene. Precisamos também dar maior atenção à saúde da mulher, porque Manaus bate recorde em câncer de colo uterino, por exemplo. Temos ainda que combater institucionalmente a violência obstétrica. 

JC – Estamos tendo uma polêmica em torno do retorno às aulas em meio às suspeitas de uma segunda onda da pandemia em Manaus. O que os senhores fariam em relação ao assunto, se estivessem no comando da prefeitura hoje? 

DB – Como professora, sou contra o retorno às aulas, neste momento. Anos letivos podem ser recuperados, mas vidas, não. Penso que o ensino remoto deveria atender essa demanda durante este ano. Poderíamos fazer como a Ufam. Justiça se faça: o município, corretamente, não retornou com o ensino letivo. É aquela coisa: pode ter a imunidade de rebanho, mas ninguém sabe como seu organismo vai reagir. Outra coisa: o município cuida da educação até o nono ano. São crianças de até 14 anos e é muito difícil controlar o contato, e a interação social é parte do processo pedagógico. E a infraestrutura de nossa rede escolar não é boa. Antes de discutir o retorno ou não, temos de debater a implementação dos protocolos de saúde e como vamos receber os alunos. Temos que perguntar se temos álcool em gel suficiente e um corpo docente preparado. A maioria dos professores sofre de hipertensão, diabetes, e estão no grupo de risco.

JC – Qual sua expectativa em relação à inserção de sua campanha via rede social? A senhora disse que vai priorizar a campanha por esse meio, que depende muito de impulsionamentos e isso gera uma despesa alta. Os impulsionamentos estão nos planos do partido? Que tipo de conteúdo deve ser trabalhado?

DB – Faremos tudo que estiver ao nosso alcance, e que nossas condições objetivas e nossa realidade material permitirem. Vamos impulsionar, se for possível, e usar todo o que estiver disponível. O conteúdo que vamos disponibilizar deve incluir vídeos e, sobretudo, propostas para a administrar a cidade. Mas, não vamos nos limitar às redes sociais, nem deixar de comparecer nas ruas, com carreatas e bandeiraços. Tudo com o distanciamento necessário.

JC – Uma das demandas dos brasileiros é por desburocratização e a senhora diz que tem muita experiência em gestão. Qual é a estratégia do PCdoB para reduzir a burocracia que acaba engessando o serviço público? 

DB – O município até que avançou bastante nessa questão. Um dos setores mais burocratas que existem nos Estados brasileiros é o do fisco, mas isso já melhorou muito em Manaus. Hoje, está muito fácil pagar os tributos pelo site e o consumidor tem acesso pela Semef, que pode ser melhorado. A situação melhorou muito na Central de Matrículas. Estado e município atuam juntos e não há mais necessidades de filas enormes para as mães conseguirem vagas para seus filhos. Mas isso pode melhorar, com a construção de escolas maiores e melhores. Hoje, temos 496 escolas e somos a terceira maior rede no país, em termos proporcionais. É muito, mas isso não é uma vantagem, porque a burocracia impede o acesso. Temos propostas para saúde, educação e na área de arrecadação.

JC – Quanto tempo os senhores têm de propaganda eleitoral gratuita na rádio e na TV? Qual é a estratégia para capitalizar esse tempo nas mensagens à população?

DB – Temos muito pouco tempo, porque é de acordo com a representatividade na Câmara. São aproximadamente 12 segundos. O tempo é curto, mas, com certeza, vai dar para falar de nossas propostas e o que a gente pensa para Manaus. 

JC – Já faz algum tempo que vemos situações de conflitos políticos entre vices e titulares de cargos do Executivo, tanto na administração pública municipal, quanto na estadual. São brigas que muitas vezes acabam em separação. A senhora vê essa possibilidade no caso de sua chapa?

DB – Sou uma mulher de personalidade forte e muito autentica. Mas, o nosso partido trabalha com unidade de ação. Não estamos isentos de ter divergências, mas não cabe, dentro do partido, brigas separatistas. Vamos atuar conjuntamente, com unidade de ação, para administrar Manaus. Então, não existe essa possibilidade. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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