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“Pesquisas sobre uso sustentável das oleoginosas merecem mais atenção”

Jornal do Commercio – O senhor segue uma linha preservacionista, mas também é um professor de Economia. É possível equilibrar manutenção do bioma amazônico e o crescimento industrial?

Jefferson Praia – Sim. O Amazonas já mostrou que é possível e o PIM é o melhor exemplo disso. Além do mais, os esforços brasileiros para redução do desmatamento na Amazônia brasileira são internacionalmente reconhecidos. Inicialmente, em função do pioneirismo tecnológico do país em monitorar as mudanças na cobertura florestal, realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), desde 1988, e também, pelos recentes êxitos de ações industriais que reverteram o incremento das taxas anuais de desmatamento.

JC – E os assentamentos autorizados pelo Incra não acabam ampliando o desmatamento?

Jefferson Praia – Concordo. Por isso critiquei publicamente várias vezes essa prática nociva para a imagem da Amazônia. De acordo com o próprio Ministério do Meio Ambiente, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desmatou milhares de hectares entre 2006 e 2008, além de dever aos cofres públicos milhões de reais em multas. Os assentamentos deveriam ser os primeiros a dar bons exemplos na contenção da devastação do nosso ecossistema.

JC – Há recursos suficientes para tornar mais eficiente e ecologicamente correta a indústria local?

Jefferson Praia – Votamos emendas que direcionam recursos que podem incrementar a ecoeficiência nas cadeias produtivas do setor. Esse volume é de aproximadamente R$ 75 milhões e vai servir à capacitação de microempresas. Para as empresas de pequeno e médio porte, os recursos são de R$ 20 milhões.

JC – Como o senhor avalia as recentes medidas do governo federal visando a diminuição do impacto que a tarifa de energia exerce no bolso do contribuinte de menor renda da região Norte?

Jefferson Praia – Apesar do atraso em ser implementada, a medida vai favorecer em muito o crescimento econômico das cidades do interior amazônicos, onde a falta de energia é uma realidade. Considero um avanço o governo ter constatado algo que todo mundo já previa: no atual sistema, em que a tarifa reflete os custos para levar energia aos consumidores, é cada vez mais difícil para populações atendidas por concessionárias das regiões Norte e Nordeste terem recursos financeiros para arcar com o fornecimento de energia.

JC – Como fazer para levar eletricidade com qualidade ao interior sem impactar no aspecto ecológico e sendo viável economicamente?

Jefferson Praia – O desafio de levar a eletricidade às comunidades isoladas está ligado à oportunidade de aproveitamento das oleaginosas nativas da Amazônia para a produção de biodiesel, a exemplo do babaçu e do muru-muru. Essa é a saída para os interiores. Por isso, as pesquisas sobre o uso sustentável das oleaginosas na produção de energia na Amazônia merecem maior atenção do governo e precisam ser ampliadas. Uma coisa é certa: temos de fazer investimentos em novas tecnologias, a fim de viabilizar as energias limpas.

JC – O senhor questionou na Comissão de Meio Ambiente alguns representantes do Ibama e do DNIT (Departamento de Infra-Estrutura de Transportes). Por outro lado, o senhor disse que a BR-319 é de fundamental importância para o Amazonas. Como alinhar os dois discursos?

Jefferson Praia – O problema é que o projeto de Lei de Conversão 5/09, proveniente da Medida Provisória 452/08, tornou menos rígida a regra de licenciamento ambiental para intervenções de reparo, melhoria e duplicação de rodovias federais, inclusive as que cortam a Amazônia. No caso específico dessa BR, já foi mostrado o quanto representa para a economia da região. Ferrovia não é uma saída economicamente viável. Quero asfalto, mas sem desmatamento. Temos de conciliar crescimento econômico com a questão ambiental.

JC – Mas existe uma pressão política contra o não-asfaltamento do trecho que falta?

Jefferson Praia – Não notamos entraves políticos em relação a isto. Sei que existe um desentendimento entre dois ministérios. O que é necessário neste momento é se chegar a um entendimento que alcance as duas linhas de raciocínio. Não dá é para permanecer o impasse, enquanto a região amazônica continua isolada do resto do país.

JC – O senhor é suplente na Comissão de Ética do Senado. PSDB, DEM e PDT defendem a licença do presidente da casa José Sarney. Como o senhor avalia a atual imagem da casa?

Jefferson Praia – É importante que se resolva o quanto antes esse impasse para evitar desgaste da imagem do Senado perante a opinião popular e a pressão da mídia. Em meio a sucessivas denúncias que atingem em cheio a casa, que vão desde as suspeitas de que o presidente tem uma conta não declarada no exterior até aquelas que sugerem que ele teria mentido ao negar que tivesse qualquer responsabilidade administrativa sobre a Fundação José Sarney. Entre agir para garantir o próprio futuro e a tranqüilidade do governo Lula, acho que seria interessante que o senador se afastasse do cargo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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