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Pecuária sai do vermelho no primeiro trimestre e mostra recuperação no AM

agronegócio

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

A pecuária amazonense ensaiou tentativa de recuperação no primeiro trimestre, após fechar 2021 com desempenho fraco. Apesar da disparada no preço da carne, o Amazonas conseguiu acelerar no segmento bovino de corte, mas segue distante dos patamares pré-pandemia. Já a atividade leiteira e a avicultura de postura sofreram mais o impacto da inflação no consumo das famílias e nos custos de produção, e encolheram em todas as comparações. É o que mostram as Estatísticas da Produção Pecuária do IBGE, compostas por três pesquisas trimestrais – abate, ovos e leite.

Foram abatidas 40.137 cabeças de bovinos, 28,30% a mais do que no trimestre anterior (31.283), totalizando 9.064,69 toneladas. A produção seguiu em um crescente ao longo de janeiro (11.685), fevereiro (13.698) e março (14.754). O resultado, contudo, ficou 2,01% inferior ao registrado em igual intervalo de 2021 (40.964), em que pese a quantidade de informantes ter sido menor. Mas, foi o pior desempenho para o período, desde 2010 (38.745). Vale lembrar que os abates foram crescentes a partir de 2011, chegando ao topo em 2017 (68.500), para começarem a cair nos anos subsequentes. 

O Estado seguiu em trajetória diferente da média nacional. O abate de bovinos chegou a 6,96 milhões de cabeças em todo o país, voltando a subir nos três meses iniciais de 2022, após dois anos de queda na comparação com o mesmo período do ano anterior. O incremento foi de 5,5% frente a igual intervalo de 2021, mas a comparação com o trimestre anterior apontou estabilidade. 

O abate de suínos (13,64 milhões) também avançou no Brasil (+7,2% e +1,5%), por ser uma proteína mais acessível ao consumidor, em tempos de inflação em alta. A situação foi o oposta no caso do abate de frangos (1,55 bilhão), apesar de esta também ser uma opção para o consumidor em tempos de carne vermelha mais cara. As quedas foram de 1,7%, em relação ao mesmo período do ano passado, e de 0,2%, na comparação com o dado capturado no acumulado dos três últimos meses de 2021. O IBGE não informou os dados do Amazonas, já que a quantidade local de informantes ficou abaixo de três nas duas atividades.

Ovos e leite

A produção amazonense de ovos de galinha, por sua vez, caiu 5,75%, na virada trimestral do ano, passando de 13.174 mil (2021) para 12.417 mil dúzias (2022). A produção ficou 16,51% aquém da apresentada um ano antes (14.873 mil dúzias), sendo o segundo número mais baixo da série histórica do IBGE, desde o começo da pandemia – só perdeu para o segundo trimestre de 2020 (12.419 mil dúzias). O mesmo movimento se deu em relação à quantidade de galinhas poedeiras (1,73 milhão), que encolheu 1,70% e 16,91%, respectivamente. As médias nacionais também foram negativas, em todas as comparações.

Já a aquisição de leite cru foi de 1,93 milhão de litros no Estado, sendo 16,81% inferior à quantidade registrada no trimestre precedente (2,32 milhões) e 25,77% menor do que a do mesmo acumulado de 2021 (2,60 milhão). A produção leiteira totalizou 5,90 bilhões de litros em todo o país, no mesmo período, o que equivale a recuos respectivos de 9,3% e de 10,3%, nas variações trimestrais.

“Contingenciamento de consumo”

Em seu comentário analítico para a reportagem do Jornal do Commercio, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinalou que o quarto trimestre votou a ter uma quantidade de abate “consideravelmente bom” para o período de pandemia, embora ainda em nível bastante acanhado, quando comparado aos números anteriores à crise sanitária. “Mesmo assim, voltou de um quadro bem negativo, o que demonstra um retorno do consumidor aos açougues”, amenizou.

O pesquisador aponta que a produção de ovos ainda não voltou ao patamar anterior à pandemia e situação semelhante ocorre com a produção de leite. O motivo mais provável, conforme Jaques, seria o impacto da inflação nas vendas e na capacidade de oferta. “Como o ovo é um item sensível a muitas ocorrências, é possível que os produtores estejam mantendo o nível, devido ao contingenciamento das compras no varejo, uma vez que seu preço subiu consideravelmente, nos últimos meses. A produção de leite também caiu significativamente, tanto o adquirido, quanto o industrializado. As baixas podem estar ligadas a uma demanda menor por parte do consumidor, uma vez que o mercado não registrou qualquer ocorrência na produção”, ponderou.

Exportações em destaque

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o supervisor da pesquisa, Bernardo Viscardi, explica que o aumento no gado bovino detectado em âmbito nacional foi influenciado pelo maior abate de fêmeas, que vinham sendo poupadas pelo produtor para procriação, devido à valorização nos preços dos bezerros. “Além disso, houve recorde de exportação de carne bovina para um primeiro trimestre”, completou.

Situação diferente ocorreu no rebanho suíno, cujos produtores tiveram de recorrer mais à demanda do mercado doméstico, para tentar compensar a queda nas vendas externas. Mas, em função da crise econômica, o retorno acabou sendo menor com a troca de clientela. “O aumento da oferta em um cenário de demanda enfraquecida por conta do menor poder aquisitivo das famílias contribuiu para a queda nos preços pagos ao produtor na comparação anual”, acrescentou.

Cheias e custos

Na mesma linha, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, reforça que a queda de oferta da carne é nacional e ocorre especialmente em função da pressão da demanda chinesa, e da maior atratividade do mercado externo para o produtor, que passa a receber em dólares. A consequência é o aumento do preço da arroba do boi e nas gôndolas do supermercado. No caso do Amazonas, prossegue o dirigente, há ainda o impacto das cheias atípicas dos últimos anos. 

“Grande parte do gado que estava em terras de várzea passou para terra firme nos últimos dois meses e isso dificulta a engorda. No caso da produção de ovos e leite, há principalmente a pressão dos custos de produção, pelo aumento dos preços da soja e do milho, que são a base da ração animal”, concluiu, acrescentando que as atuais condições fiscais do Tesouro Nacional não permitem um retorno da política de formação de estoques, o que poderia atenuar a pressão dos preços. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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