Pesquisar
Close this search box.

Patrick Colares cria estátuas em argila com foco regional

Conta a história que após Michelangelo acabar de esculpir a estátua de Moisés, ela havia ficado tão perfeita que ele começou a gritar perguntando-lhe: por que não falas? Com o parintinense Patrick de Lima Colares nunca aconteceu isso porque suas esculturas (em argila) não passam de um metro de altura, mas impressionam pela perfeição dos detalhes.

Patrick é mais um dos artistas da ilha Tupinambarana descoberto pelo religioso irmão Miguel Pasquale, o ‘pai’ de todos os artistas de Parintins. Como os demais artistas plásticos parintinenses, Patrick começou com o desenho e a pintura, mas diferente destes, acabou se destacando na escultura em argila.

“Eu tinha dez anos quando comecei a frequentar a Escolinha Mini Arte, do irmão Miguel, embora ele não aceitasse alunos com menos de onze anos de idade. Na concepção dele, as mentes com menos de onze anos não tinham capacidade para assimilar os ensinamentos artísticos, então em menti pra ele e entrei na Escolinha, comprovando que sua teoria estava errada”, riu.

Na escolinha, Patrick ficou um ano se aperfeiçoando na arte do desenho. Depois passou para a pintura, onde estudou mais três anos. Quando estava com 15 anos, já dominando o desenho e a pintura, surgiu a oportunidade de se tornar escultor.

“Ninguém queria aprender escultura, em gesso e argila, porque a gente ficava todo sujo, as mãos, a roupa. Um dia, o garoto que ensinava os outros teve que vir para Manaus e o irmão Miguel perguntou quem queria ficar no lugar dele. Eu e mais alguns nos apresentamos. Fizemos o teste e eu fui o escolhido, esculpindo um São João Batista. Apesar das desvantagens, tinham as vantagens”, lembrou.

Pescador de tucunarés – Foto: Divulgação

Na escultura, ganhava sozinho

As desvantagens é que os alunos de escultura ficavam sujos com o pó tanto do gesso quanto da argila.

“Tinha até certo preconceito. Os meninos bons no desenho e na pintura eram logo chamados para trabalhar nos bois, enquanto os de escultura, não. A desvantagem na pintura é que o dinheiro da venda dos quadros que eles pintavam na Mini Arte acabava dividido com todos, inclusive com quem não tinha vendido nada. Na escultura, como era só eu, o dinheiro ficava todo comigo”, revelou.

Todos os desenhos, pinturas e esculturas produzidos na Mini Arte eram sacros, comercializados por irmão Miguel para igrejas de vários locais e mesmo pessoas que iam até a Escolinha encomendar os trabalhos, tão bem feitos eram. O religioso ficava com a metade do dinheiro e a outra metade era do aluno/artista.

Patrick lembra que, desde aquela época, início da década de 1990, ele esculpia as estátuas em argila, deixava secar e depois levava para queimar no forno da olaria Cemopa (Cerâmica Moderna de Parintins), até hoje existente na cidade e onde ele continua a queimar os seus trabalhos.

“As estátuas de gesso eram feitas com formas, que o irmão Miguel sempre trazia da Itália, mas as de argila eram esculpidas direto na argila. Entrei na Escolinha, em 1992, como aluno, e saí em 2001, como instrutor”, contou.

Do gesso e argila, para o isopor, em 1999, quando finalmente Patrick foi trabalhar num bumbá, o Garantido, esculpindo as imensas estátuas nesse material.

“Fiquei dez anos no Garantido e, em 2010 fui para o Caprichoso, onde estou até hoje”, disse.

O curumim e seu xerimbabo – Foto: Divulgação

Gigantes de isopor

Patrick também seguiu o mesmo caminho de outros artistas parintinenses: as escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2004 ele começou a trabalhar em São Paulo, primeiro na Império da Casa Verde, e depois em outras escolas. Nos últimos cinco anos trabalhou no Rio de Janeiro. A pandemia fez parar a sua agitada vida de escultor em grandes festas, e ele se voltou às esculturas em argila do início de seu aprendizado.

“Meu grande sonho é ter um ateliê com uma loja onde eu exponha e venda minhas esculturas, mas nunca tive tempo pra isso. No final de um ano e começo do outro estou trabalhando para as escolas de samba; depois venho trabalhar no Festival Folclórico de Parintins; em seguida vou trabalhar no Festival de Cirandas de Manacapuru; aí o ciclo recomeça outra vez”, explicou.

Com a pandemia, não teve mais Festival Folclórico e de Cirandas, em 2020; e este ano o Carnaval entrou na lista de cancelamentos. Restou a Patrick esculpir e vender suas estátuas para não ficar sem dinheiro. E elas voltaram a render um bom dinheiro para o escultor desde que começou a produzi-las, ainda no ano passado, exatamente como quando ele era um adolescente.

“Faço qualquer figura. Basta a pessoa me dizer o que quer. O pessoal de Parintins encomenda muito a imagem de N. Sra. do Carmo, mas também o São Francisco e o Santo Antônio saem bem. A maior estátua que fiz até agora foi uma de Santo Expedito, com 80 cm de altura. Não faço maior porque o forno da Cemopa é pequeno”, falou.

Santo Expedito, a maior de todas, com 80 cm de altura – Foto: Divulgação

Quem quiser conhecer suas esculturas, as pequenas e as gigantes, do Carnaval, pode dar uma olhada em seu Face, Patrickolares Colares, ou solicitar fotos pelo 9 9296-6431. Encomendas são bem-vindas.        

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar