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O Papai Noel fora de época e seu jipão em Manaus

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A Hungria é um país pouco conhecido no Brasil, ainda mais em Manaus, mas alguns filhos deste distante país europeu moram aqui há muito tempo e já se incorporaram ao estilo manauense de viver.

“Conheço umas cinco famílias de húngaros vivendo em Manaus, já com filhos nascidos aqui”, falou Loránd Lajos Jelényi, há 28 anos no Brasil, há 26 na capital amazonense.

“Desde adolescente sonhava viver nos Estados Unidos. Quando estava com 21 anos resolvi ganhar o mundo deixando minha família e meu país para trás”, recordou o húngaro.

Em 1988, com a Hungria ainda vivendo em regime comunista e proibindo seus cidadãos de viajarem livremente, Loránd conseguiu sair do país praticamente fugido.

Com algumas peças de roupa e uma mochila, o rapaz circulou por 27 países entre Europa e América do Sul, em três anos, até chegar ao Brasil, pelo Amapá, em 1991.

Sem saber falar uma única palavra em português, se aventurou pelo país.

“Na Europa quando a gente faz sinal com o polegar, pedindo carona, as pessoas param. Aqui não. Ninguém parava para mim”, riu. Mesmo assim o húngaro chegou até Macapá e, numa feira, catando, para comer, as frutas jogadas fora pelos feirantes, foi convidado a trabalhar numa das barracas e lá aprendeu as primeiras palavras em português.

“Num dia acho que aprendi mais de 100 palavras, principalmente o nome das verduras”, lembrou.

Mas seu espírito aventureiro falava mais alto e, depois de um mês em Macapá, ele ganhou o resto do Brasil, chegando até o Sul, em dois anos de jornadas pelo país.

Sem nunca esquecer os Estados Unidos, um dia Loránd resolveu fazer o trajeto de volta, rumo ao Norte do Brasil.

“Queria, a partir da Venezuela, atravessar toda a América Central e chegar aos Estados Unidos, mas em Manaus, em 1993, conheci Michele, por quem me apaixonei e casei dois anos depois. Não quis mais deixar o Brasil, muito menos Manaus”, revelou.

Com Michele, Loránd se estabilizou. Trabalhou com ela no bar da família, teve um casal de filhos, mas nunca deixou de lado seu espírito de viajante, agora com a companhia da esposa, dinheiro no bolso e viagens de avião. Em 2008, porém, Michele faleceu. A saudade da esposa foi amenizada pelo Jeep que ele comprara quatro anos antes do irmão dela. O Jeep era seu fiel companheiro para longas viagens pelo interior do Amazonas.

Roupa especial made in Lapônia

Nesses 15 anos o Jeep modelo CJ5 1973 sofreu, e vem sofrendo, transformações constantes, se tornando atração onde circula, principalmente em eventos que reúnem amantes de automóveis, além de, há três anos, Loránd como Papai Noel fora de época.

Em 2014, quando a Copa do Mundo teve alguns jogos em Manaus, Loránd foi a todos com o rosto pintado nas cores das duas seleções que jogavam. Foi o suficiente para ganhar fotos em jornais e, em 2015, o convite de um publicitário para se tornar Papai Noel. Feições nórdicas o ajudaram. Ele deixou os cabelos e a barba crescerem e viu que aquilo poderia se transformar num excelente negócio.

“No primeiro ano, em 2016, não quiseram me aceitar em nenhum shopping porque minha barba estava pequena, então, junto com Dora, minha atual companheira, mais o Jepp, fui distribuir brinquedos no interior. E fiz o maior sucesso. Criança não quer saber do tamanho de barba”, lembrou.

A partir de então Loránd investiu na carreira de Papai Noel. Abriu uma empresa de eventos, fez curso no Rio de Janeiro e ganhou um diploma. Ano passado viajou para a Lapônia, na Finlândia, a terra do bom velhinho, e foi até a Santa Claus Village, uma vila onde é Natal o ano inteiro.

“Por isso resolvi virar Papai Noel o ano inteiro, o Papai Noel que chega no seu jipão”, brincou.

Loránd tem três roupas que custaram, cada uma, três mil reais, e em 2017 e 2018 não deu conta de atender aos pedidos dos shoppings e empresas para atuar no Natal.

“Este ano vou me apresentar com uma roupa idêntica à de Santa Claus, da Lapônia, comprada lá”, adiantou.

Papai Noel o ano inteiro

Tanto Loránd, com seus quase dois metros de altura, barbas e cabelos brancos e compridos, além das roupas vermelho Natal, quanto seu jipão, chamam a atenção aonde chegam.

“Quando o comprei gastei uns R$ 15 mil só para deixá-lo em condições de andar. De lá para cá não paro de customizá-lo. Só estes quatro pneus que estão nele agora custaram seis mil reais e só os coloco para eventos”, revelou.

“É um jipe preparado para percorrer grandes distâncias. Tudo que se precisa para uma viagem de dias, numa estrada, tem nele. Já fui de Lábrea até Humaitá, pela BR 319, num percurso que durou cinco dias e já percorri 2.500 km de Santarém até Manaus, sem falar de tantas outras viagens que fiz, e faço, pelo interior do Amazonas”, afirmou.

“Ele pode entrar n’água quase inteiro e não para. O motor é novíssimo e tem doze buzinas, inclusive com músicas de Natal. No Natal eu o enfeito todo com led. O Papai Noel e o jipão de completam”, afirmou.

O objetivo de Loránd desde que voltou da Lapônia, é ser Papai Noel durante o ano inteiro.

“Quero reunir brinquedos, balas e bombons e viajar pelas comunidades do interior distribuindo alegria para as crianças, eu, minha companheira Dora (Mamãe Noel), e o jipão”, finalizou.                 

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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