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Mulheres do Amazonas têm mais tempo de estudo, mas menos oportunidades

Em média, as mulheres do Amazonas seguem o padrão brasileiro de contar com mais anos de estudo e maior presença no ensino superior, mas ainda não conseguem as mesmas oportunidades profissionais, superando os homens nas taxas de desemprego e nas horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico. Em paralelo, também enfrentam mais obstáculos para construir carreira política e gerencial. É o que mostram os dados do estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, do IBGE. 

De acordo com o levantamento, que levou em conta os habitantes do Amazonas com mais de 14 anos de idade, em 2019, as mulheres trabalhavam 6,7 horas por semana a mais do que os homens com os afazeres domésticos e cuidados pessoais, em média. A discrepância é maior quando se cruza gênero com etnia: mulheres ‘pardas’ (categoria que inclui os indígenas) ou ‘pretas’ trabalhavam 7,4 horas a mais do que homens ‘brancos’

Considerado apenas o universo de amazonenses com ocupação profissional, as mulheres (15,3 horas) também bateram os homens trabalhavam (10,1 horas). Apesar disso, o Amazonas (17,3 horas) foi uma das unidades em que as mulheres dedicaram um menor número de horas para a atividade doméstica, ficando à frente apenas do Amapá (17,1 horas) e atrás de Roraima (18,7 horas). Na outra ponta, Paraíba (25,1 horas), Minas Gerais (23,1 horas) e Pará (22,7 horas) encabeçaram a lista. 

As taxas de ocupação e de desocupação, a propósito, também são um dado que demonstra desigualdade de oportunidades de gêneros, no Amazonas.  A sondagem mostra que o desemprego entre as mulheres (18,7%) foi muito mais forte do que entre os homens (10,3%), em um ano em que a taxa de desocupação geral ficou em 13,9%. Segundo o IBGE, esse fosso de 8,4 pontos percentuais entre os gêneros na fila do desemprego é o maior do país, superando Amapá (8,3 p.p.) e Acre (7,2 p.p.).

O desequilíbrio nas oportunidades começa também pelo ensino, já que as mulheres representam, paradoxalmente, a maioria dos alunos de nível superior, mas ainda são minoritárias entre os docentes. Em 2019, segundo o Censo da Educação Superior, as mulheres representavam 46,8% dos professores de instituições de ensino superior do Amazonas. A proporção aponta viés de alta, apesar do zigue-zague: em 2003, o contingente feminino na docência superior era de 42,9% no Estado, passando para 47,1%, em 2015, para decrescer para os 46,8%, quatro anos depois.

O Amazonas (46,8%) ocupa somente a 17ª colocação entre os maiores percentuais de mulheres em cargos de docência de ensino superior. As unidades federativas com maiores percentuais foram Bahia (51,8%), Mato Grosso (50,4%) e Paraíba (50,4%), enquanto São Paulo (43,4%), Espírito Santo (44,8%) e Minas Gerais (45%) ficaram no fim da lista. 

Representação política

Um dos gargalos mais visíveis para as oportunidades de carreira entre as mulheres vem da vida pública e da representação política. Nas eleições de 2018 para a Câmara dos Deputados, o Estado foi um dos três em todo o país a não eleger uma única representante feminina para as oito cadeiras a que tinha direito no parlamento, sendo acompanhado apenas por Maranhão e Sergipe nesta opção.

Vale notar que a situação não é muito melhor em nível nacional, onde as mulheres representaram meros 15% do total de cadeiras disponíveis, chegando a 77 deputadas federais em todo o Brasil. Distrito Federal, com cinco das oito cadeiras a que tem direito (62,5%) foi a unidade federativa com maior representatividade feminina, sendo seguido pelo Acre (50%) nessa distinção.

O Amazonas se saiu comparativamente melhor nas eleições municipais deste ano, quando elegeu 123 mulheres para suas 61 Câmaras de Vereadores, representando 18,1% do total das 679 cadeiras definidas no pleito. O desempenho fez o Estado ficar à frente da média nacional (16%). Além disso, houve uma evolução relativa na comparação com os números do pleito de 2016, quando foram eleitas apenas 95 mulheres (13,2%). 

Desde 1995, o Brasil possui legislação que prevê cotas eleitorais, reservando um percentual de candidaturas em eleições proporcionais para as mulheres. Contudo, apenas com a lei nº 034, de 29.09.2009, essas cotas tornaram-se obrigatórias, estabelecido piso de 30% e o teto de 70% para as eleições proporcionais, por partido ou coligação partidária.

No Amazonas, a participação fica próxima ao piso. Em 2018, 32% das candidaturas para o cargo de deputado federal (49) foram de mulheres, percentual ainda menor do que o de 2014 (34,9%) –sendo que nenhuma conseguiu se eleger. “O descompasso entre a proporção de candidatas e deputadas mulheres em exercício pode ser atribuído, segundo estudos eleitorais, a fatores como falta de apoio material às candidaturas femininas, inclusive no âmbito dos partidos políticos, e ao maior sucesso eleitoral dos candidatos que já eram parlamentares anteriormente”, aponta o IBGE, no texto da pesquisa.

Em sintonia, o poder econômico das candidatas mulheres à Câmara dos Deputados é bem baixo, no Estado. Em 2018, só 11% possuíam receita de candidatura de R$ 1 milhão ou mais, enquanto 34,7% tinham menos de R$ 100 mil para custear a campanha. O indicador de participação das mulheres em cargos gerenciais, por outro lado, indica que as mulheres ocupavam 35,9% dos 35 mil cargos gerenciais no Amazonas, uma melhora tímida em relação ao dado de 2012 (34,8%).

Conquistas pontuais

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, salientou à reportagem do Jornal do Commercio que o estudo comprova o que se sabe empiricamente, de uma forma geral: as mulheres do Amazonas, assim como as do Brasil, estão em desvantagem na maioria das comparações entre os gêneros. O pesquisador ressalva, entretanto, que o contingente feminino do Estado ainda registra conquistas pontuais que merecem destaque

“É o caso das posições gerenciais e das professoras do ensino superior, onde há uma tendência de as mulheres serem maioria dentro de alguns anos. Quanto à vida pública, somente no nível de vereadores as mulheres amazonenses possuem algum destaque. Em todos os outros níveis de poder público elas não têm representantes ou são pouco representadas”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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