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Mulher na Política: Devagar, mas rumo ao topo

Mulher na Política: Devagar, mas rumo ao topo

É inacreditável como somos a maioria da população e ainda assim, muitas mulheres usam o seu poder de escolha para votar em homens. Em Manaus, de 41 candidatos, apenas 4 foram eleitas vereadoras. Para chefes do executivo municipal, as mulheres concorreram apenas como vices. 

Apesar de não ter acompanhado ativamente o desempenho das mulheres em suas campanhas esse ano, foi possível analisar claramente o que tem acontecido com lideranças femininas no Brasil e no mundo. Começando pelo destaque que os países liderados por mulheres obtiveram no combate à pandemia. Em artigo recente, a colunista Avivah Wittenberg-Cox da revista Forbes as considerou “exemplos de verdadeira liderança”. “As mulheres estão se colocando à frente para mostrar ao mundo como gerenciar um caminho confuso para a nossa família humana”, escreveu. 

As mulheres representam 70% dos profissionais de saúde em todo o mundo. Já no meio político, em 2018, elas foram apenas dez dos 153 chefes de Estado eleitos, de acordo com a União Interparlamentar. Segundo o artigo de Pablo Uchoa, da BBC, a maneira como essas líderes eleitas praticam política tem tudo a ver com diversidade e políticas de inclusão. “Não acho que as mulheres tenham um estilo de liderança diferente do dos homens. Mas quando elas ocupam posições de liderança, trazem originalidade à tomada de decisões”, disse Geeta Rao Gupta, diretora executiva do Programa 3D para Meninas e Mulheres e membro sênior da Fundação das Nações Unidas. 

No Brasil, o número de mulheres eleitas em 2018 cresceu 52,6% em relação a 2014. Em 2021, 12,2% das lideranças dos municípios serão exercidas por mulheres. Para o segundo turno de 2020, cinco candidatas ainda se mantêm no páreo. Já nas eleições passadas, o percentual final ficou em 11,6% e apesar de o número de mulheres que venceram as disputas para prefeituras neste primeiro turno terem superados os de 2016, ainda podemos ir muito mais longe. Agora, eu acho importante trazer um pouco sobre a história desse avanço. 

Somente quem está por dentro da luta das mulheres pelo seu espaço e pelo direito de igualdade, quem acompanha a importância das lutas femininas no geral, faz ideia de que há 88 anos, as mulheres eram proibidas de votar. Vou inclusive trazer um breve resumo sobre a história do voto, só pra explicar melhor o meu pensamento. 

A primeira eleição de que se tem conhecimento no Brasil aconteceu em 1532 e o direito ao voto era limitado a grupos de homens que possuíam alguma linhagem nobre ou que exerciam algum tipo de atividade econômica importante. A partir da constituição de 1822, 290 anos depois, poderiam votar homens livres, maiores de 25 anos e que possuíssem renda mínima anual de 100 mil réis. Em 15 de novembro de 1889, o Brasil transformou-se em uma República, e o sistema político adotado foi o presidencialismo. Foi com a Revolução de 1930 e a chegada ao poder de Getúlio Vargas que foi criado em 1932, o Código Eleitoral, que instituiu a Justiça Eleitoral. Exatamente em 24 de fevereiro daquele ano, 400 anos depois da primeira eleição, o Código Eleitoral concebeu o voto feminino, mas desde que a mulher fosse casada, e tivesse autorização dos maridos, ou viúva com renda própria. Essas limitações deixaram de existir em 1934, quando o voto feminino passou a ser um direito assegurado na Constituição Federal. E depois de termos votado nas eleições até 1962, o Brasil sofreu o golpe de 64 e só voltamos a ter eleições democráticas em 1985. A partir daí, seguimos com as eleições como presenciamos até hoje em 2020. 

Ou seja, imaginar que temos direito ao voto há 88 anos é muito pouco diante dos séculos de submissão numa sociedade claramente patriarcal e machista. Acrescentando, o número de interrupções por distúrbios políticos dificultou ainda mais que a sociedade criasse a consciência de que “mulher na política” tem competência e por conseguinte, a mesma importância que o homem. E eu não estou falando do “politicamente correto”, e sim do preconceito velado mesmo, que até nós mulheres temos inconscientemente. Segundo um levantamento do Data Senado com base em dados das Eleições 2018, no país, as mulheres têm, em média, 2,53 vezes menos chances de serem eleitas do que os homens. E não sou eu quem está dizendo, é a pesquisa. 

Recentemente a atriz Michelle Williams, ao receber seu prêmio de melhor atriz de minissérie, subiu ao palco do Golden Globe, para alertar as mulheres sobre a importância do voto. Em uma parte do seu discurso ela disse: “Sei que minhas escolhas talvez pareçam diferentes das suas. Mas graças a Deus, ou a quem quer que você reze, vivemos em um país fundado no princípio de que sou livre para viver segundo minha fé e você é livre para viver segundo a sua. Mulheres de 18 a 118 anos, quando for o momento de votar, façam isso de acordo com seus próprios interesses. É o que os homens têm feito há anos, e por isso o mundo se parece tanto com eles. Não se esqueçam: somos o maior grupo votante neste país. Vamos fazer com que ele se pareça mais com a gente.” Isso cabe perfeitamente na realidade brasileira. 

Michelle Williams,  atriz norte-americana, durante seu poderoso discurso na premiação do Globo de Ouro

Estamos no caminho certo e apesar do crescimento mínimo em relação as eleições de 2018, não podemos ignorar o avanço. Senti falta de mais mulheres eleitas, porém acho que meu recado hoje me lembra até um certo político que disse: “A minoria tem que se adequar a maioria”. Bom, nós mulheres representamos 52,49% dos eleitores brasileiros, já está mais do que na hora da minoria se adequar a maioria. 

Raquel Omena

é especialista em negócios digitais, editora da coluna Mais Empresárias
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