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Não acredite em tudo que a sua mente diz

Não acredite em tudo que a sua mente diz

Em tempos de exaltação da mediocridade e da proliferação da ignorância, venho por meio desta fazer um alerta:  

– Não acredite em tudo que a sua mente te diz!  Sim, se você não costuma se informar, estudar, conhecer e colocar o seu raciocínio lógico para funcionar na hora de analisar o ecossistema a que vc esta inserido, não adianta ouvir o que sua mente tem para dizer porque, sem saber, você pode ser um analfabeto funcional. Três entre cada dez brasileiros têm limitação para ler, interpretar textos, identificar ironia e fazer operações matemáticas em situações da vida cotidiana e, por isso, são considerados analfabetos funcionais. Eles representam praticamente 30% da população entre 15 e 64 anos, de acordo o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf). No Brasil, conforme pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro, 50% dos entrevistados declararam não ler livros por não conseguirem compreender seu conteúdo, embora sejam tecnicamente alfabetizados.

E isso serve para muita coisa. Imagine se o tio do whatsapp achasse que aquela fakenews que ele encaminhou no grupo é realmente uma grande mentira, ou aquela sua amiga entendesse que o boy não está apaixonado, ela está apenas fantasiando as coisas, se a população tomasse consciência que sim, existe corrupção no governo e racismo no Brasil ou então se aquele seu amiguinho privilegiado, filhinho de papai, finalmente acreditasse que a vida dele não é meritocracia. Já dava uma boa melhorada na sociedade, não é mesmo? Mas, não é bem sobre isso que vou escrever, hoje eu quero falar sobre o sistema 1 e o sistema 2. É provável que você não os conheça, porém depois de ler essa coluna a sua mente só vai te enganar se você quiser.  

De acordo com o artigo publicado no Blog FK Parteners, os psicólogos se interessam há várias décadas pela maneira como nosso cérebro funciona e têm desenvolvido diversas teorias acerca do tema. Um dos modelos de pensamento que ganhou mais destaque foi o proposto pelos psicólogos Keith Stanovich e Richard West e descrito por Daniel Kahneman em seu livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”. Kahneman propõem que há dois sistemas de processamento cerebral, o sistema 1, que é rápido, paralelo, automático, inconsciente e dirigido por emoções e associações, e o sistema 2, que é lento, sequencial, deliberativo, baseado em regras e que utiliza cálculos conscientes para chegar a decisões.  

Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia

Enquanto o primeiro sistema representa um modo mais intuitivo de agir, o segundo é caracterizado por ser um modo mais controlado de tomar decisões, mais racional digamos.  Ainda citando o artigo da KF Partners vamos ver alguns exemplos: 

O Sistema 1, o intuitivo automático age desta forma: 

  • Detecta que um objeto está mais perto que outro; 
  • Procura de onde veio um som estridente que você acabou de ouvir; 
  • Completa a frase “arroz e…”; 
  • Faz a cara de enjoo quando vê uma foto nojenta; 
  • Detecta hostilidade em uma voz; 
  • Responde a “2+2=…?”; 
  • Lê as manchetes do jornal; 
  • Dirige um carro por uma rua deserta; 

Já o Sistema 2, o lento racional, faz: 

  • Manter-se caminhando em um passo mais rápido que o seu natural; 
  • Monitora seu comportamento em um ambiente social para não cometer nenhuma gafe; 
  • Estaciona em uma vaga apertada; (sem bater no carro do coleguinha, acredito eu)
  • Preenche seu imposto de renda; 
  • Analisa evidências de um crime de forma a determinar se o réu é culpado ou inocente; 
  • Olha demonstrativos contábeis para ver se uma empresa melhorou ou piorou seu risco de crédito. 

Apesar de esses exemplos apresentarem coisas simples do cotidiano, é possível analisar os diferentes tipos de ações e reações em cada um dos grupos e a partir disso, entender na prática seu funcionamento. Agora, é importante mencionar que o sistema 1 

Ler sobre isso me deu o seguinte insight: Por que não fazer uma analogia e trazer uma reflexão sobre os dias de hoje no Brasil? Tenho enxergado claramente uma guerra intelectual e comportamental entre os que usam o sistema 1 e os que usam o sistema 2. Fica bem mais simples de definir assim, né?

O primeiro representa a ação impensada, instintiva, de sobrevivência, uma reação súbita a algo que nos atingiu ou incomodou. E o segundo é um pouco mais trabalhoso, mais lento, mais estudado, analisado e fundamentado. 

Já pensou que incrível seria se as pessoas começassem a usar o sistema 2 e assim,  questionar qualquer assunto, embasar suas opiniões e fundamentar a importância de ter um conhecimento profundo sobre algo antes de gerar um debate, ou pelo menos estar aberto a ouvir opiniões contrárias. É cansativo discutir com quem não se dá ao trabalho de analisar a realidade em que vive, de comparar antes e depois, enfim, se situar na História do Brasil. Parece que o grupo que escolheu viver sobre o sistema 1 está eternizado em um loop, sem nexo, mas que responde no automático em qualquer situação da vida.  E o mais louco é que não é uma guerra “inteiramente” social, não é só “ricos contra pobres”. O que mais assistimos ao longo dos últimos 4 anos foram pobres e ricos juntos repetindo sem refletir o bordão demagogo “Brasil, acima de tudo e Deus acima de todos”. Apesar de o rico ter muito mais condições materiais de trabalhar o seu sistema 2, alguns optam em agir cegamente pelo sistema 1. Eu não acredito que seja apenas visando obter vantagens. Muitos agem movidos pelo desejo de acreditar naquilo que quer acreditar, mesmo que não tenha base lógica e racional. 

Agora sabe o que é mais engraçado, para não dizer irônico é que tecnicamente quando falamos de questões financeiras é o sistema 2 que possibilita um crescimento calculado. Quer um exemplo?  

Em uma breve busca no Google encontrei diversos blogs sobre como investir, fazer seu dinheiro render, aumentar seus ativos e coisas do gênero. E para cumprir o passo a passo é necessário iniciar um processo, regras são estabelecidas como dar um passo por vez, dispor-se a mudar crenças, definir objetivos, informar-se e aprender. Tudo envolve usar a cabeça, pensar, raciocinar e agir. É nesse momento que começo a ter dúvidas, se o loop infinito do sistema 1 é ingenuidade, ignorância, falta de informação ou é simplesmente “mau caratismo”. Mas de qualquer forma, finalizo meu desabafo com uma mensagem de Jessé Souza, em A Elite do Atraso, que mesmo utilizando o sistema 1 é possível entender: “O Brasil, governado pelos lacaios do sistema financeiro, precarizou sua saúde, sua educação, sua capacidade de produção, de tecnologia e de pesquisa, em suma, está comprometendo seu futuro e seu presente para engordar uma ínfima elite do dinheiro, esta sim, verdadeiramente, predadora e corrupta”.  

Para ser um bom empreendedor, não basta só abrir a empresa, precisa mudar a mente, enxergar além do azul e vermelho no fluxo de caixa. Nós utilizamos o sistema 1 e 2 frequentemente ao longo de nossas atividades no dia a dia. Não existe alguém que aja única e exclusivamente pelo sistema 1 ou que aja única e exclusivamente pelo 2, mas o que eu proponho aqui é que a gente reflita e pare de reagir as coisas que gente não sabe, como se soubesse e começasse a entender, analisar e desbravar o desconhecido. Não é um exercício fácil, nem rápido, entretanto é muito possível. Enquanto você não começar a utilizar um pouco mais o sistema 2, é provável que a sua participação no banquete seja servindo o jantar e não sentado à mesa. Pense nisso!

Raquel Omena

é especialista em negócios digitais, editora da coluna Mais Empresárias
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