Aproveito o espaço desta coluna jornalística para esclarecer aos meus leitores um certo mal-entendido que, a língua aleviosa, se encarregou de disseminar o erro comum a todo ser humano como uma maldade inaudita e pecaminosa. Na edição do dia 17 de outubro de 2007 escreví um artigo sobre a reforma da universidade promovida pelo Estado brasileiro, sob a sigla Reuni. Empreendi uma análise a partir da leitura do Projeto-Lei do Reuni estabelecendo uma crítica aos seus fundamentos, tomando por parâmetro um texto da filósofa Marilena Chauí, professora da Universidade de São Paulo, com a qual tive a grata satisfação de estudar como aluna de doutorado nos idos de 2000, na cidade de São Paulo.
O meu texto sobre o Reuni será publicado brevemente para que não deixe quaisquer dúvidas quanto à minha integridade moral. Em minha trajetória acadêmica e científica tenho prezado pela ética e pelo respeito ao outro e à coisa alheia. Já publiquei quatro livros: um pela Cortez Editora em 2002 “As primeiras-damas”; dois publicados pela Editora da Universidade Federal do Amazonas em 1996 e 2003 e um outro publicado pela Editora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia), neste ano de 2007. É inoportuno citar aqui os vários artigos e trabalhos completos que publiquei em periódicos científicos e Anais de Congressos. Peço desculpas aos meus leitores por qualquer suposta angústia causada. Às vezes a Fênix é impedida de ressurgir pela política miúda dos corredores construída pela brutalidade da vida, ou por aqueles que se deixaram arrastar pela barbárie própria da era moderna.
Como diria Nietzsche, “se nossos sentidos fossem devidamente apurados, saberíamos que o mundo é um caos dançante”. Prefiro ser uma intelectual exílica porque o exílio dá a idéia de abandono e criação. O intelectual exílico é aquele que não responde pela lógica das relações idiossincráticas e sim pela lógica da audácia, elaborando a boa crítica para contribuir no avanço da civilização.
É preciso haver o reencatamento do mundo como sugere Ilya Prigogine, em que deixe de existir o fosso entre ciência e humanismo e que se respeite a história de vida do outro como repto de um novo humanismo, calcado no relacionamento pactuado em patamares seguros. Edgard Morin, um dos grandes pensadores da ciência moderna adverte que é urgente a criação de um novo humanismo que restabeleça a sensibilidade dos sujeitos como única possibilidade de reconstrução do mundo. Estamos condenados ao paradoxo, afirma Morin, mantemos em nós simultaneamente, a consciência do vazio do mundo e da plenitude que nos propicia a vida. É preciso que saibamos ver cair as folhas da árvore, o desabrochar das flores, a sombra. Importa a sua beleza e a sua estética. O que está em choque na chamada crise civilizatória desde as últimas décadas do século passado, é o conceito de vida.
Iraildes Caldas Torres é professora da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e doutora em Ciências Sociais/Antropologia
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