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Mais uma rede social a demandar cuidados

No início de fevereiro, foi lançada uma nova rede social que se tornou a grande febre entre usuários da internet no mundo, incluindo o Brasil — é o Clubhouse. Gerenciado pela empresa Alpha Exploration Co., registrada na Irlanda do Norte, ele chama a atenção por ser basicamente um aplicativo “simples, mas inovador”, estruturado por chats de voz entre usuários que somente podem participar mediante convite. O design de funcionamento do app é baseado em rede social, entre clubes e salas em grupo, nas quais usuários somente se falam por áudio. Não é possível enviar fotos ou mensagens. Chats são sempre abertos como sessões ao vivo. As salas contam com os speakers, usuários que podem falar durante a conferência, e os listeners, que são os ouvintes, participam, mas não interagem. 

Na prática, o Clubhouse funciona como um palco, com os atores principais que dialogam entre si como se estivessem em um estúdio exclusivo, bastante apelativo para influenciadores, celebridades, subcelebridades a aqueles que agora se autodenominam “inspiradores” para vender serviços e soluções de consultoria nas mais variadas áreas e monetizar conteúdo. A “plateia” ouve os diálogos, conhecendo o que é dito ou discutido entre os interlocutores no chat. Ao fundo pode haver quem grave e registre o áudio, mas o aplicativo em si não oferece a possibilidade de quem foi gravado ter acesso à gravação. 

Mesmo em chats fechados (porque não são acessíveis ao público da internet), usuários não se dão conta dos principais problemas já relatados nas mídias especializadas em tecnologia sobre o Clubhouse no Brasil e globalmente. Eles diretamente esbarram em direitos de usuários de internet e obrigações legais a serem cumpridas por qualquer empresa provedora de serviços de aplicações de internet. 

Segundo a política de privacidade, o Clubhouse também rastreia o tráfego de dados envolvendo usuários sem explicar qual a finalidade, como a coleta de dados é feita, qual a modalidade de cookies aplicável, o que absolutamente vedado pelo Marco Civil da Internet e pela LGPD. 

Outro risco nunca observado pelos mais entusiasmados, em especial, diz respeito às limitações injustificadas de funcionalidade. O Clubhouse não permite que as conversas sejam salvas para que o usuário possa revisar o que disse ou ouvir posteriormente. É uma plataforma para interações ao vivo. O app passa a impressão de que não haveria rastros, pois o conteúdo “expira”, como hoje ocorre com alguns recursos de plataformas em relação a fotos de usuários que são enviadas em mensagens. Trata-se daquela sensação de que a instantaneidade resolveria o dilema “pronto, falei!”.

O ecossistema da internet no Brasil é robusto o suficiente para fazer com que o Clubhouse aprimore seus serviços de relacionamento social, e estabeleça as proteções necessárias para a comunidade brasileira. O entusiasmo, aqui, deve ocorrer para que inovações semelhantes trazidas pela febre Clubhouse façam a lição de casa, afinal o Brasil não deixa de ser uma das comunidades digitais mais vibrantes e comercialmente atrativas do mundo. 

Foto/Destaque: Divulgação

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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