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‘Não basta proteger a floresta’, afirma Luiz Castro

Depois de um afastamento da política partidária por um pouco mais de dois anos, o advogado, professor e ex-deputado estadual Luiz Castro volta ao cenário político com a filiação ao PDT e a confirmação de seu nome como pré-candidato na disputa ao Senado nas eleições deste ano. 

Luiz Castro busca dar continuidade a uma história interrompida nas eleições de 2018, quando praticamente abriu mão de um possível sexto mandato na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas para buscar uma das duas vagas para o Senado no pleito daquele ano. 

A diferença de 25.733 votos determinou a derrota para o senador Eduardo Braga naquela disputa. Luiz Castro teve 581.553 votos, ou 17,55%, contra 607.286, ou 18,45%, de Eduardo Braga. 

Aquela disputa também marcou um baque na saúde do político. Durante a campanha sofreu um infarto que lhe tirou um tempo precioso de contato presencial com eleitores. Depois também sofreu uma arritmia cardíaca que foi determinante para saída do comando da Seduc ainda no primeiro ano do governo Wilson Lima. 

Nesta entrevista, Castro fala da escolha pelo PDT, do desafio por uma única vaga ao Senado e do aprendizado distante da vitrine política. 

Você tinha outras opções para sua filiação. Por que a opção pelo PDT na disputa por uma vaga para o Senado nas eleições deste ano? 

Após uma prolongada reflexão avaliando convites e sondagens que tive de outros partidos, entendi que a opção PDT foi a mais acertada. Por vários motivos. Não vou aqui escalonar por ordem de importância, mas foram esses motivos que influenciaram minha decisão. 

Primeiramente destaco a maneira clara, afetuosa e bastante interessada do PDT nacional em me ter como candidato ao Senado. O presidente do partido esteve duas vezes em Manaus e manifestou a vontade de que eu fosse candidato pelo PDT. 

Outro motivo foi a leitura da proposta de governo do PDT e do Ciro. Fiz a leitura desse livro e fiquei muito bem impressionado com as propostas nele contidas a partir de diagnóstico muito bem feito da situação econômica e social do Brasil com uma retrospectiva histórica desde os tempos de Getúlio. 

Ficou claro para mim que se trata da única pré-candidatura que tem uma proposta de mudanças verdadeiras diante do rumo que o país tomou e não apenas em razão do atual governo. Essas mudanças precisam acontecer mais cedo ou mais tarde. Espero que elas não demorem muito a acontecer e eu me coaduno com a maioria das propostas que o Ciro e o PDT apresentam para as transformações que o país necessita na macrogestão econômica, na definição matricional das políticas públicas, priorizando a produção e não o rentismo, a elitização e o auferimento de juros de renda em cima dessa enorme dívida pública e desses juros absurdos que imperam no Brasil há muito tempo. 

Como você viu a definição da pré-candidatura de Carol Braz para o Governo do Estado pelo PDT? 

Essa foi outra questão que me levou a aceitar o convite do PDT. A possibilidade de caminhar ao lado de uma proposta renovadora até mesmo porque se trata de uma pessoa com sólida formação moral, jurídica e espiritual. Isso me faz sentir mais confortável e estimulado a concorrer ao Senado tendo a parceria de uma pessoa em quem eu posso acreditar e em quem eu posso ter a confiança necessária nessa caminhada. Pra mim é importante essa parceria com a Carol. 

Também não posso deixar de falar das pessoas do PDT em nível estadual que foram as principais articuladoras iniciais dessa aproximação com o PDT nacional. Stones, professor Ademir e outras pessoas que estiveram próximas dos diálogos e iniciaram essa aproximação com o PDT nacional. 

Como você vê essa polarização na política hoje que contaminou todo o ambiente das redes sociais? 

Minha opção pelo PDT também tem relação com a busca por fugir dessa polarização que muitas vezes vem eivada de ódio, de ressentimento, de ataques pessoais da direita mais extrema e da esquerda mais populista e radical. Eu sou uma pessoa que tem um perfil progressista nas questões sociais e econômicas ao mesmo tempo também tenho um perfil moral relativamente conservador no sentido da defesa que eu faço da infância e da adolescência. Eu tenho essa causa como muito importante. E eu posso manter essas causas que me são mais importantes dentro do PDT. 

A defesa do desenvolvimento sustentável, do setor primário, da bioeconomia. O tratamento do meio ambiente como prioridade, mas sempre priorizando os interesses das pessoas que vivem no meio da floresta. A valorização e proteção dos segmentos mais vulneráveis e menos favorecidos da nossa sociedade. Idosos, pessoas com deficiência, os afrodescendentes, os indígenas que são alvo de racismo e preconceito as próprias mulheres que ainda têm sofrido discriminação, desde os absurdos feminicídios até defasagem salarial. 

Também de criar soluções verdadeiras para o futuro da economia amazonense. Que não dependam exclusivamente do atual modelo, mas que se combinem com o polo industrial incentivado. 

Sempre fui também uma pessoa de visão nacionalista. Não sou xenófobo, mas sou nacionalista e sou patriota, mas não um patriota que distingue as ameaças que podem vir da China dos Estados Unidos ou de qualquer outro país que queira ter excessiva influência sobre a nossa economia. O Brasil precisa potencializar sua capacidade própria de desenvolvimento econômico e tem que fazer parcerias interessantes com outros países preservando os seus interesses. 

Como o pré-candidato Luiz Castro busca se diferenciar para o eleitor na disputa acirrada por uma única vaga ao Senado nas eleições deste ano? 

Eu não quero aqui me mostrar e nem pretender ser melhor do que nenhum outro pré-candidato e nenhum outro político. Na verdade, trago uma trajetória de vida. Eu fui agricultor, pequeno produtor e professor de Ensino Fundamental. Sou uma pessoa que vivenciou as dificuldades de viver numa cidade longínqua do nosso Estado, na Amazônia profunda. Vivi nos municípios de Envira e Eirunepé numa região que ainda é pobre e que ainda não foi contemplada com políticas compensatórias diante das dificuldades logísticas que a população do Juruá enfrenta no dia a dia. Nos altos preços não apenas do combustível, mas também de diversos outros gêneros alimentícios e no alto custo do transporte aéreo e fluvial. 

Então trago essa marca de viver em condições adversas. Fui peão. Trabalhei em roçado, aprendi com seringueiros, mateiros que foram meus professores do trabalho pesado. Ao mesmo tempo não deixei de estudar e tive oportunidade de ser gestor do município de Envira e graças a Deus com a colaboração da população tivemos ótimos resultados. No meu último ano como gestor conseguimos alçar o município de Envira como o de maior patamar de produção de cultura familiar no interior do Estado do Amazonas. 

Tenho também neste meu roteiro de vida o acúmulo de cinco mandatos como deputado estadual onde pude ter oportunidade de vivenciar, de aprender informações e processos de verificar a necessidade de políticas públicas para segmentos mais vulneráveis, principalmente aos usuários dos sistemas públicos de saúde. Os pacientes renais crônicos, os cardiopatas, pessoas com tuberculose, os portadores de HIV, portadores do bacilo de hansen e tantos outros. 

Ao mesmo tempo tenho ainda o acúmulo na visão e na gestão do desenvolvimento do interior. Estive dois anos à frente da Secretaria de Produção Rural. Ela foi recriada na época e em dois anos e pouco conseguimos implementar instrumentais de políticas públicas e de desenvolvimento do setor primário que persistem até hoje. Nós criamos uma estrutura que teve de ser respeitada pelos meus sucessores. 

Luiz Castro atuou na Fundação Amazonas Sustentável/Crédito: Divulgação
Você se arrepende de ter aceitado fazer parte do governo Wilson Lima o que, para muita gente, parecia ser uma aposta arriscada diante do fato de integrar um governo sem nenhuma experiência em administração pública?

Responderei em dois níveis -do ponto de vista político eu poderia ter evitado o desgaste se tivesse percebido a orquestração da qual seria vítima por representar para diversos segmentos uma potencial ameaça a seus próprios interesses -e não consideraram que eu estava somente  tentando ser útil à sociedade, principalmente aos estudantes e aos profissionais da educação

Mas do ponto de vista espiritual e existencial me serviu como uma dura e grande lição de vida. Mantive minha postura ética, não fui beneficiado por vantagens indevidas e liderei em pouco tempo uma série de medidas estruturantes importantes, que não foram reconhecidas porque obliteradas pelo complô de denúncias vazias, calúnias e fake news  criadas para me denegrir e me desgastar. 

Sofri muito, mas também aprendi muito.  Adoeci física e psicologicamente porque não estava preparado para a artilharia concentrada contra mim e nem sequer conseguia me defender e mostrar o que realmente era essencial : a gestão inovadora e comprometida com a qualidade da educação e a equidade de oportunidades.

No final, apesar dos pesares, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, como disse o grande poeta Fernando Pessoa. Os aprendizados pela dor podem ser maiores do que pelo amor.  Serviu para que eu efetivamente me afastasse das atividades políticas e governamentais. E me aproximasse mais do Evangelho, perdoando os que me fizeram mal e seguindo em frente, com fé e amor.

Como você avalia esse tempo que ficou afastado da política logo após deixar o comando da Seduc? 

Eu achei muito importante esse tempo que me afastei porque ele me permitiu três coisas muito importantes. Uma delas foi me despir das vaidades de cargos e de status. E me deu a oportunidade de viver com mais simplicidade. Estreitar relação com amigos verdadeiros, aqueles que não são amigos do poder. Ter mais tempo para a própria família. 

Outra coisa importante para mim foi mergulhar mais na minha espiritualidade. Poder me dedicar à leitura do Evangelho. Estar mais próximo dos ensinamentos de Jesus Cristo da minha fé foi um momento muito importante de aproximação com Deus. A busca pelo conhecimento do sentido da vida. 

E finalmente a experiência da Fundação Amazonas Sustentável. Foi uma experiência para me reconectar com o universo profundo da Amazônia. Das comunidades ribeirinhas num momento tão difícil da pandemia. Eu pude aprender e ao mesmo tempo colaborar. É maravilhoso quando você pode estar num trabalho que ao mesmo tempo você se sente útil e vai aprendendo fazendo. Aproveitei para fazer uma pós-graduação na área de saúde pública e ambiente e participei da implantação de um programa importante que foi o Saúde na Floresta da FAS.

Pude viajar para diversas comunidades ribeirinhas. Aprendi muito dentro da FAS com o trabalho que é voltado para o desenvolvimento sustentável do nosso Estado e da nossa Amazônia. Numa visão de que não basta proteger a floresta. É preciso que as pessoas que vivem dentro da floresta tenham acesso a melhores oportunidades e à qualidade de vida.

Fred Novaes

É jornalista
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