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Livro com memórias de coronel que lutou na 2ª Guerra é lançado em Manaus

Quem gosta de pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial acaba de ganhar uma verdadeira preciosidade: o livro ‘Verás que um filho teu não foge à luta’, com as memórias de José Alípio de Carvalho, organizado por sua sobrinha Márcia Baraúna.

José Alípio de Carvalho nasceu no Ceará, mas ainda muito criança foi levado para a Paraíba onde entrou para o Exército. Para Manaus o moço veio atrás da futura esposa, ainda na década de 1950, e aqui viveu até morrer, em 1995, aos 75 anos.

‘Verás que um filho teu não foge à luta’ narra a saga de José Alípio em terras italianas, entre 1944 e 1945, onde serviu na infantaria da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

Capa do livro “Verás que um filho teu não foge à luta” – Foto: Divulgação

O interessante é que os relatos de José Alípio estavam datilografados, com anotações do próprio autor, perdidos dentro de uma pasta, entre tantas outras, na casa da família.

“No início de 2019, minha tia Clio Baraúna de Carvalho, viúva de José Alípio, hoje com 93 anos, me pediu que a ajudasse a procurar uns documentos que estavam amontoados, num apartamento novo para onde ela se mudara. Eu fui ajudá-la até que encontramos os escritos do tio Alípio. Eu reconheci sua letra. Qual não foi minha surpresa ao notar que se tratava de uma autobiografia onde ele contava a história de seus antepassados e de sua vida, desde a infância, juventude, passando pela atuação no fim da Segunda Guerra, quando lutou em Monte Castelo”, disse Márcia.

Tia e sobrinha ficaram em dúvida se o material tinha algum valor literário, e foram consultar o historiador Robério Braga, que desde a infância, quando fora escoteiro, conhecera José Alípio e ele afirmou, de imediato, tratar-se de um importante relato histórico.

Desabei em choro

A partir da opinião de Robério, Márcia passou a organizar a edição do livro. Digitou, revisou e enviou para o historiador que providenciou a publicação do material.

O texto de José Alípio é rico de informações sobre a sua vida naquele período da Guerra quando, soldado, não recuou em ir lutar na Itália.

“Quando já estava no Rio de Janeiro, prestes a embarcar no navio que o levaria para os campos de batalha, seu pai chegou da Paraíba indo ao encontro dele para pedir-lhe que não fosse, ao que ele falou ao pai que não lhe pedisse aquilo. Quando li isso, desabei em choro. Foi aí que decidi que o nome do livro seria ‘Verás que um filho teu não foge à luta’. Não sei qual era a intenção do meu tio ao escrever aqueles relatos, se era apenas escrever, ou publicar um livro, então não tinha título, que foi dado por mim”, contou.

Um dos relatos mais importantes do livro é a participação de José Alípio na batalha de Monte Castelo, entre 24 de novembro de 1944 e 21 de fevereiro de 1945, na qual brasileiros e americanos lutaram contra os alemães na tentativa de desalojá-los do Monte, porta de entrada para o restante da Europa. Foram seis ataques efetivados pela FEB, com grande número de baixas entre os pracinhas. Numa delas, José Alípio foi ferido na perna por um estilhaço de granada, mas continuou lutando.

“Por causa disso ele recebeu a Medalha Sangue do Brasil, dada a militares e civis feridos no teatro de operações na Itália. Também recebeu a Silver Star, terceira mais alta condecoração das Forças Armadas dos Estados Unidos concedida por bravura em ação contra um inimigo dos Estados Unidos”, informou.

Exposição do Palácio

Documentos, condecorações e medalhas, fará parte de uma exposição no Centro Cultural Palácio Rio Negro – Foto: Márcio James/ Secretaria de Cultura e Economia Criativa

De volta ao Brasil, servindo em Belém, José Alípio conheceu a amazonense Clio Baraúna, que estava de férias na capital paraense. Apaixonou-se pela jovem e quando ela voltou a Manaus, ele apressou-se em pedir sua transferência para a capital amazonense, onde casaram-se. Ainda moraram no Rio de Janeiro, onde tiveram os filhos.

No Amazonas, o militar serviu no Comando de Elementos da Fronteira, 27º Batalhão de Caçadores, 29ª Circunscrição de Serviço Militar e no Grupamento de Elementos da Fronteira.

“Minha tia disse que não sabe quando e onde meu tio escreveu suas memórias, porque ela nunca o viu escrevendo. Eu também não sei por que ele encerrou os escritos até pouco depois de seu casamento. Acho que parou no final da década de 1950”, esclareceu.

Além do livro, o acervo pessoal de José Alípio, com documentos, condecorações e medalhas, farão parte de uma exposição no Centro Cultural Palácio Rio Negro, de 12 a 17. Após o fim da exposição, a pedido de Clio, o acervo será doado ao 1° BIS. O público poderá visitar a exposição durante o horário de funcionamento do espaço, de terça a sábado, das 9h às 17h. É necessário agendamento pelo Portal da Cultura.

José Alípio morreu em 1995, aos 75 anos de idade, de parada cardíaca.

“Ele foi um herói de guerra, lutou mesmo baleado até a vitória em Monte Castelo. Esse livro diz realmente quem foi ele, o pensamento dele, a convivência dele com a família, com a qual sempre foi muito ligado, e mesmo depois que saiu do Exército não conhecia o ócio. Era um grande homem”, concluiu Clio Baraúna.

A foto da capa do livro traz, no seu verso, a seguinte dedicatória: “Aos meus pais uma recordação de seu filho distante – José Alípio – Itália – 27 II 945”, ou seja, a Batalha de Monte Castelo havia acabado dias antes e a Guerra na Europa se aproximava do fim. 

FOTO/DESTAQUE: Márcio James/ Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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