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Varejo do Amazonas emenda 3º mês de queda em agosto

O comércio varejista do Amazonas emendou seu terceiro mês consecutivo de queda. No mês do Dia dos Pais, o recuo foi sentido novamente tanto na variação mensal, quanto na comparação com o mesmo mês do ano passado – quando o setor já surfava em trajetória de retomada. Em ambos os casos, o Estado seguiu a média nacional, mas obteve melhores resultados em segmentos dependentes de crédito, como material de construção e veículos. É o que revelam os dados da pesquisa mensal do IBGE para o setor, divulgada nesta quarta (6).

O comércio amazonense recuou 1,5%, na variação mensal, após os tropeços mais robustos de julho (-2,8%) e junho (-3,5%). Em relação ao resultado de agosto do ano passado, o varejo local sofreu decréscimo reforçado de 11,2% no volume de vendas. O acumulado do ano (+1,8%), assim como o aglutinado de 12 meses (+5,5%), seguem no campo positivo, mas continuam sendo erodidos pelas sucessivas retrações mensais. O Estado só ficou à frente da média nacional (-3,1%, -4,1%, +5,1% e +5%) nas variações mensal e anualizada.

O varejo encolheu em 24 das 27 unidades federativas brasileiras, na variação mensal. Com isso, a despeito do decréscimo de 1,5%, o Estado decolou do penúltimo para o décimo lugar do ranking. Os únicos dados positivos vieram do Ceará (+2%), Maranhão (+1%) e Roraima (+0,3%), enquanto Rondônia (-19,7%), Paraná (-11%) e Mato Grosso (-10,9%) ficaram no rodapé. No acumulado do ano, o Estado caiu da 20ª para a 21ª posição, em uma lista liderada por Santa Catarina (+4,5%), Rio Grande do Sul e Alagoas (ambos com +3,7%), e encerrada por Tocantins (-9%) e Distrito Federal (-3,3%). 

Vitaminada pela inflação do período, a receita nominal do setor foi melhor em todas as comparações. A retração ante julho de 2021 foi de 0,4%, ficando comparativamente melhor do que o da sondagem anterior (-1,3%). No confronto com agosto de 2020, o varejo do Amazonas conseguiu crescer 2,6%. O saldo dos oito meses do ano (+15,2%) também seguiu no azul, assim como no aglutinado dos 12 meses (+16,9%). As respectivas médias nacionais foram -1,8%, +9,9%, +17,4% e +15,6%.

Mesmo com a variação mensal negativa na receita nominal, o Amazonas acabou escalando da 24ª para a 12ª posição. Apenas Roraima (+0,8%) e Alagoas (+0,1%) subiram nesse tipo de comparação. Na outra ponta, Rondônia (-20,3%), Paraná (-8,3%) e Acre (-8,2%) tiveram os piores números. No acumulado do ano, o Estado desceu da 16ª para a 19ª colocação. Amapá (+32,8%), Piauí (+32,6%) e Rondônia (+25,2%) dividiram o pódio. Em contraste, Tocantins (-1,3%), Distrito Federal (+8%) e Paraíba (+11,5%) tiveram os piores desempenhos. 

Veículos e construção

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do varejo no Amazonas. Na média nacional, seis das oito atividades pesquisadas tiveram taxas negativas, entre julho e agosto, com destaque para outros artigos de uso pessoal e doméstico (-16%) – composta, por exemplo, pelas grandes lojas de departamento. Também encolheram os subsetores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).

Mas, sabe-se que o varejo ampliado amazonense – que inclui veículos e suas partes e peças, bem como material de construção – só foi melhor do que a média do setor no Estado, na variação mensal. O volume de vendas caiu 0,6%, no confronto com julho de 2021, e tombou 10,7% sobre agosto do ano passado. A atividade, entretanto, subiu 4,5% nos oito meses iniciais deste ano e 8,5%, no acumulado dos 12 meses. Em todo o país, as respectivas variações foram -2,5%, 0%, +9,8% e +8%.

Já a receita nominal do varejo ampliado do Amazonas caiu 0,3%, na comparação de julho com agosto deste ano, mas cresceu 2,5%, na variação anual. Os resultados em valores correntes do caixa dos lojistas locais avançaram 17,8% no acumulado dos oito meses iniciais de 2021 e foram positivos em 19,9%, na variação anualizada dos 12 meses. Na média brasileira os números foram -1,4%, +15%, +23,2% e +19,3%, na ordem. 

Inflação e desemprego

Diante do novo retrocesso de vendas registrado pelo varejo amazonense em agosto, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, chama a atenção para o fato de que o desempenho segue negativo mesmo em comparação ao ano passado, quando a pandemia ainda não tinha o recurso de contingência da vacinação. O pesquisador aponta como possíveis motivos para a nova baixa a resiliência da inflação e do desemprego, entre outras incertezas, e aponta que a sinalização segue negativa para o setor.

“O comércio local entrou em uma descendente, nos últimos meses. As causas são diversas, mas identificamos que [os preços de] algumas áreas majoraram fortemente, afastando o consumidor. Por outro lado, outras despesas familiares, como energia elétrica, passaram a comprometer mais fortemente a renda das famílias, o que é outro motivo para a queda do varejo. Por fim, a baixa empregabilidade e a consequente queda na renda das famílias, impõe restrições às compras. Não há otimismo para a próxima divulgação, uma vez que a média trimestral está em baixa”, alertou. 

Turbulências políticas

Na mesma linha, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge de Souza Lima, concorda que a inflação e o desemprego contribuíram para inibir o consumo, assim como a alta dos juros, entre outros fatores que pioraram a confiança do consumidor. Mas, aponta que o impacto econômico renitente da pandemia, materializado em desabastecimento na indústria e no varejo, entre outros fatores, ainda desenha um quadro negativo para o setor. Diante disso, o dirigente avalia que, mesmo diante da sazonalidade positiva do último trimestre, os lojistas terão dificuldades para vender.

“Essa queda pode ser atribuída à pandemia, apesar da vacinação. Apesar da vacinação, o consumidor se trancou um pouco e está segurando o dinheiro, porque emprego está difícil, as coisas ficaram mais caras, as dívidas vão se acumulando, e todos esses problemas políticos deixam a população descrente. Ainda tem o fato de que a indústria se retraiu e, quando isso acontece, o comércio vai junto. Ainda tem o problema logístico, que ameaça deixar muitas lojas sem produtos: quando tem contêiner, não tem navio, e vice-versa. Não estou otimista para as vendas de fim de ano”, arrematou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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