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Nacional, símbolo da resistência

Livraria Nacional, símbolo da resistência

Com a reabertura do comércio, em Manaus, desde o dia 1º de junho, a mais antiga livraria de Manaus, a Nacional, com 45 anos de existência, voltou a receber presencialmente seus clientes. Para José Maria Mendes, proprietário da Nacional, o mundo irá viver uma nova era pós-pandemia, por isso ele quer comemorar reacendendo a chama da livraria, já no próximo mês, lançando uma feira mensal de livros e o retorno dos lançamentos e eventos literários, em grande estilo, como há muito não eram realizados no espaço.

“Nesse tempo todo de quarentena e isolamento social, nunca deixamos de atender aos nossos clientes. Eles ligavam, pediam o título desejado e nós, ou marcávamos para ele vir pegar aqui, ou entregávamos em domicílio”, contou Zé Maria.

Apesar de a Nacional ter estacionado um pouco no tempo chegando ao ponto de os jovens de agora sequer a conhecerem, suas salas e estantes armazenam uma quantidade incalculável de livros.

“Atualmente temos cerca de 63 mil livros disponíveis para o cliente. Cadastrados tem muito mais, mas vários estão esgotados, sem falar, também, que destes 63 mil, alguns tem dois, três exemplares de cada, ou seja, posso afirmar que hoje somos uma das maiores livrarias do Brasil, tanto em quantidade quanto em qualidade de títulos”, afirmou.

Zé Maria lembrou que a Nacional tem duas fases. A primeira foi de 1975 até 1995, quando um incêndio destruiu um andar do prédio e dizimou grande parte do acervo. A segunda fase foi quando o Governo do Estado adotou apostilas nas escolas e os alunos, que compravam dois a três livros por ano na livraria, deixaram de fazê-lo.

“Isso nos impactou bastante, mesmo assim nunca pensamos em fechar as portas. Notem que nos últimos anos, grandes livrarias em todo o mundo vêm fechando porque há cada vez menos leitores de livros físicos, mas enquanto houver leitores, estaremos aqui”, garantiu.

Ambiente romântico

Fachada acanhada, porém, quando se entra na Nacional, a livraria ainda guarda aquele ar romântico, parecido ao dos filmes ‘Cinderela em Paris’, ou ‘Nunca te vi, sempre te amei’. E são dois andares de um casarão secular, repletos de estantes e livros, sem falar do depósito.

“Temos uma sala inteira somente com literatura infantil, que é onde o gosto pela leitura começa, com livros que vão de um a sete anos; e infanto-juvenis para crianças de oito a doze anos. Queremos que os pais tragam seus filhos e os deixem escolher os livros que quiserem. Não adianta dar o livro para a criança. Ela é que precisa interagir com a capa e com as figuras, e assim despertar o hábito de ler, que poderá durar pelo resto da vida”, ensinou.

Mas a viagem por categorias é quase infinita: literatura brasileira, literatura estrangeira, biografias, Amazônia, educação, arquitetura (Zé Maria começou vendendo livros de arquitetura, sobre uma mesa, em Manaus, há 55 anos, quando a livraria era apenas um sonho), artes (teatro – música – poesia), história, geografia, sociologia, filosofia, serviço social, administração, negócios, vendas, marketing, economia, empreendedorismo e o que o cliente imaginar, ou desejar.

“Eu presto esse serviço ao cliente. Quando ele quer um livro sobre um determinado assunto, eu indico, explico sobre as vertentes desse assunto e se não tenho o título na Nacional, consigo localizá-lo pelo Brasil e trazê-lo até o cliente”, revelou.

Hábito herdado

“O que li durante o isolamento social? ‘História da pedagogia’, de Franco Cambi. Só tem 700 páginas, mas como eu sou pedagogo, 700 páginas foram poucas. Também li ‘Contos amazônicos’, do nosso Arthur Engrácio, que por sinal fui eu mesmo que editei, ainda na década de 1980”, disse.

Para Zé Maria, feliz daquele que tem o hábito da leitura, uma simbiose entre o leitor e o que foi escrito por um determinado escritor.

“O amar a leitura nada mais é que um hábito, herdado desde a mais tenra infância, de alguém mais velho. É conseguir fazer inúmeras coisas que nada mais irá conseguir fazer, como pensar algo que nunca tinha pensado; passear, de olhos fechados, pelo mundo, pela vida, pelo invisível. É observar com a mente”, revelou.

“O ideal é ler um livro por no mínimo três vezes. Após a terceira vez, isso é comprovado cientificamente, a mente se torna autônoma sobre o que leu”, concluiu.

Zé Maria adiantou que o primeiro andar da livraria, até então inacessível aos clientes, passará a receber a ‘Feira Mensal de Livros da Nacional’, sempre nos primeiros sábados do mês, começando no próximo dia 4 de julho.

“Colocaremos todo o nosso acervo à disposição do cliente, com preços mais acessíveis e descontos. Também começaremos a organizar os lançamentos dos livros da Editora Valer, e estamos abertos para receber quem desejar realizar qualquer tipo de evento literário em nosso espaço”, avisou.

Dentro das normas de segurança e higienização, os funcionários da livraria estão usando máscaras, disponibilizando álcool em gel para os clientes, e mantendo abertos os janelões do casarão centenário para arejar o local.

“Pode vir tranquilo que aqui você só se contamina com conhecimento”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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