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Livraria Nacional, novamente de portas abertas, completa 45 anos

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Quem nunca comprou um livro na Livraria Nacional, ou não tem cultura, ou é um alienígena na capital amazonense. Às vésperas de completar 45 anos no próximo dia 5 de fevereiro, a Nacional é a livraria mais longeva da cidade, com venda exclusiva de livros. Lamentavelmente, como as livrarias em todo o mundo, a Nacional está perdendo forças, com poucos clientes, e consequentemente poucas vendas, mas seu proprietário, José Maria Monteiro Mendes promete resistir até o último livro.

Zé Maria nasceu em Manaus, mas foi criado em Belém onde, desde muito cedo mostrou interesse pelo trabalho e por ganhar dinheiro.

“Ainda muito pequeno, com uns sete anos, ajudava meu pai na mercearia dele, em Belém. Ele gostava que eu trabalhasse lá porque passava o troco certinho. Ali, aprendi a empreender”, lembrou.

Com dez anos, Zé Maria foi morar com um tio, dono de uma joalheria, onde se identificou ainda mais com o segmento do comércio.

“Gostava tanto de ganhar dinheiro que, nas férias escolares do Colégio Domingos Sávio, ia pra frente dos cinemas Ópera, Iracema, Moderno ou Nazaré, vender bombons. E ganhava um bom dinheiro”, recordou.

Adolescente, Zé Maria teve seu primeiro contato com o segmento livreiro. Foi a uma empresa de Recursos Humanos, em busca de emprego, fez um teste e impressionou tanto o agenciador pela inteligência, que foi encaminhado para uma livraria.

“Era a livraria Livrolar, que ficava na Galeria Palácio do Rádio, em frente à livraria Dom Quixote, a mais tradicional de Belém, linda, magnífica, com um estoque imenso de livros. Eu passei a querer trabalhar lá”, contou.

O dono da Livrolar era um dos sócios da Dom Quixote. Zé Maria fez de tudo para impressioná-lo.

“Um dia um funcionário faltou e ele me mandou limpar o chão, e eu espanei até os livros, então ele disse: você é bom. Vai trabalhar na Dom Quixote”, riu.

De volta a Manaus

Na Dom Quixote, Zé Maria se esforçou tanto limpando os livros que logo sabia onde cada um deles ficava nas estantes. Com dois meses já auxiliava o gerente a encontrá-los quando o cliente solicitava.

“Sempre que podia, eu lia rapidamente algum livro. Um dia encontrei um que dizia: o livreiro é o líder de uma sociedade pensante. Me emociono até agora. Eu disse: eu vou ser esse cara”, falou.

Fazendo suas limpezas, Zé Maria encontrou várias duplicatas não pagas pelos clientes. Se ofereceu para cobrá-las no seu horário de almoço.

“Tinha umas 50. Recebi 48. Assumi o setor de cobranças da livraria, que estava totalmente desorganizado”, disse.

Por desavenças com uma gerente, o rapaz saiu da Dom Quixote, mas logo estava trabalhando na livraria Universitas, aberta pelo espanhol Angel Rodrigues, sócio minoritário da Dom Quixote, seu grande mentor.

“Nessa época entrei na Faculdade de Arquitetura e passei a vender lá, os livros técnicos da Universitas. Depois de um tempo o Joaquin Catalan, dono da editora Gustavo Gili, vendo o meu potencial de vendedor, falou para o Rodrigues que ele deveria me colocar como representante da editora, em Manaus. Era o ano de 1968. Vim a Manaus, revi a cidade, mas só voltaria, em definitivo, em 1970, como representante da Gustavo Gili.

Acervo inigualável

Estrategicamente Zé Maria abriu um espaço para a venda de livros no prédio da União Operária Amazonense, bem em frente à ETFA (Escola Técnica Federal do Amazonas), atual Ifam (Instituto Federal do Amazonas).

“Desde quando entrei na faculdade já pensava em ter uma livraria minha, o que aconteceu em 5 de fevereiro de 1975, quando abri a Metro Cúbico Livros e Revistas Técnicas Ltda. Metro Cúbico era o meu apelido na faculdade, porque meu nome tem três iniciais ‘M’. Pouco mais de um ano depois surgiu a Livraria Nacional, como nome de fantasia”, explicou.

Mesmo com poucos recursos, Zé Maria inaugurou a livraria na rua Alexandre Amorim, 177, em Aparecida.

“Realizei reparos no casarão, que estava muito deteriorado, mandei fazer as estantes, mas faltava o principal: os livros. Com a indenização que recebi da Gustavo Gili fui a São Paulo e comprei vários títulos. Só encheram duas prateleiras. O Jerônimo, proprietário da Livraria Sete, deixou vários livros consignados comigo e só assim consegui volume nas estantes”, riu.

Ainda com os bons ventos da época, em 1979 Zé Maria inaugurou uma filial da Nacional em Porto Velho, deixando à frente seu irmão João. Em 1981 inaugurou outra filial, em Rio Branco, agora com o irmão Paulo gerenciando.

Nesse período mudou a livraria para a rua 10 de Julho e, em 1984, adquiriu o prédio da rua 24 de Maio, mudando para lá em 1988.

“Até 1995 tivemos um progresso muito grande na livraria, mas dois acontecimentos praticamente a jogaram no chão: naquele ano um incêndio destruiu todo o meu estoque de livros e eu tive que pagar tudo para as editoras; e no ano seguinte o Governo do Estado proibiu professores de indicar livros para os alunos. O governo passaria a dar os livros. Esse ato do Governo me causou mais prejuízo que o incêndio”, lamentou.

Zé Maria fechou as filiais de Porto Velho e Rio Branco.

“Nestes últimos 25 anos temos visto o segmento livreiro recrudescer com a Nacional tentando sobreviver a todo custo. Nos últimos cinco anos alunos deixaram de comprar livros para consultar sites e pdf’s. Os jovens de hoje não sabem mais nem folhear um livro”, lastimou.

“Infelizmente, esta geração que está aí, terá um nível de leitura e interpretação de textos baixíssimo. Os que mantém o hábito da leitura serão privilegiados. Mas eu me orgulho de, nestes 45 anos, ter disponibilizado para a população manauara um acervo inigualável de livros”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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