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Lideranças do Amazonas se dividem sobre decisão do BC quanto a Selic

Lideranças do Amazonas se dividem sobre decisão do BC quanto a Selic

As lideranças das entidades classistas do Amazonas se dividem quanto ao real impacto da decisão do BC (Banco Central) de não mexer na taxa básica dos juros, a despeito da escalada da inflação. Para alguns, o enfraquecimento da economia em meio a uma segunda onda da pandemia justifica a renovação da Selic em seu menor patamar histórico, desde 1986. Pelo mesmo motivo, outros apontam que a medida é inócua frente ao agravamento do cenário e o risco de que o atual cenário de Manaus se replique em outras capitais. 

Em sua primeira reunião do ano, ocorrida nesta quarta (20), o Copom (Comitê de Política Monetária) votou, por unanimidade, em manter a Selic em 2% ao ano pela quarta vez seguida, em movimento antecipado pelo mercado. Em seu comunicado, o BC apontou que a conjuntura econômica ainda prescreve “estímulo extraordinariamente elevado” diante das incertezas, mas oficializou o abandono do forward guidance –intenção declarada de não aumentar a taxa, no curto prazo –, abrindo a possibilidade de retomada das altas.

Com as portas das lojas de seu segmento não essencial fechadas há quase três semanas, o comércio e o setor econômico do Amazonas que se mostra mais cético em relação à notícia. Para o presidente da Assembleia Geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, a crise da covid-19 passou a ser o real termômetro.

“A ferramenta que o BC utiliza para influenciar o mercado realmente ficou inapropriada, diante da circunstância atual da economia, marcada por muitas incertezas. Conduzir a política monetária agora ficou diretamente atrelado aos desfechos dos cenários econômicos, que hoje estão estigmatizados pela pandemia. Difícil dizer o que vai acontecer”, atalhou.

Na mesma linha, o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, reforçou que, embora os juros já estejam em seu menor patamar histórico há meses, nada mudou na “ponta do consumo”. “A Selic não impacta no comércio, no curto prazo. Não houve essa redução no setor, nem para empréstimos, nem para nada. É uma taxa fictícia. A atual situação deve ajudar muito mais os grandes devedores ou o próprio governo –com sua dívida pública –, do que o varejo”, desabafou.

Vacinas e paralisação

O PIM se divide em relação ao movimento do BC. Segundo o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, a manutenção da Selic no atual patamar é sinal de que haverá estímulo à economia, em razão de juros menores e barateamento do crédito, incentivando produção e consumo. 

“Julgo essa medida necessária, em razão da baixa atividade. Como os setores econômicos estão enfraquecidos, não há muito risco de aumento inflacionário, com a redução da Selic. Nesse cenário de pandemia ainda não controlada, é necessário estimular a economia, mas também não podemos deixar de aumentar os esforços para que a vacinação seja priorizada”, asseverou.

Já o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, considera difícil estabelecer o real alcance da Selic, diante do atual cenário. Para o executivo, alguns mercados podem voltar a crescer e até haver alguma estabilização cambial, mas as projeções acabam eclipsadas pelos impactos e incertezas inerentes à segunda onda da pandemia e à eventualidade de um lockdown generalizado no país. 

“Se você olhar para a questão puramente financeira, vai manter a tendência que tinha antes. O dinheiro especulativo vai estar em redução, porque o que dá retorno é a atividade produtiva. Mas, o que temos de ver hoje é quando essa pandemia vai acabar. O comércio já está praticamente parado e estamos na iminência de paralisar toda a atividade industrial. Se a situação que estamos vivendo em Manaus se repetir no restante do país, vai ser um negócio mais difícil do que foi no ano passado”, alertou.

Equilíbrio e margens

A manutenção dos juros foi bem recebida pelos segmentos imobiliário e de construção. O presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas), Frank Souza, reforçou que, quanto menor o juro, melhores condições de parcelamento para o comprador e mais vendas –especialmente em Manaus, onde o “padrão econômico” responde por 90% dos lançamentos. O executivo lembra que a Selic baixa impulsionou a atividade em 2020, mas não descarta a eventualidade de alta, no curto prazo. 

“Com essa inflação que está aparecendo, o governo não vai segurar a taxa por muito tempo. Por outro lado, essa elevação não deve ser grande, já que as projeções apontam para um patamar de 2,5%. Acredito que não há muito ambiente para alta dos juros. Mesmo com essa perspectiva, creio que o mercado vai se equilibrar e continuar favorável à venda de imóveis”, avaliou.

O setor agropecuário também mostra mais otimismo. Embora concorde que os produtores rurais já enfrentam problemas para acesso a financiamentos, em decorrência da burocracia para licenciamento ambiental, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, diz que a medida é acertada. “Para o setor, é fundamental não haver aumento em um momento tão difícil, em decorrência da pandemia. O licenciamento ambiental é uma dificuldade, mas os juros também são uma questão importante na tomada de crédito para produção rural, que tem margens bastante estreitas”, encerrou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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