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‘Jamais calarei a minha voz’ diz Cap. Carpê, vereador eleito

‘Jamais calarei a minha voz’ diz Cap. Carpê, vereador eleito

O capitão Carpê (Republicanos) foi o quarto vereador mais votado nas eleições do primeiro turno em Manaus. Com quase 8.500 votos, ele será o único policial militar a fazer parte dos quadros de novos parlamentares da CMM (Câmara Municipal de Manaus) pelos próximos anos quatro anos.

De origem humilde, Carpê promete ter um olhar mais sensível para grande parte da população manauara que enfrenta, hoje, muitas dificuldades – desempregados, pessoas que trabalham na informalidade, enfim, principalmente o jovem abandonado pelas instituições públicas e que acaba sendo cooptado pelo crime organizado.

Carpê conta que veio com a mãe de Manacapuru ainda criança. O pai saiu de casa muito cedo, antes que ele tivesse qualquer noção de realidade de mundo. E para chegar até onde chegou, foi uma luta árdua, de muita dedicação, tendo sempre como referência a orientação materna, a grande matriarca de sua vida.

Começou como soldado da PM (Polícia Militar). Ingressou mais tarde no oficialato e agora se prepara para exercer o seu maior desafio – ser um vereador atuante, compromissado com a população e proporcionar os benefícios de que a cidade mais precisa – lutar por melhorias no transporte público, no saneamento básico, incentivar a prática de esportes e reforçar as medidas de segurança pública.

“Vou levar toda essa minha expertise, que adquiri nesses dez longos anos na PM, para ter atuação exemplar como parlamentar”, ressalta. “Só se sabe o que as pessoas passam, em termos de dificuldades, quem as vivenciou. Eu senti tudo isso na pele. Vivi no dia a dia”, acrescenta.

O vereador eleito diz que aposta num bom mandato de David Almeida (Avante), que está à frente de Amazonino Mendes (Podemos) nas intenções de voto dos eleitores manauaras no segundo turno das eleições, segundo as últimas pesquisas.

“Não estou apoiando ninguém. Mas David Almeida dá mostras de que realmente está comprometido com a população, defendendo propostas aos quais tenho muitas afinidades, como a questão dos esportes”, afirmou. “Posso ser um voto vencido no Parlamento, mas jamais vou calar a minha voz”.

Carpê falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.  

Jornal do Commercio – O que o levou a disputar a uma vaga de vereador?

Capitão Carpê – Vi a falta de representatividade e compromisso de políticos com a população. Moro há 25 anos no bairro da Compensa. Lá, falta de tudo – esporte, segurança. As pessoas estão abandonadas. Não existe a presença do poder público.

O prefeito acabou com a Secretaria de Esportes. Isso é um crime. Os jovens estão mais à mercê do crime, dos traficantes, porque não têm opção de vida.

Percebi que só dentro de uma viatura não dava pra eu fazer nada, seria apenas mais um na Polícia Militar.

Comecei esse trabalho lá atrás, juntamente com o deputado federal Capitão Alberto Neto, mostrando as mazelas da sociedade.

A grande mídia bate muito forte na segurança pública. Então, passei a mostrar as minhas propostas pelas redes sociais porque elas democratizam as informações, mostram as coisas boas da PM. Hoje, tenho 161 mil seguidores no Instagram.

E não se constrói isso de uma hora pra outra. É todo um conjunto de ações. É muito gratificante saber que quase 9 mil pessoas acreditam no seu ideal, principalmente agora num momento em que muita gente morreu nessa pandemia. Meu compromisso agora é muito grande.

A população e os PMs podem contar com o capitão Carpê. Quero ser uma voz ativa. Fui criado por uma mãe, meu pai saiu muito cedo de casa.

Poderia ficar na minha zona de conforto, mas decidi ir adiante. Posso ser um voto vencido no parlamento, mas não vou calar minha voz.

JC – Como o sr. se sente como o quarto vereador mais votado nas últimas eleições em Manaus?

Capitão Carpê – Muito grato pelos eleitores que depositaram sua confiança em mim. Saberei honrar cada voto confiado. Fui um jovem muito pobre, de família humilde. Vim para Manaus, em 1996, junto com minha mãe, que soube me dar as orientações e possibilitar o que sou hoje.

JC – Sim, mas de onde vem o nome ‘Carpê’….. (rs)?

Capitão Carpê – Na época, meu pai era torcedor do Flamengo, puseram o meu nome em alusão ao Carpegiane, do time. E de lá pra cá pegou…..Nunca mudei, nem quando cheguei a ser oficial da polícia. Por onde ando me chamo sempre assim. E tenho muito empatia com as pessoas.

JC– O sr. obteve 8.538 votos, foi o quarto mais votado nas últimas eleições, aproximando-se de dois campeões de votos. A que atribui essa vitória, qual foi a sua estratégia?

Capitão Carpê – Não precisei inventar. Fui apenas o filho da dona Shirley, que mora na comunidade, na Compensa. Mostrei minhas propostas, as pessoas compraram essas ideias. Demorou muito. Ganhar a confiança das pessoas é difícil.

Mantenho os meus mesmos hábitos. Vou à padaria onde sempre estive, mantendo a mesma simplicidade. As pessoas ficam assustadas. Eu não vou mudar nunca.

A minha história de vida não me permite ser imbecil. Como um cara que saiu de Manacapuru, com uma família muito simples,  vai mudar? E como é que agora vou ser uma pessoa diferente? Jamais, nunca.

Eu estou entrando na política pra ser diferente, pra fazer a diferença. Durante quatro anos de minha vida, tomarei decisões difíceis e não vou me acovardar.

O verdadeiro líder toma decisões. É muito fácil ficar numa linha de conforto. Tenho que ser uma liderança, acreditar no que eu penso. Espero que as pessoas confiem em mim. Meu compromisso é com a população e não com grupos A ou B.

JC – As redes sociais foram importantes para alcançar seus eleitores, principalmente agora nesse cenário de pandemia?

Capitão Carpê – Sim, com certeza. Saía às ruas todos os dias na Compensa, mas as redes sociais foram fundamentais para me aproximar dos eleitores, para mostrar minhas propostas de campanha.

O celular revolucionou a campanha do atual presidente Jair Bolsonaro, em 2018, nas redes sociais. Elas  permitiram que eu chegasse em lugares em que outros vereadores, candidatos, não chegaram.

Um vereador não consegue atingir 161 mil pessoas só caminhando nas ruas, no corpo a corpo. As redes sociais revolucionaram a comunicação. Pelo celular se consegue viajar o mundo.

JC – Manaus acordou, na terça-feira, com parte da Recife destruída depois de uma chuvarada durante a madrugada. A avenida se transformou num caos. A cidade tem problemas de transporte público, saneamento básico etc. Qual será a sua prioridade como parlamentar?

Capitão Carpê – Esses problemas são antigos. O quê esses vereadores fizeram nesses últimos quatro anos, e também o prefeito? Falta fazer uma auditoria no transporte coletivo, rever contratos, renovar a frota de veículos.

Acredito que o novo prefeito vai fazer isso, terá como prioridades essas questões todas. Temos que proporcionar dignidade às pessoas. Precisamos sentar com os outros vereadores, avaliar os casos e cobrar uma solução do prefeito.

O prefeito não pode governar só nas áreas nobres. Precisamos repensar o que queremos para o futuro. Cobrar na tribuna e pressionar o prefeito

Estamos entrando nesse primeiro mandato pra mostrar o que se deve fazer.

JC – O sr. diz que levará a sua expertise como oficial da PM em defesa de melhorias para a cidade. Em termos de segurança pública, já desenhou alguma proposta nesse sentido?  

Capitão Carpê – A segurança pública é uma das principais bandeiras que abraço, já que fui oficial da PM. Assim que terminou minha campanha, pesquisei quais as cidades tinham a melhor guarda municipal do País.

E vi que Camboriú e Itajaí (SC) tinham umas das melhores guardas municipais.

Fui em Itajaí. Visitei a Secretaria de Segurança e a Guarda Municipal. Os guardas estão sempre nas ruas. Tem uma lei complementar que rege toda a vida da instituição, desde o fardamento.

A Guarda Municipal de Manaus tem 71 anos, tem o mesmo estatuto do gari. É necessário pensar de forma responsável. Hoje, Manaus é uma das cidades mais perigosas do Brasil.

A Guarda Municipal está totalmente sucateada, não está armada. Teve caso até de guardas assaltados. É um absurdo.

Precisamos reestruturar a guarda. Isso é uma tendência nas grandes capitais do País. E vou investir muito nessa questão em minha atuação na Câmara Municipal. Será uma bandeira de luta.

JC – O que o sr. está pensando como vereador em relação ao esporte?

Capitão Carpê – Sou faixa preta de jiu-jtsu. Hoje,  a grande dificuldade é a falta de incentivos aos esportistas. As quadras de bairros estão abandonadas.

No CSU da Compensa, jovens foram executados. Então, nenhum pai vai querer mandar seu filho praticar esportes nesses locais sem a menor segurança. Tudo Isso reflete na segurança pública. Todo tipo de esporte é importante, projetos sociais nas comunidades nesse sentido.

O prefeito extinguiu a Secretaria de Esportes. Pra mim, isso é um crime, não poder proporcionar benefícios aos jovens. O crime impera onde o poder público está ausente.  O jovem acaba sendo cooptado pelos traficantes.

Menores são mortos pela guerra do tráfico de drogas. Nós iremos, sim, incentivar os esportes. Tenho certeza absoluta que David Almeida, que é um desportista e tem chances de ser o próximo prefeito, vai ter um olhar sensível para essas questões.

Falta mais incentivo ao esporte, um olhar mais sensível, pois existem muitos jovens talentosos.

JC – O sr. veio de Manacapuru muito jovem, passou por muitas dificuldades. Chegar até aqui foi todo um aprendizado.  O que essa experiência de vida traz para o seu mandato em termos de atitudes na Câmara Municipal?

Capitão Carpê – Costumo dizer que quem nunca passou fome e dificuldades, não tem legitimidade para governar. Como você vai ter um olhar sensível se nunca passou por isso ou aquilo? Eu garanto que terei muito sensibilidade com as pessoas que enfrentam essas situações difíceis.

É muito natural que eu tenha um olhar sensível. Coloco isso como meta na minha vida, já investido como homem público.

Tomo como exemplo quando se faz treinamento no curso de formação na PM. Levamos o mesmo choque com a pistola taser pra saber o que as vítimas sentem.

Então, na vida é assim. Só vai sentir, realmente, o que as pessoas sentem quem passou por essas dificuldades.

A  minha experiência de vida como cidadão vai me gabaritar bastante pra eu ter um olhar sensível em relação aos mais necessitados da população.

JC – E essas tatuagens todas representam o quê….(rs)?

Capitão Carpê – Desde criança estive em eventos musicais, toco violão, sempre participei de igreja quando eu era mais jovem. Criei uma banda rock gospel.

Alguém me perguntou ‘cara tu não tens vergonha de ter toda tua pele suja de tatuagens’?

Respondi ‘teria vergonha se fosse ladrão, cheio de propinas’.

Então, não me prejudicam em nada as minhas tatuagens. Ao contrário, elas me aproximam dos jovens.

A capacidade está em sua formação, nas ações, no seu caráter.

JC – O sr. diz que não vai mudar o seu modo de ser. Acredita que as pessoas agirão assim também?

Capitão Carpê – Depende muito de minhas atitudes. As pessoas sempre veem que eu continuo o mesmo, mantendo os hábitos antigos, com a mesma simplicidade. Claro, que em algum momento, podem me olhar de outra forma por causa do cargo.

Mas tenho certeza que elas (as pessoas) verão que continuarei ir à mesma padaria que vou sempre, com a mesma empatia em relação a elas.

Como político não posso mudar, preciso estar próximo das pessoas. Fui eleito pra estar próximo delas.

Minha proposta é ter um gabinete no bairro da Compensa. Não será preciso ir à Câmara Municipal para me encontrar.

Marcelo Peres

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