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Instabilidade afeta balança comercial do PIM

Criado como modelo de abastecimento de produtos de tecnologia para o mercado interno, por meio da substituição de importações, a Zona Franca de Manaus historicamente teve uma balança comercial desigual, com primazia das importações em detrimento das exportações. Foi essa a tendência estrutural, nos 54 anos da ZFM, a despeito das mudanças mundiais, em termos geopolíticos e de abertura comercial.

Marcado por um período de turbulências políticas, recessões econômicas e, acima de tudo, incerteza, os últimos seis anos apontaram para oscilações significativas para a balança comercial da indústria incentivada da capital amazonense. Os Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus apontam que, tanto as importações, quanto as exportações, oscilaram significativamente nesse intervalo de tempo – especialmente estas últimas. 

Os dados mais recentes da Suframa, referentes ao acumulado até novembro de 2020, apontam que as exportações do PIM experimentaram queda de 26,81%, entre 2015 (US$ 615.63 milhões) e 2016 (US$ 450.55 milhões), até voltar a subir 6,83%, em 2017 (US$ 481.32 milhões), e 13,39%, em 2018 (US$ 545.75 milhões). No ano seguinte (US$ 428.11 milhões), tombou 21,55%, e já sinalizava nova retração em relação a 2020 – cujo acumulado de 11 meses não ultrapassou os US$ 342.91 milhões.

As importações, por sua vez, também seguiram em ziguezague, conforme a mesma base de dados da Suframa. Na passagem de 2015 (US$ 8.01 bilhões) para 2016 (US$ 5.36 bilhões), encolheram 33,08%. Voltaram a aumentar, em 2017 (+37,5% e US$ 7.37 bilhões) e 2018 (+20,62% e US$ 8.89 bilhões), mas tropeçaram novamente, em 2019 (-1,69% e US$ 8.74 bilhões). Os números parciais de janeiro a novembro (US$ 7.76 bilhões) indicam que o resultado do ano passado deve apontar para uma nova queda. 

A parte majoritária das importações da indústria consiste em partes e peças para a produção. Apesar das oscilações, a mesma série histórica aponta para um percentual crescente de insumos importados no PIM. Isso só não ocorreu entre 2015 (quando corresponderam a 64,22% do total dos insumos adquiridos) e 2016 (59,67%). Em 2017 (62,30%), 2018 (64,71%) e 2019 (64,79%), a trajetória ascendente já havia sido retomada e a tendência esboçada nos dados até novembro de 2020 (67,48%) é que também seguisse assim, no ano passado.

Concentrados e motocicletas

Os números do Comex Stat, referente à balança comercial de todo o Amazonas, informa que os dois produtos mais exportados pelo Estado, no acumulado dos 12 meses de 2020, foram manufaturados do PIM: concentrados para refrigerantes (US$ 147.57 milhões) e motocicletas (US$ 78.24 milhões). A indústria incentivada de Manaus comparece na lista novamente só a partir da oitava posição (barbeadores, com US$ 34.17 milhões), TVs (US$ 30.20 milhões) e máquinas de autoatendimento bancário (US$ 19.23 milhões).  

A mesma base de dados aponta, por outro lado, a presença de produtos acabados entre os itens mais importados pelo Amazonas, no mesmo acumulado do ano passado. Celulares (US$ 805.31 milhões) só perderam para circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 1.56 bilhão) e partes e peças para televisores e decodificadores (US$ 1.43 bilhão). Aparelhos de ar condicionado ((US$ 347.94 milhões) comparecem no quinto lugar do ranking.

Tomando-se como base apenas os itens industriais da pauta de exportação do Amazonas, os principais destinos das vendas externas, no ano passado, foram Argentina (US$ 79.92 milhões), Colômbia (US$ 77.14 milhões), Estados Unidos (US$ 54.95 milhões), Bolívia (US$ 37.50 milhões) e Paraguai (US$ 26.02 milhões). Os maiores fornecedores para o PIM, no mesmo período, foram China (US$ 4.17 bilhões), Estados Unidos (US$ 958.09 milhões), Vietnã (US$ 754.34 milhões), Coreia do Sul (US$ 692.62 milhões) e Taiwan (US$ 549.85 milhões). 

Câmbio e logística

Embora a fabricação de alguns componentes de maior valor agregado se concentre em determinados países, o diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam, e professor da Ufam, Augusto Cesar Rocha, diz que não percebe esforços do setor público para atrair mais componentistas ao parque industrial de Manaus e que sente falta de programas formais para atração de investimento estrangeiro direto no PIM.

Mas, o dirigente vê outros motivos para a maior participação, em valores contabilizados em dólar, do custo de partes e peças empregados pelo Polo. “Acredito que a razão é uma crescente participação de insumos importados, sem aumento de margem de venda e com prováveis ganhos de eficiência. Também faz sentido um maior agregado tecnológico e, muito provavelmente, frete. Nos últimos meses, houve um aumento do custo do serviço, e o frete está incluso no preço”, ponderou.

Rocha diz que, dependendo do volume, é usual que indústrias em processo de implantação em Manaus recorram a suas filias, ainda na primeira etapa, para importar produtos prontos testar mercado e processos produtivos. Sobre as exportações, acrescenta que a variação cambial pesa nos valores finais, mas considera que o leque de exportações do PIM deve se manter limitado. “Em minha opinião, a exportação será tipicamente residual, salvo se mudarem as condições de logística da região. Entretanto, com a relação cambial atual, podemos ter maior atratividade para exportação, a partir de Manaus”, concluiu. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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