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HQ manauara disputa prêmio Jabuti

Foram 3.422 inscrições nas 20 categorias do 63º Prêmio Jabuti, o mais importante e tradicional prêmio literário brasileiro, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Desse total, apenas 200, dez em cada categoria, foram selecionados para apenas um, de cada categoria, ser escolhido como o melhor. E têm amazonenses competindo na categoria Histórias em Quadrinhos: Ademar Vieira, jornalista, roteirista e ilustrador; e Jucylande Júnior, quadrinista, do estúdio Black Eye. O trabalho apresentado pelos dois é a HQ ‘Ajuricaba’, com a história do líder manaó que, no início do século 18, lutou contra os colonizadores portugueses sendo, posteriormente, preso e, segundo documentos da época, teria se atirado nas águas do Negro quando era levado para a prisão, em Belém.

“Quem inscreveu a nossa HQ foi o Raphael Russo, sócio do Black Eye, ainda no início do ano. Confesso que não lembrava mais que estávamos concorrendo e a notícia da indicação chegou de surpresa. Nosso projeto foi contemplado no edital Conexões Culturais, da Manauscult, em 2018”, revelou Ademar.

Ademar e Jucylande trabalharam durante dois anos na produção de ‘Ajuricaba’, começando com uma pesquisa aprofundada em livros de história do Amazonas e dissertações de autores nacionais e até internacionais.

“Para isso, contei com a ajuda do historiador Davi Lima e do livreiro Joaquim Melo. Ambos me forneceram um vasto material sobre o período em que Ajuricaba viveu no rio Negro”, falou.

Ajuricaba nasceu em algum lugar do rio Negro. Passou muitos anos afastado de sua tribo, mas retornou após seu pai ter sido assassinado pelos invasores portugueses. Querendo vingança, procurou os holandeses, que viviam no Suriname, para ajudá-lo.

O ícone Ajuricaba

“Nossa graphic novel narra a conhecida saga do líder indígena, líder do povo manaó que, à frente de mais de 30 nações indígenas, em uma guerra contra a coroa portuguesa, conseguiu atrasar em cinco anos o avanço do projeto colonial português na calha do rio do Negro”, contou Ademar.

A história em quadrinhos está contida em 130 páginas, em preto e branco, criada e roteirizada por Ademar. Os desenhos são do quadrinista Jucylande Júnior, do estúdio C-4, com arte-final do ilustrador Tieê Santos, também indicado ao prêmio HQMIX pela obra e capa de Ana Valente. Todos três artistas são manauaras, assim como o povo de Ajuricaba.

“Escolhi Ajuricaba por ele ser um ícone da história da cidade de Manaus, ter existido realmente, e ao mesmo tempo ainda ser confundido com uma lenda. Eu quis trazer o máximo de informações históricas e antropológicas sobre ele e sobre os manaós para o grande público, pois essas informações acabaram ficando restritas aos acadêmicos”, disse.

Sim, Ajuricaba realmente existiu, e lutou muito contra os portugueses, atacando suas missões, no rio Negro, e impedindo a atuação das ‘tropas de resgate’, grupos de soldados que subiam os rios da Amazônia caçando indígenas para levá-los escravizados até Belém. Quando os portugueses perceberam que Ajuricaba estava recebendo ajuda dos holandeses, e preocupados também com a chegada destes à região, começaram a perseguição ao líder indígena. Em 1727 deram início a uma ‘guerra justa’ prendendo Ajuricaba e vários de seus comandantes.

“e nos dias seguintes buscando-o nas Aldeyas dos seus alliados, foi ultimamente prezo o dito barbaro, regullo, e infiel Ajuricaba e seis ou sete principallotes dos seus aliados, e que com elle se acharão e se fizerão duzentas ou trezentas prezas”, escreveu Maia da Gama, comandante da frota que prendeu Ajuricaba.

Produções todo ano

O estúdio Black Eye surgiu com a união de Ademar, o ilustrador Tieê Santos e o administrador Raphael Russo. Os três resolveram produzir e distribuir seus próprios trabalhos e a cada ano tem surgido nova produção.

“Nosso lema é sempre fazer quadrinhos diferentes, às vezes com temática amazônica e outras não”, informou.

Em 2018, os amigos lançaram a HQ ‘Sete cores da Amazônia’, que conta a história de uma menina da periferia de Manaus, que descobre suas origens indígenas quando viaja ao interior para conhecer sua avó. Em 2019 foi a vez de ‘A maldição do governador’, comédia que conta a história de uma eleitora que amaldiçoa o governador de seu Estado a se tornar um zumbi por conta de uma promessa de campanha não cumprida. Ajuricaba é o terceiro título do estúdio.

“Este ano ainda teremos mais dois novos títulos”, adiantou.

“Sempre flertei com os quadrinhos, seja desenhando ou roteirizando, mas trabalhei como jornalista por treze anos antes de migrar para o roteiro. Desde 2015 trabalho como roteirista em uma produtora de animações e games e pra isso tive que fazer diversos cursos. A partir de 2018 comecei a usar o que aprendi para fazer quadrinhos independentes e desde então, todo ano publico alguma HQ pelo Black Eye”, finalizou.

‘Ajuricaba’ pode ser adquirido na Banca do Largo, ao lado do Teatro Amazonas, ou pelo site ugrapress.com.br, e ainda pelo Instagram @blackeyeestudio.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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