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Hélio Rocha traduz livros de estrangeiros que andaram pela Amazônia

Não foram poucos os europeus que rumaram para a Amazônia em séculos passados em busca de riqueza, aventura ou simplesmente explorar o inexplorado. Vários deles escreveram livros, inclusive para ganhar dinheiro com suas publicações sobre aquela região até hoje ambicionada pelos povos brancos de olhos azuis.

No sábado (3), a Editora Valer lança o livro ‘Viagens pelos rios Amazonas e Madeira: Brasil, Bolívia e Peru – 1872-1874’, do escritor e engenheiro inglês Edward Davis Mathews, traduzido pelo professor adjunto de línguas estrangeiras e literatura inglesa, Hélio Rocha, da Unir (Universidade Federal de Rondônia).

Editora Valer lança o livro ‘Viagens pelos rios Amazonas e Madeira: Brasil, Bolívia e Peru – 1872-1874’ – Foto: Divulgação

“Um dia eu estava conversando com um professor do Departamento de História e ele, brincando, disse que não gostava mais de mim porque eu não traduzia nada sobre a região onde morávamos. Foi aí que comecei a pesquisar sobre autores europeus e americanos que haviam escrito sobre a Amazônia e eles foram aparecendo um após outro”, falou.

Desde então, Hélio já traduziu vários livros: ‘O mar e a selva’, do inglês Henry Major Tomlinson; ‘O paraíso do diabo’, do americano Walter Hardenburg; ‘As aventuras de um sueco no alto Amazonas’, do sueco Algot Lange; ‘A descoberta do belo, grande e rico império da Guiana’, do inglês Walter Raleigh.

“Estava traduzindo ‘O Noroeste amazônico, notas de alguns meses que passei entre tribos canibais’, do inglês Thomas Whiffen, quando soube de ‘Viagens pelos rios Amazonas e Madeira’. O interessante desses homens é que um soube do outro através de livros e resolveu seguir-lhe o mesmo caminho daí surgindo um novo livro com suas histórias”, revelou.

Vasculhar obras

Se cada um desses aventureiros teve um local onde viveu e vivenciou histórias, agora é Hélio quem vai a todos esses lugares.

“Colômbia, Bolívia, Peru, alto Amazonas, rios Madeira, Beni, Guaporé, Purus, entre outros lugares. Onde eles estiveram eu vou ao mesmo lugar, de barco, de canoa. Procuro vivenciar as experiências que eles vivenciaram”, contou.

‘Viagens pelos rios Amazonas e Madeira’, por exemplo, resultou de uma viagem a trabalho feita por Mathews ao canteiro de obra da EFMM (Estrada de Ferro Madeira-Mamoré), quando da primeira tentativa de construção dessa ferrovia pela empresa britânica Public Works, entre os anos de 1872-1874.

“Quando da paralisação da obra, os empregados e funcionários da empresa retornaram para casa e Mathews, em 24 abril de 1874, em vez de rumar pelo rio Madeira e chegar às cidades de Manaus e Belém, para dali zarpar para a Inglaterra, decidiu subir as cachoeiras do rio Madeira, atravessar a Bolívia e o Peru. De Lima, Mathews seguiu de navio para o Panamá e de lá para a sua terra natal”, disse.

Vasculhar obras de estrangeiros sobre a Amazônia e publicadas apenas nas suas línguas e traduzi-las para o português tem sido um prazer para Hélio, mas essa tradução não significa apenas mudar as palavras do inglês para o português.

“Eu ‘amazoniso’ muitas palavras e expressões escritas por eles, como por exemplo: ciganos do rio, na realidade regatões, longe de serem ciganos; ou vara de sondagem, para nós varejão, vara que o barqueiro usa para desviar a canoa das pedras; e até mesmo a palavra ponte. No meio da selva não existiam pontes, mas pinguelas”, detalhou.

Hélio informou que leva entre um ano e um ano e meio traduzindo literalmente os textos. Nas férias vai conhecer in loco os lugares. Depois refina a tradução.

Labre e a sua cidade

Helio Rodrigues Rocha reside em Porto Velho desde 1993, mas faz questão de dizer que é amazonense, filho do rio Purus, da cidade de Lábrea sobre a qual escreveu o livro ‘Coronel Labre’, biografia do rico maranhense Antônio Rodrigues Pereira Labre, que enquanto morou naquele Estado, libertou mais de 400 escravos. O sonho de Labre era fundar uma cidade na Amazônia, e assim fez. Em 1869 ele veio para o Amazonas, subiu o Purus e escolheu o local da futura cidade, inclusive escreveu um livro onde descreve as belezas e riquezas do lugar, e chamando as pessoas para virem morar lá. Infelizmente vieram vários interessados e acabaram dizimando apurinã e palmarí, povos indígenas moradores tradicionais daquelas terras. O próprio Labre feminilizou o nome da cidade batizando-a de Lábrea.

Assim como Labre, o engenheiro inglês Mathews veio desbravar a Amazônia, primeiro trabalhando na Venezuela e depois na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

‘Viagens pelos rios Amazonas e Madeira’ é um livro que se enquadra nos relatos de viajantes pioneiros, que viram nas regiões desconhecidas um parâmetro para comparar com os seus lugares de origens, neste caso, Brasil, Bolívia e Peru com a Inglaterra, e como um itinerário para os aventureiros que se arriscavam em viagens por ambientes ainda inóspitos e desconhecidos.

O lançamento do livro será online, a partir das 10h, no Face da Valer, e contará com um bate-papo mediado pela coordenadora editorial da Valer, a filósofa Neiza Teixeira, o professor Dante Ribeiro da Fonseca e Hélio Rocha.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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