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Falta de insumos reduz oferta de motos no varejo

Falta de insumos reduz oferta de motos no varejo

O desabastecimento de insumos nas linhas de produção de motocicletas do PIM já se faz sentir na revenda das concessionárias, segundo fontes ouvidas pelo Jornal do Commercio. E isso ocorre especialmente nos modelos mais populares – e mais baratos. Os dados mais recentes da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) reforçam a conclusão.

A Fenabrave informa que as revendas de motocicletas no Amazonas encolheram 2,60%, entre agosto e setembro, ao totalizar 2.177 unidades. O acumulado (13.855 motos), por sua vez, segue negativo em 4,63%, mas o volume comercializado conseguiu ficar 43,98% superior ao de setembro de 2019 (1.512). Amparados pelos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), os dados revelam, contudo, um desempenho nacional melhor – +13,77, +13,55 e 20,78%, respectivamente. 

Em paralelo, três das nove divisões industriais investigadas mensalmente pelo IBGE apontaram queda em agosto, a de “outros equipamentos de transportes” – similar à de duas rodas – foi uma delas. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a produção reduziu o passo em 14,6% e o comparativo do acumulado do ano apontou para um tombo ainda maior (-21,9%). O desempenho so subsetor em agosto contribuiu para puxar para baixo a indústria amazonense como um todo – que subiu 0,7% e caiu 13,7%, nas respectivas comparações. Vale notar que os números mensais anteriores haviam sido positivos.

Segundo a Abraciclo, o PIM registrou alta de 0,4% entre julho (97.920 unidades) e agosto (98.358), e retração de 14,3% em relação ao mesmo mês do exercício anterior (114.738). De janeiro a agosto foram fabricadas 588.495 motocicletas, o que representa um recuo 20,9% ante 12 meses atrás (743.556). As vendas do atacado totalizaram 96.415 unidades em agosto, volume 5,4% superior ao de julho de 2019 (91.454) e 7,9% abaixo de agosto de 2019 (104.649). O acumulado rendeu queda de 21,6%, de 720.782 (2019) para 564.988 (2020).

Lista de espera

Segundo o gerente geral da revendedora de motocicletas Manaus Motocenter, Jose Evanilson, as vendas não encolheram e a performance só não foi melhor em virtude da “falta de produto no mercado”. “A procura está muito boa. Estou aqui com quase 300 clientes aguardando motocicletas e não tenho produto para vender. Eles já estão com o crédito aprovado pelo consórcio, CDC, ou mesmo na modalidade a vista. Alguns já estão aguardando há mais de 45 dias. E o pior é que a fábrica entrou em férias coletivas na última sexta, com previsão de retornar no dia 19 deste mês”, lamentou. 

Os modelos de motocicletas mais procurados na loja, que revende os produtos da Moto Honda, são os da linha CG 160 – principalmente Fan, Start e Titan. Dados da Abraciclo indicam que as três registraram 13 mil, 8.500 e 9.200 unidades produzidas pelo PIM em agosto – contra 13 mil, 9.999 e 6.571, respectivamente, 12 meses atrás. A linha NXR 160 Bros – 12.400 (2020) contra 13.282 (2019), em agosto – também é muito procurada e conta com uma “lista de espera grande de clientes”.

O perfil médio da clientela é de consumidores que com renda de um a três ou quatro salários mínimos. “Ganham de R$ 1.500 a R$ 3.500, no máximo. É um público de baixa renda mesmo, que está querendo fugir do transporte público, seja pelo trabalho, seja pelo lazer. Não são pessoas da alta sociedade”, assinalou. 

Demanda reprimida

Jose Evanilson adianta que a expectativa de vendas da concessionaria é “muito boa” para o último trimestre do ano e assegura que o único obstáculo ainda é o gargalo no abastecimento de produtos. O gerente geral da Manaus Motocenter projeta que a demanda reprimida deve se manter até janeiro de 2021, com a recuperação da cadeia produtiva – que sofre os efeitos da desarticulação proporcionada pelo pico da pandemia e politicas de isolamento social.  

“Como a fábrica passou aí por mais de 90 dias parada, em virtude do período de pico da pandemia. Venho faturando aqui, na minha unidade, em torno de 260, 280 motos ao mês. E, mesmo assim, não consigo atender minha lista de clientes que aguardam o modelo. Como a fábrica ainda está prometendo para a gente o mês de outubro, ainda devo virar o mês com mais de 200 clientes aguardando a entrega de produtos”, ponderou.

O lojista ressalta que o entrave de limitação de vendas por falta de produtos não vem só ocorrendo só na revenda de motocicletas e aponta cenários semelhantes em outros segmentos – com eventuais consequências na precificação do produto. “Fui comprar material de construção e está faltando torneira e um monte de outras coisas”, exemplificou.  

Protocolos sanitários

Em texto distribuído por sua assessoria de imprensa, o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, reforçou que os números de produção e vendas comprovam o protagonismo da motocicleta no atual cenário, sendo uma alternativa segura de locomoção, além de fonte de renda para muitas pessoas que perderam o emprego ou tiveram seus ganhos reduzidos. O dirigente destacou que a maior oferta de crédito e o menor custo de manutenção tem favorecido as motos, mas não fala de desabastecimento. Ele destaca, contudo, que o ‘novo normal’ surgido no rastro da pandemia compromete os resultados. 

“Desde a retomada gradual das atividades industriais em maio, a produção de motocicletas vem mostrando uma curva ascendente e consistente. O volume até poderia ser maior, mas as fábricas ainda operam com restrições, pois a prioridade é preservar a saúde dos colaboradores, atendendo aos protocolos sanitários de segurança (…) Isso, no entanto, gera desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Ainda estamos atendendo às entregas atrasadas dos consórcios, por exemplo, que respondem por cerca de 25% das vendas de motocicletas no Brasil”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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