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Escassez de aço afeta custo da construção civil

A construção civil já está enfrentando escassez de aço. Nada menos do que 84% de um universo de 206 empresas ouvidas pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) apontam que 25 Estados já sofrem com o desabastecimento do insumo metálico –incluindo o Amazonas. O aço também é o produto que está registrando maior tempo de entrega, para 82,9% das construtoras, sendo que os prazos mais frequentes são de 30 e 60 dias (39,3%) ou de 60 e 90 dias (25,7%).

Em paralelo com o declínio da oferta, o preço do aço também disparou. Sondagem realizada pelo Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas) realizada junto às construtoras associadas, em fevereiro, indicou uma elevação de 87,23% no preço médio local do aço. O CUB (Custo Unitário Básico de Construção) passou de R$ 4,70 (2020) para R$ 8,80 (2021), no período, tomando-se como medida o metro quadrado. E a variação de preços entre uma fornecedora (R$ 8,95) e outra (R$ 9) não passou de 0,56%.

Em reunião realizada nesta terça (23), com representantes do Ministério da Economia da cadeia produtiva do aço e entidades representativas dos principais compradores do país, a CBIC chegou a propor ao governo federal a redução do imposto sobre a importação do aço, para tentar resolver o problema do desabastecimento. “Precisamos de um choque de oferta para restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a demanda. Nossa proposta é a redução imediata do imposto de importação”, reforçou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, em texto divulgado pela assessoria de imprensa da entidade. 

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção apresentou ao secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, os resultados de sua pesquisa com empresários mostrando a percepção do mercado em relação ao entrave da escassez do insumo metálico. A entidade destaca que o desabastecimento e a insegurança sobre a evolução dos custos dos materiais podem prejudicar a atividade, que chegou a projetar crescimento de 4% e geração de 200 mil novos empregos, em 2021. Para Martins, enquanto a oferta e a demanda não forem normalizadas não será possível estabilizar preços. “Quando a construtora tenta comprar da siderúrgica e não consegue, vai na distribuidora e se depara com um valor muito alto”, lamentou. 

Desequilíbrio de contratos

Na mesma linha, o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, lembra que o levantamento interno mais recente do sindicato patronal, realizado na virada do ano, apontou pelo menos uma obra no Amazonas que tinha sido forçada a parar, em virtude da falta de aço –em um universo de 33 obras. O dirigente assinala que o desabastecimento do insumo, assim como sua escalada de preços, é uma preocupação constante para as empresas e acrescenta que situação semelhante vem ocorrendo com outros materiais.

“Além do aço, outro produto gargalo que impacta diretamente na formação do preço final do metro quadrado e dos custos das empresas é o tubo de PVC. Ontem, teve essa reunião e foi feita essa proposta da CBIC. Mas, tem também a questão do tipo de aço usado no Brasil, que são o CA-60 e o CA-50. Alguns são normatizados e aceitos em outros países, mas aqui não. Queremos testar esses produtos para que isso gere uma pressão sobre os fornecedores e tenhamos um preço menor”, comentou.

Segundo Frank Souza, a escalada dos preços do aço, assim como de outros materiais de construção, está “desequilibrando contratos” no Amazonas. O presidente do Sinduscon-AM informa que o gargalo já está sendo tratado no âmbito do programa habitacional federal Casa Verde e Amarela, mas avalia que a questão também está gerando problemas para os governos estadual e municipal.

“Vai ter de buscar uma forma de adequar isso, de forma contratual. No caso da obra imobiliária, a empresa contrata hoje e entrega depois. Muitas vezes, as construtoras têm contratos de manutenções de obras civis com os governos, baseados em valores anteriores. Esse aumento inflacionário não cobre a variação de valores. Estamos falando de aumento perto de 89% para o aço, quando um reajuste mensal inflacionário é de 4%, que é até um pouco irreal”, justificou. 

Lançamentos adiados

A escassez e alta nos preços da atividade também está contribuindo para a postergação de investimentos, além de preocupar a Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas).  O fechamento de 2020 apontou para uma expansão de 18% de vendas, o equivalente a R$ 957 milhões, conforme pesquisa trimestral da entidade. O volume de crescimento, no entanto, ficou aquém da projeção das empresas, que aguardavam faturamento de R$ 1 bilhão e alta de 23% sobre 2019 –que já havia contabilizado acréscimo de 35% na comercialização de imóveis. 

Em texto fornecido pela assessoria de imprensa da entidade, o presidente da Ademi-AM, Albano Maximo, reforça que “algumas situações” surpreenderam o mercado, impactando em uma diminuição de expectativa, no último trimestre do ano passado, sendo que os reajustes de preços de materiais da construção civil em patamar “fora do esperado” foi um desses fatores. “Esse aumento de preço adiou muitos lançamentos, que passaram para o trimestre seguinte e aguardam estabilização do mercado, para poder ter um preço de venda mais  consolidado”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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