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Entrevista: Masahiro Ogino, cônsul-geral do Japão em Manaus

O cônsul-geral do Japão em Manaus, Masahiro Ogino, ressalta que o seu país compartilha dos mesmos ideais de Estado de direito, da plena democracia e do respeito aos direitos humanos. Segundo ele, a aproximação entre os dois países fica mais forte a cada dia.

A marca japonesa está presente fortemente na indústria incentivada de Manaus (são pelo menos 40 unidades em atuação na ZFM), na gastronomia e na intensa migração de japoneses para o Amazonas, que se concentraram principalmente no município de Parintins, onde, hoje, são realizados diversos projetos de alto alcance social na região, segundo o  cônsul.

Agora, o Consulado Geral do Japão promove a exposição ‘A Beleza do Artesanato de Tohoku’, região do nordeste japonês, que foi assolada, há 11 anos, por um terremoto seguido de tsunami. O evento começou no dia 17 de fevereiro, no Palácio da Justiça, e será encerrado nesta segunda-feira (8)

“Brasil e Japão são parceiros globais estratégicos. Manaus é uma cidade muito importante para os japoneses, onde vive uma comunidade nipônica muito ampla. Nossos laços estão mais fortes”, diz o cônsul-geral. Ele também destaca o compartilhamento da cultura entre os dois países, gerando mais oportunidades de iniciativas para fortalecer o intercâmbio comercial, econômico e social.

Além de prestar ajuda ao Amazonas, que hoje tem uma forte influência japonesa em vários segmentos da sociedade local, o Japão também presta auxílio a outros Estados brasileiros. Recentemente, enviou barracas e outros utensílios de emergência para as vítimas de inundações na Bahia, Minas Gerais e na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, segundo o cônsul.

Outra grande iniciativa é o intercâmbio estudantil. Brasileiros podem estudar no Japão como também os japoneses no Brasil, uma iniciativa que permite a troca de experiência tecnológicas em atividades de ensino avançado. “Nossos países sempre se dispuseram a estreitar mais esses laços”, acrescenta Masahiro Ogino.

O cônsul participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

 Jornal do Commercio – O Japão e o Brasil têm uma relação muito forte que se consolida cada vez mais. Como o sr.  avalia a importância de Manaus para fortalecer essa aproximação?

Masahiro Ogino – Brasil e Japão são parceiros globais estratégicos. E compartilham valores fundamentais como o Estado de direito, a democracia, e os direitos humanos. E Manaus também é uma cidade muito importante para nós. Temos aqui uma grande comunidade nipo-brasileira.

Reunimos em torno de 40 empresas japonesas que estão desenvolvendo suas atividades econômicas na Zona Franca. Portanto, queremos demonstrar um intercâmbio cultural, comercial e econômico ainda mais forte.

Quando o Japão sofreu o grande desastre natural com tsunami, há 11 anos, em Tohoku, no nordeste japonês, o país recebeu apoio de todo o mundo, inclusive do Brasil e de Manaus. Manaus organizou uma série de eventos para ajudar o Japão.

Nós, japoneses, nunca esqueceremos essa ajuda que Manaus e o Brasil ofereceram a Tohoku como parceiros que são. Tohoku é uma região que possui uma riqueza de culturas, rodeada de montanhas e mares.

Produz muitos artesanatos, em madeira e cerâmica. Espero que essa exposição reforce ainda mais o vínculo especial com Manaus. Para conhecerem a beleza de Tohoku.

E espero que, quando acabar essa pandemia, muitos viajem para conhecer pessoalmente essa cultura no Japão.

JC – Cônsul, uma boa quantidade da colônia japonesa vive em Manaus. E mantém várias tradições, como o jogo de beisebol, atuando na área de cultura também. Os japoneses se adaptaram facilmente às características do Amazonas? Tiveram uma boa receptividade?

MO – As autoridades brasileiras vêm com muita importância a sociedade nipônica brasileira, compartilhamos os valores de moradia, honestidade e cultura.

A sociedade japonesa goza de muita confiança. E, com base nessa confiança, as empresas japonesas estão tocando as suas atividades. E agradecemos muito essa adaptação feita com muito carinho em Manaus e no Amazonas.

JC – A exposição no Palácio da Justiça mostra a beleza do artesanato de Tohoku. É uma região que foi afetada pelo terremoto e o tsunami. Ela também comemora uma data especial. Até quando acontece o evento?

MO – Inauguramos a exposição no dia 17 de fevereiro no Palácio da Justiça. E vai até o dia 8 de março, na segunda-feira. O evento marca também as comemorações do aniversário do imperador do Japão.

Mas devido à pandemia, este ano não pudemos celebrar o aniversário, apenas produzir um vídeo comemorativo, que vamos publicar na nossa página na internet. Mostramos também a importância das migrações japonesas, que têm um vínculo muito grande com o Brasil.

JC – A migração japonesa se concentra mais no interior do Amazonas, como na Vila Amazônia, no município de Parintins. Os imigrantes têm muita resiliência em se adaptar às regiões. E inclusive desenvolvem projetos. Pode nos falar quais dessas iniciativas o consulado tem apoiado?

MO – Em outubro passado, visitei Parintins. É uma cidade muito agradável, pois a migração japonesa começou por lá, há exatamente 90 anos.

Encontrei muitas comunidades relacionadas à migração japonesa. Fazendo cultivos naquelas áreas. Temos projetos de assistência comunitária. Estamos apoiando ações básicas como educação, saúde e para diminuição da pobreza.

Ajudamos na construção de uma quadra esportiva. Há 15 anos, fazemos uma cooperação no Amazonas para o desenvolvimento de 21 projetos com investimentos de aproximadamente US$ 200 mil dólares americanos.

Recentemente, o governo japonês deu uma assistência de emergência para os Estados da Bahia e de Minas Gerais para atender pessoas vítimas das inundações por causa das fortes chuvas. Também estamos ajudando a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Como falei, o Brasil é um país especial para nós, e será sempre um parceiro.

JC – Essa parceria entre o Brasil e o Japão não é recente, principalmente em Manaus. Isso decorre por termos uma população descendente de japoneses muito grande? Ajuda a consolidar a presença japonesa na capital?

MO – Exatamente. Hoje, Manaus é a cidade mais ativa do Brasil, do ponto de vista do ensino da língua japonesa. Há 11 anos, a Ufam estabeleceu um departamento de literatura e língua japonesa, dando oportunidades para professores graduados de outras instituições educacionais.

Várias escolas como Djalma da Cunha Batista e Jacimar da Silva se converteram em unidades bilíngues de idiomas japonês e português.

E também uma escola privada está oferecendo o ensino de idioma japonês. Temos ainda uma escola japonesa em Manaus que atende filhos de japoneses, como também de brasileiros, com formação desde o ensino fundamental até o superior.

JC – Durante anos, muitos amazonenses, filhos de japoneses, se lançaram ao Japão para trabalhar. Teve esse forte intercâmbio. Ainda está acontecendo? Precisa do visto para viajar?

MO – O consulado dá todas as orientações. A nossa página na internet explica quais são os procedimentos. Mas é preciso checar todos esses dados antes de solicitar o intercâmbio.

Hoje, muitos brasileiros estão no Japão, como também muitos filhos de japoneses estão no Brasil. Há um intercâmbio muito forte entre os dois países. Agora, a Associação Nipônica-Brasileira está organizando um evento na Amazônia Ocidental, que representa a comunidade daqui, para reforçar ainda mais a cultura entre os dois países. O evento deve acontecer em setembro.

JC – A presença da gastronomia japonesa é muito forte aqui. O sr. chegou a experimentar esses pratos? Eles diferem do que é preparado no Japão?

MO – Felizmente, podemos desfrutar da comida japonesa em Manaus. A nossa gastronomia está cada vez mais globalizada. Mas os ingredientes daqui e os do Japão são distintos.

E os restaurantes procuram se adaptar aos gostos dos brasileiros. A comida de Manaus e a do Japão são um pouco diferentes. Mas os pratos são saborosos.

JC – A guerra entre Rússia e Ucrânia também preocupa o Japão?

MO – Tomamos uma posição com o Brasil, os Estados Unidos e os países da Otan. E compartilhamos dos mesmos valores do Estado de direito, da democracia e queremos trabalhar juntos.

JC – O sr. pode apontar alguma novidade do consulado em Manaus?

MO – Quero ressaltar os esforços da cidade de Manaus para a realização da exposição que mostra as belezas do artesanato do Japão. E nos solidarizamos à questão da pandemia. O Japão também enfrenta uma situação difícil. Mas todos reunimos esforços para superar as dificuldades.

Marcelo Peres

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