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Os fungos corantes da Amazônia

Pesquisadores da UEA, Inpa e Ufam descobriram que fungos amazônicos podem produzir corantes naturais em substituição aos sintéticos

Devido o seu clima quente e úmido, a floresta amazônica é um dos lugares no mundo onde mais proliferam fungos. Os fungos são fundamentais por seu papel na decomposição do material orgânico. Quando andamos pela floresta sobre folhas e galhos caídos pelo caminho, não os vemos, mas eles estão lá, milhares, talvez milhões de espécies, cumprindo sua sina de manter e equilibrar o ecossistema daquele ambiente. E agora eles podem ganhar uma nova e importante utilidade para os seres humanos. A pesquisa ‘Produção, estabilidade e aplicabilidade de colorantes produzidos por fungos filamentosos isolados de amostras de solo da região amazônica’, realizada por Luciana Aires, doutoranda em Biotecnologia, da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), sob a orientação do doutor em Biotecnologia Industrial, João Vicente Braga, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), e financiada pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), está mostrando que algumas espécies de fungos produzem pigmentos naturais (corantes), que podem ser utilizados para coloração de alimentos, cosméticos e tecidos, em substituição aos corantes sintéticos, prejudiciais à saúde e ao meio-ambiente e largamente usados pelas indústrias.

“Já analisamos 200 espécies de fungos, coletados a partir de amostras de solo e serapilheira, que são materiais em decomposição encontrados na superfície de florestas. Desse total, 50 apresentaram capacidade de coloração natural de baixa toxicidade”, explicou Luciana.      

Luciana contou que vários países vêm realizando esse tipo de pesquisa com fungos e foi a partir dessa constatação que ela resolveu começar a sua própria pesquisa aproveitando os conhecimentos do doutor João Vicente Braga. A China, por exemplo, já está bem adiantada em seus trabalhos e naquele país até existe uma espécie de fungo similar a uma espécie amazônica.

Substituindo os sintéticos

Para chegar às 50 espécies ora pesquisadas, Luciana revelou que fez uma coleta de material (folhas e galhos em decomposição) numa área de floresta praticamente virgem. Esse material foi levado para um laboratório no Inpa e lá os fungos foram isolados em meio de cultivo (alimento sólido, no caso, açúcar, em líquido).

“Das 200 espécies encontradas no material, concluímos que 50 tinham a capacidade de produzir massa micelial (ramificação que sai de todas as espécies de fungo) colorida. Quando a massa micelial cresce, já podemos ver a cor, que pode ser amarela, verde, laranja, vermelha. Em seguida essa massa passa por um processo que a transforma num pó, o corante”, detalhou.

“Até agora o fungo Penicillium sp. foi o que deu maior quantidade de corante nas cores amarelo-laranja”, completou.

“Esses fungos foram analisados em laboratório e avaliados alguns parâmetros físico-químicos, como pH, temperatura, exposição à luz, com o objetivo de entender todos os seus processos fisiológicos. No momento, esses fungos estão em fase de testes laboratoriais para tingimento de tecidos e aplicação em formulação de creme ou cosmético”, destacou João Vicente.

O mais importante na utilização desses corantes naturais é que eles podem substituir facilmente os corantes sintéticos, a grande maioria, tóxicos. Os corantes produzidos por micro-organismos são biodegradáveis, têm ação antimicrobiana, antioxidante, imunossupressora, antiviral, anticancerígena e auxiliam na redução dos níveis de colesterol, sem falar que não são afetados por fenômenos climáticos, como a seca, por exemplo, diferente dos corantes produzidos a partir de vegetais, que apresentam limitações, principalmente quanto ao período e à época de cultivo de cada espécie.

Nem animais, nem vegetais

Luciana lembrou que se não bastasse a Amazônia ser uma região propícia para a proliferação de fungos, só 1% da biodiversidade local é conhecida pelos pesquisadores, ou seja, ainda há muitas espécies destes organismos para serem descobertas.

A pesquisadora também informou que fungos não são animais, nem vegetais. Entre os organismos que vivem na Amazônia estão os micro-organismos. Entre esses micro-organismos estão os fungos e, entre os fungos, estão aqueles que são capazes de produzir corantes.  

O estudo de Luciana e João Vicente, iniciado em 2019, reúne um time de pesquisadores formado por biólogos, biotecnólogos, farmacêuticos e engenheiros químicos do Inpa, da UEA e da Ufam.

O projeto ‘Produção, estabilidade e aplicabilidade de colorantes produzidos por fungos filamentosos isolados de amostras de solo da região amazônica’ recebeu apoio do Governo do Estado, por meio da Fapeam, no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas).

O Universal Amazonas apoia atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas do conhecimento, que contribuem para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Estado.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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