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Democracia e autoritarismo

Os recentes acontecimentos envolvendo o repórter Danilo Gentili, do programa humorístico Custe o que Custar – CQC, especificamente no quadro “Proteste já”, quando este fazia uma reportagem em um Centro de Formação dos Profissionais da Educação – Cenforpe, em São Bernardo do Campo, SP, remete a uma reflexão acerca do processo de democratização da sociedade brasileira e, sobretudo, daquilo que o pensador político italiano Norberto Bobbio salienta sobre a relação Estado e sociedade civil.
Na sociedade contemporânea o processo de aperfeiçoamento da democracia deveria levar ao que o citado pensador político enseja de uma permeabilidade maior do Estado em relação às demandas oriundas da sociedade civil, tendo esta o papel de, por meio das distintas classes, frações de classes, grupos ou camadas sociais adensar cada vez mais suas reivindicações em direção ao Estado.
O fato ocorrido com o humorista brasileiro, agredido no exercício de sua atividade, quando fazia um quadro bastante conhecido pela sociedade, que tem como intuito tornar-se um canal de cobrança de responsabilidades do Estado e de governantes, e de direitos dos membros da sociedade, ilustra bem como os governantes têm lidado com as críticas ou questionamento de suas responsabilidades.
Essa forma autoritária de lidar com as cobranças ou reivindicações da sociedade, não é um privilégio dos regimes ditatoriais. Tem ocorrido com certa freqüência no atual regime democrático brasileiro, envolvendo governos de distintas vertentes políticas, seja de direita ou de esquerda. Para não se estender demasiadamente é importante citar apenas dois casos emblemáticos: uma greve dos professores da rede estadual em São Paulo, por salário, emprego e condições de trabalho foi reprimida violentamente pelo governador, naquele momento, José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB e, a greve dos trabalhadores da construção civil, por salário e condições de trabalho, em Belém, foi duramente reprimida pela policia militar do governo de Ana Julia Carepa, do Partido dos Trabalhadores – PT.
Não seria muito difícil relacionar uma dezena de casos da mesma natureza em praticamente todas as regiões do país protagonizadas por governantes de matizes políticas e ideológicas distintas e, até muitas vezes, que se reivindicam antagônicas. Mas, no caso envolvendo o repórter do CQC, o que salta aos olhos é justamente o fato de ter ocorrido em São Bernardo, berço da luta pela democratização do país, e, numa prefeitura dirigida por Luiz Marinho, um ex-dirigente da Central Única dos Trabalhadores – CUT.
Certamente que o caso da reportagem ganhou mais notoriedade por se tratar de uma agressão a um membro de um programa que tem alcançado uma elevada audiência. No entanto, é importante que esse fato não apenas seja considerado um caso isolado, como não se aceite como algo natural. No fundo, trata-se de uma postura de viés autoritário e um desrespeito a todos os membros da sociedade. Assim como deve merecer um veemente repudio não apenas por esse ato, mas por todos aqueles atos de governantes que em vez de absorver as críticas e as reivindicações da sociedade civil, as reprimem com violência policial.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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