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Curso de teatro do Cláudio Santoro retoma atividades

Depois de um ano e seis meses parados por conta da pandemia, os alunos do curso de teatro do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro voltaram às atividades em julho.

“Estão lidando com o pós-pandemia, lembrando do que passaram, a situação de perda de parentes e amigos, o medo de retornar às aulas, o vírus ainda existente, nem todo mundo vacinado, pais, mães. Mostro para eles que atravessamos uma grande parte desse deserto e agora estamos retornando à terra farta com a possibilidade da vacina. Percebo neles a ânsia em querer voltar. Chegaram um pouco assustados, mas a arte tem a sua força. O vírus da Covid fica pequenininho diante da vontade desses alunos em querer aprender e evoluir. É um reconquistar”, falou o professor Rômulo Hussein.

“Ensino para eles que é nesses momentos de medo e de angústia que podemos perceber quão a arte é tudo, pois ela nos alegra, nos informa, nos mantêm vivos, renova as esperanças, revigora a alma. Quem ficou em casa, durante o isolamento social, procurou ouvir músicas e assistir pela internet ou na TV, a filmes, peças de teatro, shows musicais e de dança”, completou.

Para Rômulo, a vida é um palco de teatro onde já nascemos representando, fazendo cenas através de expressões, depois chegamos a adolescência tentando convencer pais e mães de certas coisas que queremos ser ou fazer, e eles não concordam.

“Adultos, nos tornamos políticos, porque o ser humano é um ser político pensante que opina suas idéias, precisando estar antenado com tudo”, disse.

No Cláudio Santoro, Rômulo dá aulas de iniciação teatral para crianças de seis a onze anos e adolescentes de 12 a 17, e um grupo de pesquisas mais adulto, com idades que variam de 18 a 60 anos, realiza um laboratório teatral pesquisando a Commedia Dell’arte, forma de teatro popular surgida em Veneza, no século 16, onde as pessoas manifestavam suas indignações com a política e a vida que levavam. Nessa forma de teatro as pessoas saíam às ruas fantasiadas e usando máscaras. Tais manifestações foram a origem do Carnaval de rua, no Brasil.

Rômulo dá aulas de iniciação teatral para crianças de seis a onze anos e adolescentes de 12 a 17 – Foto: Divulgação

“Se prestarmos atenção, a história se repete e a Commedia Dell’arte tem tudo a ver com o que vivemos hoje, com as atuais mazelas da nossa sociedade”, lembrou.

Ex-alunos hoje profissionais

Rômulo explicou que as aulas de teatro ainda não estão acontecendo 100% como antes da pandemia e ele trabalha com no máximo dez alunos por aula (normalmente são 30), uma vez por semana com cada grupo, todos usando máscara e mantendo as medidas de prevenção à Covid, mas nesses poucos meses, o tempo passou rápido. Alunos que eram do infantil, agora estão com idade para integrar o grupo juvenil e o aprendizado vai sendo cada vez mais cobrado deles.

Além do Cláudio Santoro, Rômulo também é professor em outra unidade do Liceu, no Centro de Convivência da Família da Cidade Nova, onde trabalha com crianças e adolescentes das comunidades daquela região.

“O aprendizado do teatro é como qualquer outro, um processo, com várias modalidades: para crianças, iniciação teatral, laboratório, teatro musical, GET (Grupo Experimental de Teatro). Todos precisam passar por essas fases”, avisou.

Vários dos ex-alunos de Rômulo já entraram para o curso de artes da UEA.

“Tenho um ex-aluno fazendo mestrado em Goiás. Uma ex-aluna foi aprovada na USP/SP e desenvolveu um projeto aprovado numa universidade de Guadalajara, no México. É uma satisfação grandiosa ver um ex-pupilo teu na universidade, depois profissional em qualquer área, artística ou não”, contou.

O teatro abre portas

Rômulo lembrou que quando começou a fazer teatro, em Manaus, no início da década de 1990, se quisesse avançar na profissão, precisava viajar para Rio ou São Paulo. Hoje a UEA prepara o aluno deixando-o apto a se profissionalizar.

“O começo é aqui, no Cláudio Santoro, onde são preparados para um teste, uma banca, uma audição. Depois é com a UEA. Tenho ex-alunos que começaram no infantil, foram pro juvenil, depois laboratório, UEA e hoje são profissionais”, destacou.

Se antes não havia uma valorização, porque não existia uma profissão, hoje ex-alunos de Rômulo são professores de teatro em escolas, que cada vez mais querem professores para ministrar essas aulas.

“É uma conquista da valorização. Venho de uma turma de teatro que já ralou muito, de quando só era valorizado o que vinha de fora. Claro que o que vem de fora é importante, mas também tão importante é o que é nosso”, afirmou.

Rômulo faz questão de frisar que o que mais ensina para seus alunos é a valorização da cultura do Norte, do ribeirinho, do homem do interior, do indígena, das lendas. Seus alunos são ensinados a pensar e ter opiniões sobre o que é nosso.

O curso completo de teatro no Cláudio Santoro demora de quatro a cinco anos e o aluno não aprende somente a atuar, mas a ser produtor, iluminador, cenógrafo, sonoplasta, produtor de elenco, preparador de corpo, entre outras funções.

O curso completo de teatro demora de quatro a cinco anos e o aluno não aprende somente a atuar – Foto: Divulgação

“Nem todos que passam pelos nossos cursos vão fazer teatro. A aula, essa vivência que estão tendo abre campos e portas para outras possibilidades. Tem ex-alunos, em outras áreas, que me agradecem porque precisam dar palestras em suas profissões e o teatro os preparou para isso”, informou.

Agora em agosto, os alunos de Rômulo começam a ensaiar uma nova peça para ser encenada no final do ano, se a pandemia estiver sob controle. A última encenação, ocorrida em 2019, reuniu quase três mil pessoas entre parentes e amigos dos alunos de dança, música, coral, dança de rua, e artes plásticas.

A última encenação, em 2019, reuniu quase três mil pessoas entre parentes e amigos dos alunos – Foto: Divulgação
Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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