Pesquisar
Close this search box.

Coronéis e barões

Como era a agricultura do Brasil em 1808? Há 200 anos, quando aqui aportou a família real, capengava a mineração. A economia colonial deslocava seu eixo dinâmico do Nordeste para o Centro-Sul. Um processo de renascimento agrícola.
Assim o denominou Caio Prado Júnior, economista e grande historiador. As primeiras descobertas de ouro em Minas Gerais se fizeram em 1696. Até então, predominara a economia açucareira do Nordeste. A fulgurante ascensão das minas, cujo auge ocorreu em 1750, amorteceu o latifúndio canavieiro.
Gigantesco foi o deslocamento da população rumo aos veios de Ouro Preto. Em poucas décadas, um quinto da população brasileira -600 mil pessoas- povoava novo território. Junto migrava a mão-de-obra escrava. Nesse contexto, em 1763, a capital se transferiu de Salvador para o Rio de Janeiro.
Mas o ciclo da mineração exigia comida e isso despertou a produção local de alimentos. Começava, assim, a se formar a pequena agricultura, destinada ao mercado interno, espalhada do Sudeste ao Sul. Arroz, feijão, milho brotavam nos campos mais próximos. Dos pampas gaúchos chegava a carne charqueada. Animais de trabalho – cavalos, asininos e muares – se criavam para garantir o sucesso no transporte das jazidas.
Passado o apogeu, a crise se instalou no último quartel do século 18. Nesse mesmo período, a Revolução Industrial avançava na Europa. Entre tantas novidades, uma descoberta foi decisiva naquele momento da economia rural brasileira: a invenção, em 1787, do tear mecânico. A tecelagem da Inglaterra começava a demandar algodão. Sorte do Brasil.

A mudança
Enfraquecido o mercado local, devido à decadência mineradora, surgiu excelente alternativa externa. Em pouco tempo, a cotonicultura se espalhou, ocupando terras e braços desde o Maranhão até Porto Alegre. O boom do algodão, todavia, foi curto. Quando Napoleão avançou sobre a Península Ibérica, o mercado mundial já havia declinado, influenciado pela volumosa produção norte-americana.
Em resumo, na virada do século 18 o Brasil enfraquecera o coronel do sertão. Por sua vez, restavam esfaceladas as Intendências das Minas Gerais, ávidas por arrecadar a ‘quinta’ do ouro. As ‘derramas’, que forçosamente arrecadavam tributos sobre a mineração, atritaram súditos com a Coroa. Tiradentes acabou enforcado em 1792.
Ao adentrar o novo século, a Colônia contava 3 milhões de habitantes, um terço dos quais constituído de escravos. Sem pólo econômico dominante, espalharam-se as atividades produtivas. A velha economia colonial cedia às novas forças do desenvolvimento. Nesse momento, dom João VI atracou no Rio de Janeiro, abrindo as cortinas da nova época.
Veja-se o caso da pecuária. Num primeiro momento, a criação tradicional, instalada no sertão nordestino durante o ciclo do açúcar, avançou para o Vale do São Francisco. Assentou-se na Bahia e, depois, ultrapassou o grande rio para ocupar o Piauí, transpôs o Parnaíba e invadiu o Maranhão. Mais tarde, porém, com a mineração, a pecuária se fortaleceria na Capitania do Rio Grande. Caio Prado informa que, em 1793, as estâncias gaúchas venderam 13 mil arrobas de charque. Uma década após, o volume alcançaria 600 mil arrobas. Um salto notável.
Essa fase de renascimento da agropecuária brasileira começou a questionar a escravidão. Do mundo exterior faiscava um estímulo aos abolicionistas. A Inglaterra, em 1807, encerrou o tráfico negreiro de suas colônias. Na diplomacia e nos mares, fortemente, os ingleses combatiam o vil comércio de braços. Uma luz contra a escuridão.
Iria demorar, no Brasil, até chegar à abolição. Mas, isso é importante, nas entranhas da nova economia que surgia, longe da antiga dominação nordestina, nascia, espalhado nas múltiplas atividades agropastoris, o germe da independência e da liberdade. Aqui entrou o café.

A grande euforia
A economia cafeeira seria a grande sensação do século 18. Se quisesse, a família real poderia tomar um cafezinho logo ao chegar. Afinal, a cultura que, dentro em pou

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar