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Cipó-titica, o rei da mata

A floresta amazônica é pródiga para quem a conhece e respeita. Um exemplo de como a floresta em pé pode gerar dinheiro para quem sabe explorá-la racionalmente é o cipó-titica (Heteropsis flexuosa), endêmico da Amazônia. Suas fibras são utilizadas para tecer cestarias, objetos decorativos e mobílias artesanais. O estado do Amapá é o principal fornecedor dessa fibra para as indústrias do Brasil, mas o Amazonas também é rico deste cipó, conforme demonstra o livro ‘Olho da mata – manejo do cipó-titica e sementes nativas na FloNa do Purus’, que foi lançado essa semana.

O livro é resultado do projeto ‘Olho da mata’, surgido na década de 1990. O projeto ganhou impulso por ocasião da Eco-92 (II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), para o qual seus integrantes foram convidados.

“O projeto tinha assento na Associação dos Artesãos de Rio Branco em parceria com o Iecam (Instituto da Cultura Amazônica), mas a organização social do grupo de artesãos da Comunidade Vila Céu do Mapiá/FloNa do Purus, só aconteceu em 1998 com a criação da Escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza e do Idaris (Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serra)”, explicou Graça Mitoso, coordenadora geral do projeto.

Artesãos

“A idealização do livro vem do período que trabalhei na Escola Estadual Cruzeiro do Céu, da comunidade da Vila Céu do Mapiá. Foram muitas vivências com artesãos e artesãs com suas belas artes e grandes desafios. E também pela inspiração com a participação, com meus alunos, em oficinas do ICMBio e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para a elaboração do plano de manejo da FloNa do Purus”, completou.

O rei da mata

Mas, o que é o olho da mata? Para os artesãos do projeto, o ‘olho da mata’ são os olhos de todos os animais, árvores, seres humanos, vigilantes da floresta. O livro ‘Olho da mata’ é uma narrativa centrada na história pioneira do grupo de artesãos e artesãs da FloNa do Purus/Vila Céu do Mapiá, centrada na figura da mestre artesã, Arlete Maciel, fundadora e coordenadora geral do projeto ‘Olho da mata’.

“O cipó-titica tem destaque no nome do livro porque ele é o rei da mata. Serve para fazer casas, tinguijar (adormecer) os peixes, fazer paneiros, peneiras, vassouras, cestos, abajours, e vários outros utensílios. É uma arte ancestral mantida pelos povos tradicionais. Quanto às sementes nativas, hoje a Escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza, já tem inventariadas mais de 35 espécies de sementes encontradas na Vila Céu do Mapiá/FloNa do Purus, que tem uso na produção do artesanato. Dentre elas as mais utilizadas são a uxirana-cedro, taperibá, cocão, cumaru, jaci, jarina, tucumã, inajá, tucum, açaí, mumbaca e mulugu”, listou.

Arte ancestral

De acordo com Graça, o objetivo do projeto é dar visibilidade e reconhecimento a um grupo de artesãos que maneja a floresta onde tudo se processa à luz dos seus saberes ancestrais, e na sapiência dos povos tradicionais. O livro surge no intuito de elaborar uma narrativa acerca do trabalho pioneiro dos mestres artesãos da Floresta Nacional do Purus, com destaque para a artesã, Arlete Maciel, que coordena em distintas fases, projetos de artesanato desde Boca do Acre até o interflúvio Purus/Juruá, nas comunidades Vila Céu do Mapiá-Pauiní/Médio Purus e Vila Céu dos Estorrões, no vale do Juruá.

“O livro surgiu da ideia de relatar a história deste processo e caminhada rumo à organização social deste grupo de artesãos que se encontra na Vila Céu do Mapiá e de articular uma rede de trabalho e comunicação, neste momento de travessia pandêmica”, disse.

Apoio da Lei Aldir Blanc

A Floresta Nacional do Purus é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável localizada na Amazônia Ocidental, no município de Pauiní. Situa-se na margem esquerda do rio Inauiní. O projeto ‘Olho da mata’ pretende beneficiar, além de artesãos e artesãs, toda a comunidade, sobretudo estimulando os jovens que dispõem da Escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza, no seio da floresta, de um museu a céu aberto.

Os artesãos produzem uma diversidade de artesanatos com o cipó-titica e as sementes nativas, desde acessórios a utensílios domésticos, e uma variação de cestarias envolvendo palhas e cipós, biojoias, painéis de sementes, entre outros.

O livro, publicado com apoio da Lei Aldir Blanc, terá exemplares distribuídos nas bibliotecas do Estado, em órgãos públicos, instituições ambientais, culturais e educacionais governamentais e não governamentais. Na comunidade será distribuído pela Escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza.

O artesanato e o e-book de ‘Olho da mata’ podem ser adquiridos através da página do projeto no Face. A primeira tiragem impressa do livro terá distribuição restrita a parceiros e apoiadores, além de visitantes da comunidade e também aos autores e equipe do projeto.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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