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Obras de arte a partir de resíduos sólidos

A exposição ‘Fragmentos’, da artista plástica Eliana Chaves, com 17 obras de artes feitas a partir da reutilização de resíduos sólidos, está aberta ao público com entrada gratuita na sede da FAS (Fundação Amazônia Sustentável), localizada na rua A, 351, Parque Dez de Novembro. A mostra faz parte da programação cultural da Virada Sustentável Manaus e permanece no local até 10 de dezembro, com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.

Eliana começou a trabalhar com resíduos sólidos há sete anos, inicialmente com embalagens plásticas, quando chegou a Manaus e se deparou com a questão do lixo, muito forte na cidade, de acordo com ela.

Eliana Chaves

“Sou professora do ensino público, então comecei a juntar com os alunos embalagens de shampoo e produtos de limpeza, para fazer tramas, criar mosaicos, e várias outras peças. Depois de alguns anos, uns três anos, comecei a trabalhar com lonas de banner, um material muito poluente e não reciclável, então é mais importante trabalhar com ele, e mais recentemente com garrafas pet grafitadas, que é um projeto iniciado neste ano. As garrafas pet são filetadas em máquina desenvolvida aqui em Manaus, e depois tramada, sempre tramas, das embalagens plásticas coloridas, das lonas de banner e das pets. São os três materiais que eu trabalho”, revelou Eliana.

Eliana é uma artista residual que em suas obras utiliza o conceito contemporâneo ‘upcycling’, termo que garante novo uso aos resíduos por meio da arte e busca propor reflexões sobre o lixo produzido diariamente e sua destinação.

Doação da matéria prima

A professora e artista plástica consegue a matéria prima para as suas obras através de doações. Instituições como Uninorte, Semed, Manaus Lixo Zero, que conhecem seu trabalho, ligam perguntando se ela quer determinado produto.

“Sempre eu tenho matéria prima a mais e como o espaço no meu ateliê é reduzido, controlo tudo o que recebo, mas nunca precisei ir ao lixo ou às ruas para buscar esse material. Meus alunos, desde o começo, trazem embalagens e, juntos, realizamos projetos escolares”, disse.

A artista plástica falou sobre seu processo criativo de ver um resíduo sólido e surgir a ideia do que fazer com ele, ou não.

“É uma inspiração que acontece assim muito espontânea, ou não acontece. Muitas vezes eu preparo várias peças em casa, por exemplo, as lonas de banner, pinto várias de uma vez para depois filetar e deixar estocada. Lonas de banner são o material que mais uso porque é o mais fácil de trabalhar e realizar meus projetos”, falou.

Algumas peças, depois, são vendidas, colocadas em exposições, galerias e shoppings.

“Sempre que termino um projeto, coloco as peças à venda, porque logo em seguida começo outro e não tenho espaço no meu ateliê para ficar armazenando uma grande quantidade de obras, então sempre procuro escoar a produção”, contou.

A artista informou que o objetivo de ‘Fragmentos’ é causar uma mudança de pensamento sobre a destinação correta de resíduos sólidos e como isso pode ser feito por todos, mas com foco no destaque da beleza das peças.

Apaixonada pelas tramas

Eliana veio de uma cidade, no interior de São Paulo, que recicla quase todo o seu lixo. Até os animais mortos têm um destino correto.

“É uma cidade que respeita muito essa questão ambiental, e pratica a coleta seletiva feita de porta em porta. Você não vê resíduos nas ruas. Quando cheguei aqui me deparei com duas questões importantes: a primeira, a cultura belíssima das tramas pelas quais me interessei muito, pois havia terminado a faculdade de artes. Me apaixonei, me encantei, com tanta variedade de tramas”, lembrou.

“A segunda questão, que me espantou bastante, foi a quantidade de resíduos nas ruas e esse sistema de coleta, tão precário, numa cidade tão grande. Na época nem tinha coleta seletiva, e isso me impulsionou a fazer alguma coisa, então comecei a idealizar projetos dentro da escola com os meus alunos, como professora de artes, usando os resíduos. Em São Paulo trabalhava com pastilhas de vidro e aqui não tinha, então substituí pelos resíduos plásticos”, completou.

‘Fragmentos’ é composta por 17 obras, doze delas feitas com lonas de banner; três com pet; e duas com plásticos coloridos, e só parte está à venda. As de pet pertencem a um acervo particular, as de lonas de banner são de um projeto itinerante que Eliana vai começar, e só as duas peças de plástico estão à venda.

“O tempo de produção de uma peça varia muito. Pode demorar uma semana, ou meses, dependendo do tamanho dela”, informou. 

“No futuro, quando não houver mais resíduos sólidos jogados nas ruas, se as pessoas observarem minha arte num museu, ou na casa de um colecionador, vão entender esse momento crítico que vivemos na atualidade. A arte vai eternizar para a história esse problema tão grave de hoje. Minha arte tem uma missão, um propósito muito importante, de provocar essa reflexão sobre a questão do meio ambiente”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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