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Certificação ambiental engatinha no Amazonas

O elevado custo para a implantação de uma ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) e a escassez de mão de obra qualificada são os maiores gargalos para as empresas do PIM (Polo Industrial de Manaus) entrarem para o seleto grupo de empresas certificadas no Sistema de Gestão Ambiental dentro das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ISO 14001, ora reduzido a menos de uma centena de indústrias. A implantação do sistema pode custar até R$ 50 mil e leva um ano de trabalho.
A Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) ainda não fechou os números de 2009, mas os de 2008 apontam que 69 empresas estão certificadas e oito em processo de certificação nos limites geo­gráficos do Distrito Industrial Marechal Castello Branco.
O superintendente adjunto de Projetos da Suframa, Oldemar Ianck, disse que uma boa parte das empresas do PIM está passando por esse processo de certificação devido à legislação ambiental estar mais rigorosa e a própria exigência por parte de fornecedores e clientes. “Em algumas semanas, esse levantamento estará pronto e aí poderemos ter um número mais aproximado, que está maior em relação as do ano de 2008”, assegurou.
Ianck reconhece que o mercado está exigente, já a iniciativa agrega valor aos produtos. A Suframa vê essa situação como benéfica, pois as empresas com certificação ambiental desperdiçam menos recursos e poluem menos. “Essa disputa incentiva cada vez mais as empresas à melhoria contínua, uma vez que hoje muitas delas não possuem só a ISO 14000, mas também a OSAS 18000, que é a de Segurança e Saúde Ocupacional. Em alguns anos, a ISO 14000 será uma certificação comum que todas as empresas já terão”, informou.

Custo elevado

Oldemar Ianck considera que o elevado custo para implantação do sistema que exige a construção de uma ETE e a escassez de mão de obra qualificada podem ser apontados como as maiores dificultades, o que leva as empresas a adiar a implantação do sistema.
A coordenadora de marketing e relacionamento com o cliente da MB Consultoria, Adriana Fiúza, concorda que o preço pode ser um dificultador, levando em conta que a implantação do sistema de qualidade ambiental como um todo custa entre R$ 25 mil e R$ 50 mil, dependendo do porte da empresa, cuja implantação leva de oito a 12 meses. Além disso, se faz necessário investir na estrutura organizacional.
Segundo Adriana, as empresas em processo de certificação precisam investir em capacitação profissional, com cursos rápidos de entendimento inicial, visando ensinar os colaboradores como tratar os resíduos, auditoria interna e processos ambientais. “Se faz necessário informar ainda sobre ferramentas de controle ambiental e alguns requisitos ambientais”, enfatizou.
Por outro lado, Adriana defende que todo gasto desembolsado pelas empresas têm retorno, porque as estas precisam tratar seus resíduos sólidos, líquidos e atmosféricos (gases), por se tratar de uma exigência do próprio mercado. “Apesar da não obrigatoriedade, a implantação do sistema de gestão ambiental – ISO 14001- está crescendo porque as próprias empresas sentem essa necessidade”, garantiu.
Nos 16 anos de existência da MB Consultoria foram 23 certificados de ISO 14001 implantados pela empresa. Adriana informou que isso representa, em média, 18% do total de projetos em sistemas de gestão, que abrangem outras normas, implantadas pela MB.
Apesar da procura por certificação ambiental ser crescente, principalmente por empresas do polo de Manaus, Adriana admite que a crise global prejudicou em muito esse mercado no ano passado. Mas, neste ano, as perspectivas são boas com tendência de crescimento. “Nesta primeira quinzena de janeiro já recebemos três solicitações de projetos para a implantação de gestão ambiental, o que é um bom sinalizador”, adiantou.
Segundo a consultora, ainda hoje, a norma mais requisitada pelo mercado continua sendo a NBR ISO 9001 (Sistema de Gestão da Qualidade), em função da exigência da Suframa para algumas indústrias do PIM e também pelo próprio despertar do mercado para atender às exigências básicas de qualidade em produtos e serviços.
Além da indústria, a MB atende também empresas dos ramos do comércio e de serviços. “Essas empresas também têm nos procurado, principalmente as que trabalham com produtos químicos, porque sabem de sua responsabilidade para com o meio ambiente”, informou Adriana, ressaltando que as empresas estão procurando trabalhar programas de conscientização ambiental voltados para coleta seletiva, uso racional de energia e reciclagem, assim como palestras aos seus funcionários.

Palavra de especialista

Ao comentar essa situação o geólogo e consultor ambiental, Jorge Garcez, disse que a certificação ambiental através da Norma ISO-14001 não é um requisito obrigatório para empresa ou indústria. Por isso, disse que qualquer empresa pode usar o argumento de que os elevados custos para a instalação de tecnologias de tratamento e de controle ambiental inviabilizam a ISO 14001, que se aplica às empresas ou indústrias de médio e grande portes. Já as pequenas e microempresas podem optar pela metodologia de PmaisL (Produção Mais Limpa), que além de não exigir certificação se apresenta como uma forma mais eficaz no combate aos desperdícios, principalmente de água, energia e resíduos sólidos.
Quanto à mão de obra qualificada, Garcez disse que não é um problema de custo, mas sim cultural. O consultor avaliou que o trabalhador brasileiro ainda está muito longe de ter uma consciência ambientalista no nível dos países desenvolvidos. Esta é uma realidade, destaca ele, com a qual convivem as indústrias de todo o país e não somente aqui no PIM. “O custo para educar e conscientizar um trabalhador em relação às questões ambientais não é tão elevado, mas consome um tempo significativo para as indústrias. Como tempo é algo que as empresas não gostam de gastar com qualificação, certamente que este argumento possa se somar aos outros em relação a custos, que acabam por inviabilizar a certificação ambiental”, enfatizou.

Consultor ambiental destaca que países ricos continuam investindo, apesar da crise

Segundo Jorge Garcez, o universo de empresas certificadas no PIM ficou reduzido a menos de uma centena em razão da ausência desta cultura e de um baixo nível de comprometimento em relação à questão ambiental. “O recente estudo de diagnóstico realizado em 2009 pela Suframa, em parceria com a JICA (Agência de Cooperação Internacional), do Japão, revelou esta realidade, disse, ressaltando que este número reflete uma realidade pouco condizente com o discurso que é vendido na mídia para a sociedade brasileira e até mundial em relação ao PIM.
O consultor ambiental defende que se pense sobre novas estratégias que motivem às empresas, efetivamente, a adotarem práticas ambientalmente corretas, porque há muita coisa sendo feita de forma incorreta e não adianta nada ficar atrás de culpados. Ele aponta que é preciso educar empregados e empregadores, pois é um dever de todos cuidar do meio ambiente, segundo previsto na Constituição Federal do Brasil. “Caso contrário, as indústrias não alcançarão níveis de competitividade internacionais, tendo em vista seus baixos investimentos em tecnologias ambientais e/ou limpas”, aconselhou.
Garcez defende que é preciso que o empreendedor brasileiro, incluindo o do PIM, tenha consciência disto, pois corre o risco de fracassar no mercado futuramente. Mesmo em meio a crise, ele disse que os países ricos estão investindo pesadamente em novas tecnologias, enquanto os brasileiros estão usando a crise como argumento para não fazer nada.“Quando essa fase passar estaremos ainda mais atrasados tecnologicamente, acarretando em aumento significativo da pobreza no país e no nosso endividamento interno, ante o risco de um período inflacionário, que pode vir a ocorrer em razão de nossa dependência consumista dos países ricos industrializados, haja vista o fracasso da COP-15”, salientou.
Mesmo mantendo seus elevados níveis de industrialização, o especialista disse que os países ricos – a exemplo do Japão -, estão começando a desenvolver o que eles chamam de “eco-cidades”. “Estamos ainda muito longe desta possibilidade real”, enfatizou.
Jorge Garcez alerta ainda que em razão da ausência de um maior comprometimento pela grande maioria das empresas do PIM, incluindo o Distrito Industrial, esta situação tende a colocar em risco estas empresas, no que se refere ao quesito competitividade, sob o ponto de vista da qualidade ambiental dos processos produtivos, considerando que a ISO 14001 certifica processo e não produto. “Além disto, os compromissos socioambientais das empresas locais não estão bem definidos ou claros perante a sociedade amazonense. Há muito marketing verde e pouquíssima ação efetiva neste contexto”, finalizou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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