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Biatuwi traz culinária indígena

União do alto rio Negro, através do povo tukano; com o baixo Amazonas, com os sateré mawé. Esse é o cardápio do mais novo restaurante de comida indígena de Manaus, o Biatuwi – casa de quinhapira, indicado para quem aprecia comidas exóticas e pra lá de apimentadas. A pimenta já aparece desde o nome do restaurante: Bia (pimenta) + tu (casa) + wi (panela), em idioma sateré mawé. Quinhapira é um prato típico dos povos do alto rio Negro. Trata-se de uma sopa de peixes repleta de pimentas mais tucupi preto. Tradicionalmente acompanham beijus de goma.

O Biatuwi é administrado por mãe e filha, Clarinda Maria e Aline Ramos, saterés mawés. Foi inaugurado no dia 14 de novembro passado, no mesmo prédio do Centro de Medicina Indígena, à rua Bernardo Ramos, e pouco mais de um mês depois, em 23 de dezembro, fechou por conta da pandemia. Para comemorar o Dia do Índio, no dia 19 de abril, Clarinda e Aline reabriram as portas do Biatuwi.

Clarinda e Aline são saterés mawés e assinam o cardápio e gestão do local
Foto: Divulgação

Com pouquíssimas alterações em relação ao tradicional, os pratos servidos no restaurante mantêm a essência do que se come nas aldeias desses dois povos.

“Só procuramos adaptá-los ao gosto da maioria dos clientes que nunca os consumiram como, por exemplo, a quinhapira, na qual é utilizada muita pimenta, aqui, as minimizamos; também na preparação original eles tiram apenas o ‘bucho’ dos peixes, cozinhando-os com espinha e até escamas. Aqui, tiramos as escamas. Servimos o tambaqui ou o matrinxã”, explicou Clarinda.

Quinhapira – sopa de peixes repleta de pimentas mais tucupi preto – só para os fortes
Foto: Divulgação

E quem quiser provar algumas formigas, duas espécies, sahai e maniwara, integram o cardápio.

Sahai ou maniwara?

Sahai e maniwara, pra dar mais gosto
Foto: Divulgação

A sahai é servida como entrada, na farofa, com farinha d’água, torrada e pilada, diferente de como é consumida na aldeia, inteira mesmo, como tira gosto, junto com o xibé. A sahai é a nossa conhecida saúva, ou ao menos uma parente dela. A maniwara também aparece na farofa, como paçoca, no beiju que acompanha a quinhapira. A maniwara lembra a tanajura com a diferença de que nesta a bunda é protuberante, enquanto naquela é a cabeça.

“As formigas, e o restante de nossa matéria-prima como farinha, tucupi preto, pimentas, goma, polpas, cará, batatas, e guaraná vem de nossas terras, em Barreirinha, e também do alto rio Negro”, disse.

E quem pensa que vai poder degustar a famosa tucandeira, engana-se. A formiga, utilizada no ritual de iniciação dos jovens sateré mawé, só pode ser consumida por estes, como parte integrante da prática.

Trazida do cardápio dos povos do alto rio Negro, a mujeca de matrinxã é servida no Biatuwi acompanhada com polpa de umari ou polpa de japurá. Tanto o umari quanto o japurá são frutos típicos da Amazônia também utilizados em sucos. O matrinxã é cozido, desfiado e engrossado com goma.

“Pretendo lançar, em breve, o peixe puquecado, ou seja, assado na folha de uma palmeira, a caxirica”, adiantou.

Os amantes do tacacá poderão encontrar essa sopa tipicamente indígena exatamente como os antigos sempre a tomaram: muita goma e tucupi amarelo com pimenta.

“Nas nossas aldeias o tacacá não é uma sopa, mas uma papa”, revelou Clarinda.

E os vegetarianos não foram esquecidos. Para eles tem a quinhapira com cará roxo e batata doce.

Chefs do mundo inteiro

Nas sobremesas do Biatuwi, mingaus, de manga e de crueira. Crueira é a massa que sobra quando da preparação da farinha. É a parte da mandioca que não passa pela peneira. Essa massa é torrada e pilada, excelente no mingau e na preparação de biscoitos.

Para beber, sapó, nada mais do que guaraná ralado na língua do pirarucu, ou ainda xibés de açaí, buriti, bacaba, ou o tradicional sateré mawé, com sahai. Xibé é farinha molhada com água.

“No Biatuwi os manauenses vão comer quase o mesmo tipo de comida que seus ancestrais comiam, e servida na cuia”, concluiu Clarinda.

O alto rio Negro é habitado há séculos por vários povos indígenas, atualmente, mais de 20, vivendo harmoniosamente e compartilhando sua culinária onde prevalece a mandioca, com mais de cem espécies distintas, e as pimentas, também com um sem número de variedades. Chefs do mundo inteiro buscam conhecer os tipos de comidas desenvolvidas por esses povos.

Os sateré mawé do baixo Amazonas vivem nos rios Andirá e Tapajós. São conhecidos pela utilização do guaraná, mas também pelo consumo de formigas, cogumelos e produtos derivados da mandioca, como a puba, massa extraída da mandioca fermentada.

Em ambas as regiões não faltam o peixe e a farinha, suas bases alimentares.

O Biatuwi – casa de quinhapira está localizado à rua Bernardo Ramos, 97, Centro antigo de Manaus. Tem capacidade para 50 pessoas sentadas, mas seguindo as normas de segurança contra a pandemia, só libera 50% dos lugares. Funciona de quinta-feira a sábado, das 11h30 às 15h e atende delivery pelo 9 8832-8408.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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