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Bancas de revistas em busca de sobrevivência no mercado

Bancas de revistas em busca de sobrevivência no mercado

A pandemia também impacta na vida de donos de bancas de revistas em Manaus. A situação está tão difícil que eles decidiram reivindicar à prefeitura a isenção do alvará de funcionamento deste ano.

Já faz algum tempo que o pedido está na mesa do prefeito da cidade, Arthur Neto, segundo o Implurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano). O principal argumento do governo municipal é que a legislação não permite isentar o recolhimento do imposto.

Apesar da recusa, os proprietários se mobilizam para tentar conseguir a isenção. Dizem não ter opção. Não têm como pagar. Muito antes da quarentena, eles já enfrentavam uma retração nos negócios com a crise que assola hoje o mercado editorial no Brasil. A venda de assinaturas online dos mais diversos ramos da mídia agravou ainda mais a vida dos jornaleiros, como se enquadra essa categoria. 

Mesmo com a reabertura das atividades na capital, decretada a partir do dia 1º de junho, os revendedores avaliam que a estabilização dos negócios vai demorar pelo menos 60 dias. É que as distribuidoras ainda não sinalizaram quando vão normalizar as entregas de material às bancas.

Em outras épocas, a classe já experimentou um bom fôlego na economia. Mas com a veiculação de material editorial pelas plataformas online e o surgimento das mídias sociais, as atividades encolheram, obrigando os proprietários a se ‘reinventar’ para sobreviver às mudanças impostas pela tecnologia.

Manaus tem hoje mais de 60 bancas de revistas. E mais de 100 famílias dependem diretamente dessas atividades na capital. Isso reunindo distribuidores, transportadores e proprietários de bancas, segundo Maria de Fátima Mascarenhas, que se diz representante do segmento. “Estamos totalmente invisíveis em meio a essa epidemia que atingiu a todos”, ressalta ela.  

Muitos jornaleiros estimam, no entanto, que a distribuição de revistas deve ocorrer somente a partir de 15 de junho. Outra agravante é que, completamente descapitalizados, alguns proprietários deixaram de pagar fornecedores. Foram mais de 60 dias com as bancas fechadas. E os inadimplentes, mesmo que consigam saldar suas dívidas, não poderão receber tão cedo mais produtos. Existe todo um processo burocrático para o retorno do crédito.

“Enfrentamos uma situação bastante caótica com a paralisação que durou mais de dois meses. E mantemos a expectativa de avaliar pessoalmente essa questão com o prefeito Arthur Neto”, espera Maria de Fátima. Ela tem uma banca, há 27 anos, na avenida Joaquim Nabuco, Centro, em frente ao Hospital Dr. Fajardo. E já é uma figura muito conhecida na área. 

Maria conta que a categoria já teve um sindicato. A entidade está desativada, porém, por falta de eleições para a escolha de uma nova diretoria. “Formamos uma comissão para tentar sensibilizar a prefeitura. Estamos vivendo a mais completa penúria, sem dinheiro e sem novos produtos para revender”, acrescenta. “Não adianta abrir a banca, se não tem nada novo para vender”.

Novas autorizações

Os jornaleiros de Manaus também querem diversificar as atividades, como já acontece no Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros grandes centros consumidores do país. Por lá, além dos produtos tradicionais, as bancas exploram a venda de alimentos, fornecem café com leite, como fazem as lojas de conveniência. 

Por aqui, eles só podem vender revistas, materiais didáticos, canetas, lápis e ainda recarga de celular, por restrições da prefeitura. E quem for flagrado burlando as normas, está sujeito a multa e a outras penalidades. A categoria avalia que a autorização para explorar esse novo ramo abriria mais uma porta para a classe se ‘reinventar’ e, com isso, manter a sobrevivência no mercado.

“Levamos essa reivindicação à prefeitura desde o ano passado, mas até agora não obtivemos uma resposta”, diz Maria Mascarenhas. Os jornaleiros também reclamam por não terem sido incluídos pela prefeitura na lista do benefício de R$ 900 concedido a permissionários durante a pandemia. O auxílio é pago em três parcelas de R$ 300. 

O Implurb informou que só o prefeito está autorizado a falar sobre o assunto. E sugeriu aguardar alguns dias para divulgar novas informações. Por enquanto, o instituto só está funcionando em regime home office. E arrancar alguma resposta nesta época sobre as reivindicações dos jornaleiros é “humanamente” impossível, reclama a categoria.   

A jornaleira Rosa Santos, que tem uma banca no Parque 10, diz que enfrenta uma situação muito difícil. Não tem como pagar o alvará e, a duras penas, vai trabalhar todos os dias, mas o movimento ainda é muito fraco. Suas revistas estão desatualizadas. “Só vou mesmo trabalhar porque estou muito necessitada. Parece que a prefeitura esqueceu mesmo da gente. Somos completamente invisíveis”, lamenta.

Joaquim Melo, proprietário da banca do Largo, em frente ao Teatro Amazonas, Centro, diz que decidiu abandonar a venda de revistas por causa da crise econômica. “Ficou muito difícil sobreviver”, afirma. Hoje, seu negócio está focado na venda de livros com temáticas sobre a Amazônia. “Não é um sebo”, explica. “São obras novas e antigas”.

Melo diz estar otimista com a mudança, que aconteceu na hora certa. Segundo ele, sua banca é hoje a principal referência para a compra de livros de escritores amazonenses. Seu público se divide entre leitores locais e turistas de outros Estados e estrangeiros.

“Tenho obras do Arthur Engrácio (já falecido), do Milton Hatoum e até de escritores antigos cujos livros já se tornaram uma relíquia no Amazonas”, afirma. “Disponibilizo os dois volumes da trilogia de Hatoum que ele está escrevendo sobre os acontecimentos que marcaram o regime militar. O último da coleção será lançado até o final deste ano ou em meados de 2021”, ressalta.

Marcelo Peres

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