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As casas de papéis

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Você já ouviu falar na série da Netflix chamada “La casa de Papel”? Até Sílvio Santos disse no seu programa do SBT que está acompanhando a produção espanhola.

O seriado virou fenômeno de audiência e podemos aproveitar o enredo para traçar um paralelo ao ambiente corporativo: o líder, os colegas de trabalho (cada um no seu cargo e desempenhando sua função), o plano (foco) a ser alcançado, o cenário externo (com as adversidades) e as estratégias e ações para contornar os imprevistos durante a execução.

Na trilha da série
Eu não sou fã de séries, confesso! Pois quando a gente começa a entender e gostar do enredo finaliza a temporada e aí tem que esperar um tempão pra reiniciar. Aí tem seriados que têm um monte de temporadas e é uma ansiedade esperar.

Por algum motivo comecei a assistir e logo de início achei chato tratar-se de um assalto à Casa da Moeda em Madri (Espanha). Entretanto, depois do final do primeiro episódio eu já havia sido seduzida! Já não era mais possível viver sem acompanhar o desenrolar da trama e olha que trama, viu?!
A primeira temporada já terminou e dizem que serão apenas duas. A segunda começará em 6 de abril. Então muita coisa ainda será explicada ou ganhará outra abordagem.

Nove homens e um assalto
Tudo começa com o plano audacioso elaborado pelo estrategista e ator principal que, na série, é chamado apenas de “professor”. Ele é o líder.

O professor contratou oito “foras da lei” (bandidos, assaltantes e afins) que não tinham muito a perder na vida para se trancarem na Casa da Moeda e realizarem o maior roubo da história, subtraindo nada menos que 2,4 bilhões de euros.

Para não criar intimidade e nem revelar a identidade eles adotaram nomes de cidades ao redor do mundo. Tóquio, Nairóbi, Helsinque, Moscou, Rio (sim o de Janeiro), Berlim, Denver e Oslo integram o time.

Cada um contribui com uma habilidade específica, mas que -juntas -são determinantes para o sucesso da empreitada. Uma equipe de sucesso!

Loucademia de ladrões
Para que tudo ocorresse dentro dos conformes, o professor manteve-se durante cinco meses antes do roubo com os oito integrantes numa casa em Toledo, cidade espanhola.

Tempo investido para conhecer as personalidades, habilidades e talentos de todos. Integrando e treinando (detalhadamente) a equipe para o dia do assalto. O professor foi o único que não entrou na Casa da Moeda e ficou comandando de fora, por meio de câmeras e demais aparatos.

O poderoso planão
Como num processo fabril, o plano foi milimetricamente elaborado e contava com a otimização de recursos, inclusive com a força de trabalho de 67 reféns, entre funcionários e visitantes (incluindo a filha do ministro britânico, coringa na manga) para ajudar na produção da grana.

Pelos cálculos do professor era preciso que o time permanecesse onze dias presos na Casa da Moeda para fabricarem os mais de 2 bilhões de euros. Para disfarçar, arrastariam o assalto simulando que esse tempo seria decorrente da negociação entre bandido e polícia.

Pensar, planejar e roubar
O plano parecia perfeito! O professor estudou anos a fio cada detalhe. Ele conhecia como ninguém o “seu negócio”. Estudou o cenário e cada ação, se antecipando a cada movimentação dos agentes da força de elite da polícia.

Aliás, o professor via o plano como perfeito, pois não iria roubar o dinheiro de ninguém e nem derramar uma gota de sangue!

Onde as mulheres têm vez
É importante notar o desempenho das mulheres (mesmo sendo minoria) e o espaço relevante a elas concedido, o que nem sempre acontece nas organizações. Inclusive um dos papéis de maior destaque ficou para Raquel, a inspetora policial responsável pela negociação.

O curioso e imprevisível caso da mente
Mas, como o ser humano não é máquina e não controlamos todas as variáveis é claro que os imprevistos e o lado psicológico seriam o tempero e recheio da trama.

Falhas, julgamentos precipitados e errôneos, soluções equivocadas, interesses pessoais acima do coletivo, erros de cálculos e mais um monte de coisas dão um sabor especial a La Casa de Papel, e acabamos nos identificando com os ladrões. Não em virtude do roubo, mas porque a gente quer que o plano do professor dê certo!

Apaixonados
Mas, o ingrediente mais picante adicionado à trama foi a paixão. Afinal, o professor acaba se interessando por ninguém menos que a inspetora Raquel, braço direito da polícia! Pois é – justamente – ele que queria ser tão imparcial…

Ele não contava com esse envolvimento. Mas, ela, mesmo não sabendo que ele era ele, já que o professor se fazia passar por um homem comum, sentindo-se carente, passando por problemas pessoais, acaba se envolvendo afetivamente pelo líder dos assaltantes.

Outro par amoroso é formado entre a secretária do diretor da Casa da Moeda e o próprio, inclusive no dia que ela iria revelar que ele seria pai de um filho dela, aconteceu o roubo. O problema é que o diretor é casado e tem filhos.

Ainda há o caso explosivo entre Tóquio e Rio, a paixão não correspondida do inspetor Àngel por Raquel, que acaba causando mal-estar no relacionamento profissional e ainda Berlim, que é o chefe na Casa e usa seu posto (cargo) para seduzir e chantagear as reféns.

Enfim, acontecem várias situações na esfera pessoal que acabam impactando na profissional (no andamento do plano) e então podemos repensar nossa atuação no trabalho focando nessa linha divisória.
Analisar até que ponto estamos realmente comprometidos com o sucesso das nossas empresas, já que podemos – às vezes – colocar nossos interesses pessoais acima dos profissionais. E, principalmente, observar de que forma os envolvimentos afetivos no trabalho podem interferir na performance da organização.

Mas se você já assistiu e aguarda a segunda temporada assim como eu, vou arriscar o palpite que o cenário encontrado por Raquel, no final da temporada, foi, previamente, montado detalhadamente pelo professor (provavelmente ele deixará algum indício).

Aliás, adorei a associação sutil entre o título do seriado, referindo-se à casa das notas de dinheiro, e o final do último capítulo em que os agentes da polícia invadem a casa de Toledo, encontrando todos os papéis (plano) na parede. Seria a outra La Casa de Papel?

Cristina Monte

Cristina Monte é articulista do caderno de economia do Jornal do Commercio. Mantém artigos sobre comportamento, tecnologia, negócios.
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