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Artista Andrew Viana enriquece a arte de Parintins

Morto há quase onze anos, até hoje o legado deixado pelo religioso irmão Miguel Pasquale continua a enriquecer Parintins de artistas e arte. Andrew Viana de Oliveira começou seus desenhos com mais interesse quando estava com dez anos, tanto que ele próprio pediu para a mãe lhe matricular na Casa de Acolhida, um espaço da Igreja Católica onde eram ministrados vários cursos, entre eles, o de desenho. Mas ficou pouco tempo lá, logo passando a estudar no ateliê mantido por irmão Miguel, onde ele ensinava para os curumins de Parintins as artes do desenho, da pintura e da escultura de obras sacras. Praticamente todos os artistas mais antigos dos bumbás Garantido e Caprichoso aprenderam a fazer arte com o irmão Miguel, e estes, por sua vez, ensinaram e continuam a ensinar para os mais jovens que não chegaram a conhecer o religioso.

Curumin – é como chama criança na cultura indígena – Foto: Divulgação

“Em 1998 eu estava com 12 anos e fui estudar na Escolinha de Artes Irmão Miguel Pasquale, projeto criado pelo Caprichoso para formar futuros artistas. Eu já sabia desenhar e pintar bem pelo talento nato, mas principalmente por ter me desenvolvido tanto na Casa de Acolhida, quanto com irmão Miguel, porém, foi na Escolinha do Caprichoso que realmente me profissionalizei e comecei a ganhar dinheiro com minha arte”, lembrou.

Andrew credita seu profissionalismo ao professor Josinaldo Matos, uma espécie de sucessor de irmão Miguel que, como o religioso, há anos forma crianças e adolescentes nas artes do desenho e da pintura. Josinaldo vai mais além, ensinando seus alunos a vender seus trabalhos e ganhar dinheiro com as artes que produzem.

Pinturas como fotografias   

Cunhantã – Foto: Divulgação

“Comecei a vender meus quadros quando tinha uns 12, 13 anos. O professor Josinaldo organizava, e acredito que ainda organiza, exposições públicas dos trabalhos de seus alunos durante o Festival Folclórico, em praças e locais mais frequentados pelos visitantes”, contou.

Naquela época, Andrew, como a maioria dos artistas amazônicos iniciantes, ainda pintava paisagens de casinhas na beira do rio, floresta, pássaros voando, quando Josinaldo lhe aconselhou a buscar um estilo próprio, um tipo de desenho e pintura que só ele fizesse, e que fosse reconhecido por isso. Foi então que o garoto optou pelo realismo, pinturas que, de tão perfeitas, chegam a se confundir com a fotografia.

“Optei pelo realismo, mas sem deixar de pintar o ambiente que me cerca, o cotidiano amazônico, o caboclo do interior e principalmente os indígenas e seus grafismos. Muitos dos meus quadros são de crianças indígenas com seus xerimbabos. Fiquei até conhecido por isso. Gosto de mostrar a harmonia do homem com a natureza”, explicou.

Andrew desenha e pinta a partir de fotografias e “em cada quadro busco ser o mais perfeito possível”, revelou.

A grande maioria dos artistas parintinenses começou a trabalhar nos barracões dos bumbás ainda adolescentes. Andrew foi um pouco mais tarde porque ganhava dinheiro com seus quadros. Só em 2012, quando já estava com 26 anos, iniciou no Garantido, ainda que fosse apaixonado pelo Caprichoso. Para o barracão do contrário o rapaz se mudou em 2015, e está lá até hoje. No bumbá azul e branco, Andrew desenha, faz esculturas e pinturas de alegorias. Atualmente integra a equipe de Alex Salvador.

Saudade dos barracões

De Parintins para as escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro foi um pulo. No último ano em que atuou no Garantido, em 2013, ele já havia trabalhado para a escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo. No ano seguinte foi para a Tom Maior; em 2015, para a Vai Vai e, em 2016, assumiu a equipe de artistas da escola de samba Vila Maria.

“Em 2017 fui para a Mocidade Independente de Padre Miguel, do Rio, e estava lá até o Carnaval do ano passado quando tudo parou. Não atuei no Festival Folclórico daquele ano, no Carnaval e no Festival desde ano”, lastimou.

“Felizmente, sempre ganhei a vida pintando meus quadros e é como tenho me mantido, desde então. A única coisa que lamento, mas sei que voltará em breve, é a agitação dos barracões do Carnaval e do Festival Folclórico, e das apresentações das agremiações”, completou.   

Andrew reconhece a importância do incentivo recebido do professor Josinaldo, há mais de 20 anos, ensinando-o não só algo mais sobre as artes, mas como torná-las uma profissão, um meio de ganhar a vida. O artista disse que não para de vender seus quadros. Logo aparece um comprador para cada um que fica pronto e é postado em suas redes sociais.

“Vendo em Parintins, em Manaus, e para todo o Brasil. Em 2018 participei da minha primeira e única exposição ‘Parintins em cores’, em Manaus, uma coletiva, com dois quadros, e vendi os dois. Tanto vendo os quadros que pinto e divulgo nas redes sociais, quanto as pessoas me encomendam. Posso fazer uma obra em dois dias, ou em semanas. Depende do que o cliente deseja”, adiantou.   

Tão logo passe a pandemia, o artista pretende inaugurar seu Ateliê Arte Amazônica, em Parintins, mas seus quadros podem ser vistos no Face e no Instagram. Parintinense para o mundo ver.  

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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