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Arquitetura sustentável em alta

Quem viveu na Manaus de 50 anos atrás, lembra que os bairros eram repletos de casas com quintais imensos cheios de árvores frutíferas. Com o rápido ‘inchaço’ da cidade, esse modelo de vida foi mudando, sem que percebêssemos, em poucas décadas. As pessoas foram se fechando em apartamentos e as casas perderam seus quintais, tomados por outras construções, quando não, cimentados. Ninguém tem mais tempo nem paciência para cuidar de plantas e árvores. Mas as coisas estão mudando. O ser humano cansou da destruição que causa à sua volta e agora tenta reverter a situação.

A arquitetura sustentável, arquitetura verde, ou arquitetura ecológica dos dias de hoje, atua para que o resultado final de uma obra ou construção provoque o mínimo impacto ambiental possível, diferente de antes onde quem se impunha eram o cimento e o aço.

“Nosso escritório, MH Arquitetura, pegou o serviço de uma empresa que queria construir um estacionamento num terreno com algumas árvores, entre elas cinco jambeiros e uma bananeira, e queriam derrubar tudo. Conseguimos convencê-los a não fazer aquilo e ainda criamos um projeto que mantinha todas as árvores sem prejudicar o estacionamento”, contou a design de produto e gráfico, e acadêmica de arquitetura, Natacha Freitas Picanço.

Natacha Picanço: “descartar o mínimo e aproveitar o máximo”
Foto: Divulgação

“Os donos da empresa alegaram que os frutos, no caso os jambos, iriam cair sobre os carros, mas para tudo existem soluções. Telas no entorno das árvores servem para aparar esses frutos, depois é um algo a mais para os clientes dessa empresa colherem frutos fresquinhos direto da árvore”, disse.

O exemplo dado pelas arquitetas da MH Arquitetura foi tão significativo, que o amigo de um dos sócios da empresa do estacionamento, indicou sua avó, que iria construir uma casa num terreno, e queria aproveitar as árvores do local. A arquitetura sustentável conseguiu aliar a obra da senhora ao mínimo impacto ambiental.  

Design emergencial    

As edificações sustentáveis ganham cada vez mais espaço seguindo uma tendência mundial e o MH Arquitetura vai pelo mesmo caminho da sustentabilidade, que tem como pilar três elementos: meio ambiente, impacto social e economia. Entende-se hoje que para uma sociedade ou sistema ser sustentável se deve incentivar a conservação do meio ambiente, o bem-estar social e o ganho econômico de modo que este não coloque em risco os dois primeiros elementos.

“Outra cliente nossa pretendia realizar obras em seu terreno onde uma bela bananeira enfeitava o espaço, mas seu objetivo era tirar a árvore dali. Nosso projeto priorizou a bananeira dentro do que ela imaginava, e ela ficou satisfeita com o resultado final. No mesmo terreno, jogadas num canto, estavam umas telhas de barro, que a cliente queria tirar dali. Telhas de barro são históricas, em Manaus. Fazer uma decoração com esses objetos do passado valoriza qualquer ambiente. E as telhas acabaram ganhando um destino bastante significativo”, disse.   

Reutilizar objetos, numa época em que as indústrias no mundo não param de colocar produtos no mercado, é extremamente importante para o meio ambiente. Essa ação complementa as ações de sustentabilidade, por isso, inclusive, disciplinas sobre o assunto fazem parte da grade curricular do curso de arquitetura. Mais do que nunca as pessoas precisam se conscientizar e mudar alguns hábitos. A reciclagem é uma ótima forma de diminuir o volume de lixo e de criar peças bonitas e úteis para as mais diversas funções. Alguns desses objetos, já há algum tempo reutilizados na decoração, são pallets, caixotes de feira, latas, garrafas pet, rolhas e até móveis antigos, basta usar a criatividade. Eles podem ser utilizados tanto para decorar, quanto para ajudar na organização.

“É o que chamamos de design emergencial. Reutilizar objetos que, anteriormente, tinham uma função e passam a ter outra, como transformar uma porta numa mesa”, exemplificou.

Mínimo e máximo

Segundo Natacha, não raros são os clientes que desconhecem a arquitetura sustentável e não priorizam o respeito ao lugar de intervenção. Mas com seus conhecimentos, os arquitetos dos novos tempos, conseguem mudar essa visão.

“Recentemente o escritório atendeu um cliente que havia adquirido uma casa em cujo belo jardim existia grande quantidade de samambaias, e ele não gostava de samambaias. Pediu que déssemos o fim de todas. Atendemos o cliente, retirando as samambaias de seu jardim, mas não dando-lhes um fim. Outro cliente estava construindo um jardim vertical, e quis as samambaias, mas eram tantas, que sobraram, então eu fiquei com várias delas e ainda distribuí o restante para os amigos que as queriam”, relatou.

Natacha lembrou que não existe o jogar fora o que não nos serve mais. Apenas tiramos aqueles objetos de nossa frente. O objetivo para o agora e o futuro é cada vez reutilizar o máximo possível as coisas e reduzir o impacto ambiental, seja do lixo ou da intervenção.

“Quando vamos fazer um trabalho devemos educar o olhar para descartar o mínimo e aproveitar o máximo”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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