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Varejistas apostam nas vendas de última hora

As vendas para a Páscoa seguiram em ritmo morno, nesta semana. Mas, o setor mantém expectativas de uma decolagem, às vésperas da data comemorativa. A aposta das lideranças do comércio do Amazonas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio é que boa parte dos consumidores amazonenses deve seguir a tradição brasileira de correr para as compras, na última hora. O que se espera é que a meta de crescimento de 6%, calculada pela CDL-Manaus (Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus) seja atingida, ou até ultrapassada.

Os comerciantes concordam, no entanto, que a atual conjuntura econômica apresenta entraves para que os resultados vão muito além disso, especialmente porque o foco da data está em produtos considerados supérfluos para um contexto de crise. A Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas) avalia que as vendas não devem crescer acima de um dígito, na comparação com os números da Páscoa do ano passado –que ocorreu ainda em um período de reabertura do varejo em etapas graduais.

Sondagem do Ifpeam (Instituto Fecomércio de Pesquisas Empresariais do Amazonas) dá alento aos comerciantes, ao apontar que 92% dos consumidores de Manaus pretendem ir às compras, dando preferência aos ovos de Páscoa (62%) –sejam eles industrializados (50%) ou caseiros (12%). A CDL-Manaus informa, por seu lado, que a receita bruta aguardada pelo varejo é de R$ 58 milhões, com ticket médio de R$ 150. E acrescenta que o setor aumentou em pelo menos 25% seus estoques em relação a 2021, ao adquirir 35 mil toneladas de chocolates em produtos diversos.

Do lado dos obstáculos, há o fato de que os orçamentos domésticos dos consumidores manauenses, assim como no resto do país, estão cada vez mais curtos. A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) aponta, por intermédio da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), que 66,9% das famílias da capital estão endividadas e que 28,8% já estão inadimplentes. Já o de ICF (Intenção de Consumo das Famílias), da mesma entidade, mostra que os consumidores locais já reduziram suas apostas na estabilidade do emprego (-2,6%) e nas perspectivas profissionais (-1,7%)

“Todo mundo está voltado para um fim de semana sossegado, com seus familiares. Muita gente está indo para retiro. Mas, o comércio em si está devagar. Ninguém vê grande movimentação. Conversei com alguns lojistas, e eles me disseram que as vendas de produtos para a Páscoa estão razoáveis, mas que as dos outros estão muito ruins. Na Sexta-feira Santa, o varejo vai abrir, e ainda teremos o Sábado de Aleluia, com shoppings abertos também. Vamos ver se melhora”, sintetizou o presidente da ACA (Associação Comercial do Amazonas), Jorge de Souza Lima.

Margens e estoques

Os levantamentos de intenção de compras para a data, conduzidos pela CDL-Manaus e pelo Ifpeam apontaram que parte significativa dos consumidores pretende comprar nos supermercados e hipermercados. O superintendente da Amase (Associação Amazonense de Supermercados), Alexandre Zuqui, lembra que o mix de compras para a Páscoa não se restringe a chocolates, mas inclui também alimentos tradicionais para a época, como o bacalhau, além de incluir pescados regionais, como medida mais econômica. O dirigente, contudo, diz que as vendas “não têm sido tão agressivas” quanto era de esperar.

“Observamos também que os ovos de chocolate não têm sido tão procurados para esta data, sendo mais voltados para o público infantil. Estamos apostando em vendas melhores para o sábado, embora acredito que não será algo tão expressivo. Acredito que teremos um crescimento de 4% a 6%, mas não será para todos. Lojas maiores, que investiram mais em propaganda e marketing, por exemplo, talvez tenham desempenhos melhores do que as de menor porte”, ponderou.

Alexandre Zuqui considera “complicado” fazer uma comparação entre as Páscoas de 2022 e de 2021, já que o setor ainda estava ensaiando sua reabertura na época. O superintendente da Amase destaca ainda que a inflação impõe restrições às compras dos consumidores e corrói as margens de lucros das empresas, já que o aumento nas cadeias de produção não pode ser inteiramente repassado. Mas, salienta que o abastecimento das lojas está normalizado, já que o Estado conta com “estoques maiores” –em função dos entraves logísticos –e uma rede de distribuição “ampla” 

Modo de cautela

O presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, diz que as expectativas dos lojistas estavam com “viés de otimismo”, mas observa que os valores das compras relatados nas pesquisas diminuíram ante 2021. Ele ressalta que as recentes notícias nos frontes doméstico e internacional deixam os comerciantes em modo de cautela. A maior preocupação está na inflação, mas o dirigente destaca que as movimentações em “ano político”, assim como o impasse na guerra na Ucrânia, são variáveis que preocupam o setor, em função de seus impactos econômicos. 

“Todos os lojistas com quem falei estão indicando uma pequena queda na atividade. O cenário é volátil e as coisas podem mudar. Vivemos um momento em que o consumidor está mais contido, pois está preocupado em manter o emprego e a renda, além de estar muito endividado ou já em inadimplência. A Páscoa tem um grande apelo religioso e familiar. Mas, a população está reclamando que está com seus orçamentos comprometidos, e a festa tem foco em produtos não essenciais. Ainda estamos otimistas em relação ao crescimento, mas acredito que ele não vai ser maior do que 10%”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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