O Amazonas já recebeu pelo menos 44 notificações sobre ocorrências de rabdomiólise na região, a síndrome transmitida pelo consumo de peixes. São 34 casos em Itacoatiara, com uma morte; Silves (quatro), Manaus e Parintins (com dois cada), Caapiranga e Autazes (com um caso em cada).
Até ontem, dez pacientes ainda continuavam internados. E todos são do município de Itacoatiara. Os dados são da FVS-RCP (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto). Segundo o diretor-presidente da instituição, Cristiano Fernandes, está sendo reforçada a investigação epidemiológica dos casos no Estado.
“Todas as ocorrências notificadas podem estar associadas à ingestão de peixes. Ainda não há consenso no meio científico sobre a toxina que contamina os pescados”, disse Cristiano Fernandes. “A vigilância está se concentrando em detectar precocemente os casos e monitorar para que haja o manejo clínico adequado para os pacientes”, acrescentou o gestor.
Na madrugada de sábado (28), a auxiliar de serviços gerais Maria de Nazaré Monteiro, 51 anos, morreu com a doença. Foi a primeira morte registrada por rabdomiólise no Amazonas. “Ela gostava de ir à igreja. Vivia do trabalho para a igreja, da igreja para casa. Infelizmente, minha mãe não resistiu a essa doença”, lamentou o filho dela, o pedreiro Jovane Monteiro, 29 anos.
A coordenadora do CIEVS/FVS-RCP (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde), Liane Souza, informou que os pacientes internados estão clinicamente estáveis. “Todo o monitoramento periódico do estado de saúde e a atenção dada a eles estão sendo realizados sob o olhar da vigilância”, afirmou a técnica.
É a terceira vez que ocorre um surto de rabdomiólise no Amazonas, informa a FVS-RCP. O primeiro foi em 2008, com 27 ocorrências em Manaus e no Careiro.
O segundo aconteceu em 2015, com 74 casos registrados em Manaus, Itacoatiara, Itapiranga, Nova Olinda do Norte, Autazes e Urucurituba. E agora em 2021.
‘Nada de pânico’
O segmento de comercialização de pescado começa a sentir os impactos por causa da doença da ‘urina preta’, como é conhecida popularmente a infecção. Segundo comerciantes, os negócios tiveram um recuo de pelo menos 15% nos últimos dias desde o registro dos casos na região.
O infectologista Antônio Magela, da FMT (Fundação de Medicina Tropical), disse que não motivos para pânico. E nem indicação para a suspensão do consumo de peixes no Amazonas devido aos casos de rabdomiólise em investigação.
“O importante é entender que se formos comparar o nível de consumo de peixe com o número de casos, a gente vê que é uma relação mínima, porém, não menos preocupante. Qualquer situação que coloque em risco a saúde das pessoas, deve ser avaliada com cuidado, as pessoas devem ser tratadas da maneira mais adequada possível e temos que ter preocupação também com o aspecto econômico e nutricional”, disse o infectologista.
De acordo com a FVS-RCP, a rabdomiólise é uma síndrome clínico-laboratorial que decorre da lesão muscular com a liberação de substâncias intracelulares para a circulação sanguínea.
Ocorre normalmente em pessoas saudáveis, na sequência de traumatismos, atividade física excessiva, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas, infecções e ingestão de alimentos contaminados, que incluem o pescado.
O quadro clínico da doença pode incluir elevações assintomáticas das enzimas musculares séricas (creatinina-fosfoquinase – CPK.
A FVS-RCP é responsável pela Vigilância em Saúde do Amazonas. A instituição funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na avenida Torquato Tapajós, 4.010, Colônia Santo Antônio, Manaus. Os contatos telefônicos da FVS-RCP são (92) 3182-8550 e 3182-8551.
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