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Alta do diesel abre nova crise para o Amazonas

O reajuste do preço do diesel deve pressionar ainda mais os custos das empresas comerciais do Amazonas, em virtude de sua maior distância em relação aos fornecedores. Por esse motivo, o peso do frete na formação dos preços é mais acentuado no Estado, quando comparado a outras regiões brasileiras. Lideranças empresariais ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio apontam que o custo adicional deve ser repassado ao consumidor, com efeitos negativos na inflação e no PIB regionais. 

O aumento também é uma má notícia para o Polo Industrial de Manaus, que concentra quase que a totalidade de suas vendas fora da capital amazonense, e recebe a maior parte de seus insumos de fora. Especialmente diante do atual panorama, em que os indicadores macroeconômicos desfavoráveis se somam ao imbróglio jurídico ainda não pacificado dos decretos do IPI. Economistas sondados pela reportagem destacam, contudo, que os efeitos tendem a ser menos negativos para o PIM, do que para o comércio amazonense, em virtude das diferenças de escala logística e negociação. 

A majoração foi anunciada pela Petrobras na segunda (9), sendo confirmada no dia seguinte. O valor médio de venda para as distribuidoras passou de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro. Considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A, e 10% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da petroleira no preço ao consumidor passou de R$ 4,06, em média, para R$ 4,42 a cada litro vendido na bomba. 

Em comunicado à imprensa, a Petrobras disse estar seguindo “outros fornecedores de combustíveis” e “acompanhando os preços de mercado”. Lembrou também que o último reajuste ocorreu em 11 de março. A companhia explicou que o balanço global de diesel está impactado por uma redução da oferta frente à demanda. O país, por outro lado, importa 30% do diesel que consome e já estaria com suas refinarias operando “no limite”. 

Inflação regional

O presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas) e do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, ressalta que aumentos de combustíveis sempre são “desastrosos” para a região. “Principalmente do diesel, que impacta nos produtos consumidos aqui, porque praticamente tudo depende do frete. Devemos ter uma inflação regional acima da do país e há possibilidade de queda de vendas”, alertou.

Marcus Evangelista avalia que a produção do Polo Industrial de Manaus não deve ser tão afetada pelo encarecimento do diesel, já que sua produção é quase que inteiramente direcionada a outras praças. “Para a indústria, o aumento é diluído em uma grande quantidade embarcada de mercadorias. Já, no caso do comércio, a quantidade é bem menor, ficando mais suscetível ao aumento do frete”, comparou.

O consultor empresarial, conselheiro do Corecon-AM e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Júnior, concorda. “A indústria tem um poder de barganha muito maior, que o comércio não tem. Mas, o custo de vida em Manaus vai subir muito mais, e esse aumento de preços não entra nas pesquisas do IBGE e FGV. No caso dos manufaturados do PIM, em paralelo com essa questão do IPI, o maior impacto deve ficar no polo eletroeletrônico, com possível queda de produção”, conjecturou

“Momento complicado”

A indústria incentivada de Manaus considera que a alta do diesel é mais uma notícia ruim em uma quadra econômica já desfavorável. O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, lembra que o frete tem peso acentuado na composição do custo produtivo da indústria amazonense, e enfatiza que esse é um dos fatores que alicerçam a Zona Franca de Manaus. 

“A medida é especialmente preocupante, em razão do complexo momento que vivenciamos. A pressão sobre os preços não mostra sinais de arrefecimento e a inflação continua em tendência obsedante. Qualquer elevação nos preços dos combustíveis encarece nossa matriz de custo e prejudica a competitividade da indústria”, lamentou.

Na mesma linha, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, reforça que o preço do combustível está “bem alto” e que os últimos reajustes tiveram efeito direto na inflação. O dirigente também avalia que o novo aumento tende a piorar ainda mais a conjuntura econômica, com vendas e produção menores. 

“Esse reajuste encarece o custo final de tudo que a gente produz, que precisa chegar aos centros de distribuição. O frete aéreo aumentou demais, porque o querosene de aviação também subiu. O mesmo acontece com o diesel e isso vai chegar na ponta do consumidor, certamente. Já estamos em um momento complicado, por conta da inflação, e isso só vem a agravar ainda mais o quadro”, frisou. 

Mal necessário

As lideranças do comércio ressaltam que, embora prejudicial ao setor, o aumento era necessário. “É muito ruim para a gente, mas a Petrobras tem de fazer isso. Se não, vai faltar diesel no Brasil. Infelizmente, vai aumentar frete e produtos em geral. Se a mercadoria vem pelo modal rodoviário e, depois, por balsa, o preço vai para a lua. Mesmo nos navios, a situação é complicada. Fico entristecido porque tudo vai ficar mais caro”, desabafou o presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), Ralph Assayag.

O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, diz que não havia muito o que a Petrobras poderia fazer, mas ressalva que o governo federal pode tomar outras medidas dentro da “legalidade” e “civilidade econômica” para tornar o cenário mais palatável. O dirigente considera que a questão envolve duas facetas: uma política, e outra econômica.

“Estamos em um ano político, e o peso do combustível nos orçamentos familiares é muito significativo e tem repercussão muito pesada. Os fatores externos são muitos, como a guerra na Ucrânia e a retomada da Covid-19 na China, que paralisou o país asiático. A Petrobras precisa cumprir seu papel como empresa e, se fizer diferente disso, não se mantém. Agora, o governo é o principal acionista da companhia e poderia pegar boa parte do lucro que recebe para arrefecer os efeitos sobre a população”, finalizou.  

Boxe ou coordenada (Se tiver espaço e interessar): Refinarias no limite

De acordo com a Petrobras, os estoques globais de diesel estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos, impactando em um aumento global nos preços do combustível –e acima da valorização do petróleo. A petroleira acrescenta que a diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta e que as refinarias já estão operando próximo do seu nível máximo, considerando “condições adequadas de segurança e rentabilidade”.

Enfatizou também que seus valores “são apenas uma parcela dos preços que chegam ao consumidor final. “Para formação do preço na bomba ainda são adicionadas parcelas da mistura obrigatória de biodiesel, custos e margens de distribuição e revenda, e tributos que, no caso do diesel, atualmente limitam-se ao ICMS, imposto estadual, uma vez que os tributos federais PIS e Cofins tiveram suas alíquotas zeradas a partir de 11 de março até 31 de dezembro de 2022”, frisou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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