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Indústrias de Manaus diminuem vigor neste começo de ano

A produção industrial amazonense perdeu vigor em março e ficou praticamente estagnada. O Estado amargou queda acentuada, no entanto, na comparação com os dados do mesmo mês do ano passado. Segmentos que vinham avançando na escala de dois dígitos, como o de plásticos e de duas rodas, recuaram. Apenas bebidas e combustíveis fecharam no azul. O desempenho seguiu em paralelo com a piora dos indicadores econômicos e do abastecimento de insumos, e a crise aberta pelos decretos federais de IPI –embora as lideranças do PIM descartem a hipótese de influências neste sentido.

Em síntese, a produção industrial do Estado cresceu apenas 0,3%, na variação mensal de fevereiro, em desempenho bem abaixo do de fevereiro (+10%). O confronto com o mesmo mês de 2021 ficou negativo em 4,1%, em sentido inverso ao do levantamento anterior (+11,4%). O Amazonas praticamente empatou no trimestre (+3,4%), embora tenha avançado de forma mais substancial (+6,5%) no acumulado dos 12 meses. As respectivas médias nacionais foram +0,3%, -2,1%, -4,5% e +1,8%. É o que mostram os dados mais recentes da pesquisa mensal do IBGE para a atividade, em âmbito regional, divulgada nesta terça (10).

A média móvel trimestral ficou negativa em 2,5%. O Estado apresentou o pior desempenho nesse quesito, entre as 15 unidades federativas do país sondadas mensalmente pelo IBGE, ficando atrás apenas do Paraná (-2,1%) e de Goiás (-1,9%). Segundo o órgão de pesquisa, o resultado indica que a indústria amazonense terá mais dificuldades para crescer nos próximos meses.

A variação mensal da indústria do Amazonas empatou com a média nacional e foi a sétima melhor do país. São Paulo (+8,4%) e Ceará (+3,8%) tiveram os melhores números. Em contraste, Santa Catarina (-3,8%) e Pará (-3,3%) ficaram no rodapé de uma lista com seis dados negativos. A queda anual experimentada pelo Amazonas foi a terceira maior do Brasil, ficando atrás apenas das de Santa Catarina (-9,8%) e Pará (-7,2%). A expansão no trimestre, por outro lado, foi a sexta maior, em um rol protagonizado por Mato Grosso (+25,6%) e Ceará (-12,8%) nos extremos.

Bebidas e combustíveis

Na comparação com março de 2021, a indústria extrativa (óleo bruto de petróleo) caiu 3,6% –consolidando o recuo de 4,5%, em fevereiro. A indústria de transformação mergulhou mais fundo (-4,1%), comprometendo parte do crescimento anterior (+12,2%). Somente dois de seus nove segmentos investigados mensalmente pelo IBGE fecharam no azul. A lista se limitou a bebidas (+11,3%) e derivados de petróleo e combustíveis (gás natural, com +0,9%).

Sete divisões industriais do Amazonas amargaram quedas. Os piores números vieram dos subsetores de impressão e reprodução de gravações (DVDs e discos, com -80,3%); e de máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários, com -71,6%). Na sequência estão os produtos de borracha e material plástico (-16,8%); produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear, estruturas de ferro, com -16,7%); e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias, com -13,6%); equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (celulares, computadores e máquinas digitais, com -9,1%) e “outros equipamentos de transportes” (motocicletas e suas peças, com 1,9%).

O trimestre mostra um quadro semelhante para a indústria do Amazonas: apenas a indústria de transformação (+0,7%), e seus segmentos de “outros equipamentos de transporte” (+17,5%); bebidas (+9,3%); e borracha e material plástico (+7,3%) fecharam no azul. Na outra ponta estão a indústria extrativa (-3,1%) e os subsetores de impressão e reprodução de gravações (-63%); máquinas e equipamentos (-50,3%); produtos de metal (-13,1%); equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7%); máquinas aparelhos e materiais elétricos (-1,2%); e derivados de petróleo e combustíveis (-0,6%).

“Retomada demorada”

Em seu comentário para a reportagem do Jornal do Commercio, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinalou que a maioria das atividades industriais vem apresentando sucessivas quedas de produção, puxando para baixo o indicador geral do setor no Amazonas. O pesquisador prefere não entrar em detalhes sobre os possíveis motivos para os números, mas assinala que a perda de força da indústria amazonense já vem ocorrendo gradualmente em várias divisões industriais.

“Na comparação com o mesmo mês de 2021, atividades como impressão/reprodução, produtos de metal, equipamentos de informática e máquinas e equipamento; estão há três meses apresentando fortes quedas de produção. São vários os fatores que influenciam a redução de produção. O Acumulado ainda está positivo, mas pode a qualquer momento entrar no vermelho. Com a média móvel trimestral em queda, o processo de retomada de crescimento pode demorar um pouco”, alertou.

Em texto postado no site da Agência IBGE de Notícias, o gerente da pesquisa, Bernardo Almeida, ressaltou que a produção nacional teve “crescimento tímido” em março, em virtude da baixa massa de rendimento, da inflação elevada e do encarecimento das matérias-primas, que não permitiram o aumento do ritmo nas linhas de produção do país. “A principal influência positiva veio de São Paulo, que teve impacto especialmente dos veículos automotores, máquinas e equipamentos e outros produtos químicos”, acrescentou.

“Curva ascendente”

Em texto anteriormente divulgado pela assessoria de imprensa da Abraciclo, ao falar do desempenho de fevereiro, o presidente da entidade, Marcos Fermanian, assinalou que a produção e vendas de motocicletas seguiu ascendente no primeiro trimestre do ano, e que o problema estava mais no fornecimento de insumos, do que na demanda. “A tendência agora é manter o ritmo de produção e, com isso, atender aos consumidores que aguardam uma motocicleta nova”, declarou.

O dirigente ponderou, no entanto, que a entidade está acompanhando “atentamente” a conjuntura macroeconômica e seus efeitos no abastecimento e no desempenho das cadeias produtivas, incluindo as altas nas taxas de juros e no frete. “Essas variáveis podem afetar o poder de compra do consumidor e impactar a demanda por motocicletas”, ressalvou.

Insumos e inflação

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), e vice-presidente executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Antonio Silva, descartou eventuais influências dos decretos de redução das alíquotas de IPI no desempenho do setor registrado em março. O dirigente assinalou ainda que um possível reflexo negativo sobre a indústria incentivada de Manaus só seria sentido no segundo semestre, mas lembrou que a crise de abastecimento segue como principal dado negativo para a atividade.

“[O primeiro decreto] data de 25 de fevereiro, véspera de um feriado prolongado, e começou a vigorar efetivamente na segunda semana de março. As indústrias possuem um tempo de avaliação e decisão, e não há como desmobilizar toda uma operação em questão de dias. O problema no fornecimento de insumos e a contínua pressão sobre os preços são fatores mais representativos para essa inflexão negativa”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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